Para manter uma tradição de luta!


Todos que me conhecem politicamente sabem muito bem que apoio, por inúmeros motívos óbvios, a chapa "Terra em Transe" para o CACH. O seu nome remete a um filme de Glauber Rocha, assim como as imagens utilizadas. No entanto, condiz também um pouco com a realidade do próprio IFCH-Unicamp. Já não é mais segredo de ninguém que o nosso instituto vem se deteriorando fisica e intelectualmente. Mas no passado parecia exagero, até motivo de chacota por parte de alguns setores, quando dizíamos que o instituto estava sendo profudamente atacado pela terceirização e falta de professores e funcionários. Isso mudou na greve estudantil deste início de ano, quando os próprios professores tiveram que admitir que o IFCH está agonizando.

A falta de professores é apenas um aspecto pequeno, apesar de fundamental, da profunda crise deste instituto. Há também uma crise teórica e ideológica. Parece que não apenas o corpo docente vem envelhecendo e adoecendo, como também suas idéias. Em meio a mais profunda crise capitalista dos ultimos anos, poucas palavras foram ditas pela "intelectualidade" ifchiana.

A perseguição a um funcionário do Arquivo Edgar Leuenroth (AEL), ex-dirigente metalurgico das greves de 79 e 80, e que há muitos anos vem dedicando sua vida à Unicamp, assim como o descaso com a memória do movimento operário guardada neste arquivo, é outra expressão do caminho que vem sendo trilhado pelos dirigentes do IFCH.

Por isso não podemos ver o surgimento de uma chapa de direita, oportunistamente chamada de "outros CACHs virão", nesta eleição, como algo desconexo a todo este processo. A sua própria existencia é a materialização da "agonização" deste instituto.

O que posso dizer é que hoje, naquele auditório vermelho, entre os 100 estudantes ali presentes no debate entre as chapas, houve um rechaço da maioria em relaçao as propostas desta chapa de direita - um de seus membros, inclusive, é filiado ao PSDB. Isso mostra que não é apenas pelo discurso que se constrói uma nova tradição no movimento estudantil, mas sim na prática cotidiana destes ultimos anos.

http://chapaterraemtranse.blogspot.com/

Neorrealismo e Glauber?




Há um duplo objetivo na minha vontade por conhecer o neorrealismo italiano. O primeiro, de todo cinéfilo, é conhecer este movimento fundamental da história do cinema. O segundo, como anunciei num outro post, é trilhar as influências ao cinema latino-americano dos anos 1960. Neste sentido, não poderia deixar de escrever algumas percepções sobre isso em Glauber Rocha (o meu diretor brasileiro do momento), centralmente em Deus e o Diabo na Terra do Sol.

Duas características, comuns aos filmes italianos do pós-guerra, parecem estar presentes neste trabalho de Glauber. O Primeiro a destacar é a mudança da localização da câmera, tirando-a dos estúdios – e todo seu cenário pomposo e caro – e colocando-a na rua – junto ao povo “real”. Porém, Glauber não filmará no cenário urbano, como fizeram os italianos, mas no principal local de conflito e de representação das contradições do país: o Sertão. Aliás, Glauber não foi o único a usar o agreste nordestino como cenário para o Cinema Novo.

Outra característica do neorrealismo italiano: a utilização de não-atores para representar os personagens nos filmes, com a pretensão de criar um ambiente mais real. Glauber usa seu motorista para fazer o “cego” em Deus e o Diabo... Um personagem muito importante, diga-se de passagem, pois é quem guiará os demais – o vaqueiro e sua esposa e Antônio das Mortes (meu preferido, que merecerá um post a parte) – aos seus destinos. Porém, sempre os questiona sobre seus caminhos. Um cego como guia: a metáfora da alienação, tema presente no filme. Ao mesmo tempo, um personagem consciente dos desfechos daquelas ações.

Estas referências na obra de Glauber se mesclam com outras inúmeras influências. A liberdade que deu a Othon Bastos em sua atuação é um exemplo disso. Estudando naquela época o teatro brechtiano, Othon leva as técnicas deste teatrólogo alemão para Deus e o Diabo.... A principal referência a isso é o diálogo entre Corisco e Lampião feito num monólogo de seu personagem. Em muitos momentos era o ator quem conduzia a câmera, e não o seu contrário, e a partir do seu movimento o Sertão vai se revelando para nós.

É óbvio que as influências de Glauber provêem de muitas outras tradições e movimentos. Mas, pelo limite que tem um blog, e também do seu autor, não é minha pretensão enumerar todas. Mas uma é bastante evidente e não poderia deixar de registrar: a Nouvelle Vague. As referencias desta escola no diretor brasileiro são muitas: assim como o percurso da Nouvelle Vague teve início na crítica de cinema, Glauber era um jornalista crítico de cinema antes de começar a filmar; a valorização do intelectual: Glauber defende um cinema-autor, em que o diretor seja soberano e independente em sua criação; a revolução proporcionada pela câmera de 16mm: "uma câmera nas mãos e uma idéia na cabeça"; dentre outras que não me lembro agora – pois escrevo na madrugada, em mais uma de minhas insônias. Fica então este tema para outro post, numa outra insônia.

Ladrões de bicicletas



Ladrões de bicicletas
Vittorio de Sica
Itália, 1948

Fazia tempo que queria estudar o cinema italiano do pós-guerra. Minhas aspirações por entender o cinema latino-americano dos anos 60 sempre me remetiam a necessidade de assistir o cinema neorrealista italiano, citado inúmeras vezes por Glauber Rocha e Raymundo Gleyzer, as duas principais referencias do Cinema Novo brasileiro e argentino, como importante influencia em seus filmes. Assistir Ladrões de Bicicleta me fez entender o porquê.

Retratando uma Itália marcada pelo fascismo e pela derrota na segunda grande guerra, um operário desempregado vive a angústia de seu novo emprego escapar pelas mãos ao roubarem sua bicicleta no primeiro dia de trabalho. Começa então uma longa busca pelas ruas de Roma para manter o seu emprego. Ao passo que a procura acontece, o filme nos mostra a realidade social, econômica e cultural de uma Itália dos anos 1940. Contra um cinema hollywoodiano, vários cineastas procuraram produzir um cinema alternativo na Itália, em que as camadas populares se tornavam protagonistas. Foi um projeto estético, mas também político.

Ladrões de bicicleta é um clássico e uma referencia para todo cinéfilo.

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"Enquanto Roberto Rossellini é o grande mestre do neorrealismo italiano que surgiu em 1945, Vittorio De Sica é o pai de Ladrões de bicicletas, que se tornou um marco do movimento e, mesmo após tanto tempo, comove os mais diversos públicos. Uma das razões do sucesso está na mistura de neorrealismo com melodrama, em que a força dos atores ganha relevo na história e a trilha sonora conduz as emoções"
(Especial Bravo, "100 filmes essenciais da história do cinema", 3a edição)

O porquê da foto

A primeira foto escolhida para ocupar o lugar de destaque no Blog, acima dos posts e abaixo dos menus, tem um significado importante para mim no âmbito político, teórico e pessoal, e de certa forma sintetiza o objetivo deste Blog. Pode parecer uma simples e bonita foto de dois operários descansando em meio ao seu trabalho - um retrato de uma camada da sociedade moldada e embrutecida pelo labor. Mas, em se tratando de um recorte da realidade - nem mesmo podemos ver as expressões faciais destes homens e detectar seus estados emotivos -, sem saber a sua origem, fica difícil entende-la. Alguns poderiam se negar a percorrer este percurso, por preferir analisar a arte pela arte. Não compartilho desta idéia – apesar de que não acho que a arte necessite diretamente de uma explicação política e social sempre -, pois toda forma de arte, em qualquer época, é uma forma de representação social de seu tempo e meio.

Na foto, dois operários de uma fábrica localizada no norte da Patagônia, na província de Neuquén, Argentina. As roupas, as mãos, o ambiente e a sujeira de seus corpos poderiam nos fazer concluir que são dois operários comuns, iguais a tantos outros. Não são! Fazem parte de uma riquíssima experiência de construção de novas formas de relações sociais. São operários que ousaram levantar a cabeça e lutar contra as arbitrariedades da patronal, contra os antigos dirigentes sindicais que não lhes representavam, contra o estado e a justiça dos ricos. Quando Luigi Zanon resolveu demitir os mais de 300 trabalhadores e fechar a fábrica de cerâmica, estes ocuparam a empresa, e pela democracia direta resolveram dirigir suas próprias vidas. Sete anos depois, no dia 12 de agosto de 2009, a fábrica é expropriada e entregue definitivamente aos reais produtores da riqueza, os trabalhadores.

Eu a visitei em janeiro de 2005, numa rápida viagem pela Argentina. Já conhecia a sua história através de textos e vídeos, mas tomar contato direto com aqueles trabalhadores, conhecer o processo produtivo, participar de uma assembléia, foi um impacto enorme para mim. Pude comprovar o êxito desta experiência em todos os seus sentidos. Nunca havia encontrado dentro de uma fábrica, operários tão felizes com o seu trabalho. Compreendi, então, que ali não estavam construindo cerâmicas, mas um futuro.

(em processo de construção)

Recomendo: Debate sobre crise do mundo do trabalho

A crise e o futuro do trabalho
José Dari Krein, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho, organiza série de palestras sobre o tema na CPFL Cultura em Campinas

O tema “Reflexões sobre a crise e o futuro do trabalho” será abordado em novembro na cpfl cultura, em uma série de palestras que acontecerão às terças-feiras, com curadoria do doutor em economia social e do trabalho José Dari Krein, professor do Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do Centro de Estudo Sindicais e Economia do Trabalho e presidente da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho. As palestras serão realizadas nos dias 3, 17 e 24 de novembro, às 19h, na cpfl cultura em Campinas. “A finalidade da série é discutir os impactos das transformações na sociedade globalizada e da atual crise mundial sobre a esfera do trabalho e fazer uma reflexão sobre as perspectivas do trabalho no contexto atual, com ênfase no Brasil”, adianta o curador.

O trabalho vem passando por profundas transformações nas últimas décadas, oriundas, sobretudo, do processo de reorganização da ordem econômica com a globalização e com as expressivas inovações tecnológicas. São mudanças que contêm componentes estruturais, pois é necessário cada vez menos trabalho para uma produção cada vez maior de bens. Ao mesmo tempo, novas necessidades vão sendo criadas, especialmente na área de serviços. Em paralelo, vai se alterando o papel dos sindicatos, que necessitam responder aos desafios de um mundo do trabalho em transformação. Recentemente, acrescentam-se novos componentes: de um lado, a crise mundial faz aumentar dramaticamente o desemprego e fragilizou ainda mais o poder de negociação dos trabalhadores; de outro, a necessidade de considerar de forma mais consistente a sustentabilidade do modelo de desenvolvimento, com preservação do meio ambiente, requer uma redefinição dos padrões de consumo.

A cpfl cultura em Campinas fica na rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632 – Chácara Primavera. A programação tem entrada gratuita e por ordem de chegada. Os encontros poderão ser acompanhados ao vivo pelo site da CPFL Cultura. Mais informações pelo telefone (19) 3756-8000 (19) 3756-8000 ou no site www.cpflcultura.com.br.

Programação
3/11 – 19h
“O trabalho na sociedade contemporânea”

As perspectivas do trabalho em um capitalismo em transformação e suas implicações para o trabalho.

Palestrante:
Carlos Alonso Barbosa de Oliveira, professor do Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do CESIT – Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho.
Debatedores:
Davi Jose Nardy Antunes, professor da FACAMP.
Marcelo Weishaupt Proni, professor do Instituto de Economia da Unicamp.

10/11
Não haverá programação.

17/11 – 19h
“Perspectivas ocupacionais no capitalismo atual”

A tendência recente de reorganização da economia vai extinguindo e recriando ocupações, redefinindo as profissões com profundos impactos na forma de inserção dos indivíduos na sociedade e nas próprias possibilidades de organização social.

Palestrante:
Marcio Pochmann, presidente do IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
Debatedor:
Cláudio Leopoldo Salm, professor da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro.

24/11– 19h
“Crise atual, perspectivas do mercado e das relações de trabalho e os desafios do sindicalismo no Brasil”
Análise da natureza da crise e suas implicações no emprego, nas relações de trabalho, identificando quem são os perdedores e ganhadores do atual processo em curso.

Palestrante:
José Ricardo Barbosa Gonçalves, professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do CESIT – Centro de Estudo Sindicais e Economia do Trabalho.

Debatedores:
Clemente Ganz Lucio, diretor técnico do DIEESE - Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos.
Anselmo Santos, economista e pesquisador do CESIT – Centro de Estudo Sindicais e Economia do Trabalho.

Serviço:
Programação gratuita e por ordem de chegada. A cpfl cultura em Campinas fica na rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1632 – Chácara Primavera. Mais informações pelo telefone (19) 3756-8000 (19) 3756-8000 ou em nossa programação.

MIS: Semana Vladimir Carvalho

Semana Vladimir Carvalho
Um Cineasta do Documentário





3 a 7 de novembro de 2009

Locais:
Museu da Imagem e do Som de Campinas - Rua Regente Feijó, 859 - Centro
Centro de Convenções da Unicamp - Ginásio Multidisciplinar - Av. Érico Veríssimo - Cidade Universitária Zeferino Vaz

Programação gratuita

MIS

Dia 3, terça-feira
20h - A bolandeira e O país de São Saruê - debatedora: Shirly Ferreira de Souza

Dia 4, quarta-feira
20h - Vila Boa de Goiaz e O engenho de Zé Lins - debatedor: Vladimir Carvalho

Dia 5, quinta-feira
14h - A cinememória de Vladimir Carvalho
15h - Mesa redonda - O cinedocumentário de Vladimir Carvalho. Coordenação: Alberto Nasiasene. Debatedores: Vladimir Carvalho e Nuno César Pereira de Abreu
20h - A pedra da riqueza e O evangelho segundo Teotônio - debatedor: Alberto Nasiasene

Dia 6, sexta-feira
20h - Brasília segundo Feldman e Barra 68 - debatedor: Newton Marques Perón

Dia 7, sábado
16h - Conterrâneos velhos de guerra - debatedor: Orestes Toledo


Centro de Convenções da Unicamp - Ginásio Multidisciplinar

Dia 4, quarta-feira
12h - O país de São Saruê - debatedora: Shirly Ferreira de Souza

Dia 5, quinta-feira
12h - O engenho de Zé Lins - apresentação: Vladimir Carvalho

Dia 6, sexta-feira
12h - Barra 68

** Programação, sinopses e biografia de Vladimir Carvalho em anexo **

Curadoria
Alberto Nasiasene

Coordenação
Orestes Toledo

Produção
Batata e Luís Fernando Vasconcelos

Realização
MIS - Museu da Imagem e do Som de Campinas/ Prefeitura Municipal de Campinas
Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural/ Pró-Reitoria de Extensão da Unicamp

Apoio
Negativo - www.negativoonline.com
Hotel Jaguary

Contato
mis@campinas.sp.gov.br
(19) 3733 8800

Os autores clássicos da Sociologia



Nesta sessão do Blog postarei temas relacionados a Sociologia e afins.

A luta de Kraft-Terrabusi - Argentina



Na Argentina se passou uma importante luta operária nestes ultimos meses. Depois da transnacional Kraft Foods instalada na Argentina demitir mais de 160 trabalhadores, dentre eles delegados sindicais, membros da comissão interna e corpo de delegados, ou seja, representantes sindicais que possuem estabilidade segundo as leis trabalhistas, os mais de 2000 trabalhadores iniciaram uma dura luta contra a empresa, o estado e o governo dos Kichner.

Esta luta expressou uma nova retomada da luta de classes na Argentina. Lembrava, em alguns momentos, a luta desencadeada após a crise de 2001, quando o país entrou em falencia e milhões saíram as ruas para protestar. Naquele momento os protagonistas das ações eram a classe média e os desempregados. Agora, o conflito na Kraft expressa que a classe operária ocupada volta à cena política, com seus métodos históricos.

Cinema: A Partida (Okuribito), Yôjirô Takita, 2008.




"A partida", do diretor japonês Yôjirô Takita, é um filme belíssimo que retrata o infindável dilema existencial. Depois de perder seu emprego numa Sinfônica em Tóquio como violoncelista, retorna ao "interior", iniciando uma redescoberta de si próprio. É estranho pensar que podemos encontrar o sentido de nossas vidas em situações tão inusitadas como a própria morte. É uma metáfora fortíssima, que permeia todo o filme. Recomendo assisti-lo. As músicas são maravilhosas, acentuando o tom sensível de A Partida!