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ATIVIDADE SOBRE ETNOCENTRISMO

Atividade de sociologia para alunos dos 2os anos da ETECAP e Bento Quirino

Há uma outra proposta, publicada em (Socio)lizando.

Os alunos deverão ler o texto abaixo retirado da intenet e fazer a atividade proposta.

É uma visão do mundo onde o “nosso grupo” é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos próprios valores e nossas definições do que é existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. O etnocentrismo é a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e as razões pelos quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos, imagens e representações que fazemos da vida daqueles que são diferentes de nós. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, ou seja, um reflexo de nós. Depois, então, nos deparamos com um grupo diferente, o grupo do “outro”, que às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e ainda que diferente, também existe. O grupo do “outro” fica como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. E a sociedade do “eu” é a melhor, a superior. O “outro” é o “aquém ou o além, nunca o “igual” ao “eu”“. Privilegiamos ambos as funções estéticas, ornamentais, decorativas de objetos que, na cultura do “outro” desempenhavam funções que seriam principalmente técnicas. O etnocentrismo passa por um julgamento de valor de cultura do “outro” nos termos da cultura do grupo do “eu”. Um famoso cientista do início do século, Herman von lhering, justificava o extermínio dos índios Caianguangue por serem um empecilho ao desenvolvimento e à colonização das regiões do sertão que eles habitavam. Tanto no presente como no passado, tanto aqui como em vários lugares, a lógica do extermínio regulou infinitas vezes, as relações entre a chamada “civilização ocidental” e as sociedades tribais. Cada um traduz nos termos de sua própria cultura o significado dos objetos cujo sentido original é forjado na cultura do “outro”. Ao “outro” negamos aquele mínimo de autonomia necessária para falar de si mesmo. E por não poderem dizer algo de si mesmos, acabam representados pela ótica etnocêntrica e segundo as dinâmicas ideológicas de determinados momentos. Assim são as sutilezas, violências, persistências do que chamamos etnocentrismo. Os exemplos se multiplicam no cotidiano. A “indústria cultural” está freqüentemente fornecendo exemplos de etnocentrismo. Rotulamos e aplicamos estereótipos através dos quais nos guiamos para o confronto cotidiano com a diferença. Como as idéias etnocêntricas que temos sobre as “mulheres”, os “negros”, os “empregados”, os “paraíbas de obras”, os “colunáveis, entre outros”. Assim, como o “outro” é alguém calado, a quem não é permitido dizer de si mesmo, mera imagem sem voz, manipulado de acordo com desejos ideológicos, o índio é, para o livro didático, apenas uma forma vazia que empresta sentido no mundo dos brancos. Em outras palavras, o índio é “alugado” na História do Brasil para aparecer em diversos papéis. Como também ocorreu na colonização do Brasil por Portugal. Existem idéias que se contrapõem ao etnocentrismo. Uma das mais importantes é a da relativização. A Antropologia sempre soube conhecer a diferença, não como ameaça a ser destruída, mas como alternativa a ser preservada, seria uma grande contribuição ao patrimônio de esperanças da humanidade; O etnocentrismo se conjuga com a lógica do progresso, com a ideologia da conquista, com o desejo da riqueza, com a crença num estilo de vida que exclui a diferença. Mas, a “diferença” é generosa. Ela é o contraste e a possibilidade de escolha. O objetivo de qualquer sistema de produção é fazer subsistir os indivíduos que dele fazem parte. Esta imagem de uma sociedade esmagada por uma incapacidade de maior produção é que se encontra por trás da noção de economia de subsistência se traduz, neste sentido, em economia de sobrevivência ou, mais diretamente, de miséria. Aqui podemos Ter o exemplo do significado ao respeito aos dados etnográficos, dados obtidos pelo trabalho de campo, que podem transformar a teoria antropológica. Para uma sociedade – a nossa – que tem o objetivo da acumulação sistemática, uma outra – a deles -, que não pratica esta acumulação, seria necessariamente pobre e miserável. Perceber que as sociedades tribais não acumulavam, não porque não podem, mas porque não querem, porque fizeram uma opção diferente, é perceber o “outro” na sua autonomia. Quaisquer que sejam as possibilidades da antropologia ela, ao menos, livrou-se, definitivamente de confundir a singularidade cultural da sociedade do “eu” com todas as formas possíveis de existência do “outro”. Enfim, o etnocentrismo é exorcizado. O mundo no qual a Antropologia pense se torna complexo e relativo. Chegamos ao ponto de voltar dessa viagem. A ida ao “outro” se faz alternativa para o “eu”.

Cada grupo deverá refletir sobre o conteúdo do texto acima e escrever um pequeno texto relatando casos de nosso cotidiano em que o etnocentrismo se manifesta. Poderá usar recortes de jornais; exemplos cotidianos vividos pelos alunos dentro e fora da escola; etc. Os resultados serão apresentados para a sala de aula. Bom trabalho a todos!

INDICAÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DE SOCIOLOGIA

Muitos alunos e professores me solicitam referências de livros didáticos de Sociologia para aprofundarem os seus estudos ou seriem de auxiliar em suas aulas. Infelizmente, por ser uma disciplina na grade curricular, há poucos livros didáticos bons para serem adotados em sala de aula.

Num outro artigo analisarei os livros didáticos, pois os considero muito parecidos, além de deixarem de fora questões que considero centrais, como é o caso do debate sobre a questão negra no Brasil. Logo abaixo faço apenas alguns comentários.

Eu recomendo, para aqueles que podem comprar, o livro do Prof. Nelson Tomazi "Sociologia para o Ensino Médio" da editora Saraiva e o recente livro que saiu pela Fundação Getúlio Vargas e Editora do Brasil "Tempos modernos, tempos de sociologia" de Helena Bomeny e Bianca Freire-Medeiros. O primeiro foi o que melhor desenvolver os conteúdos programáticos sugeridos nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Nele não encontramos nenhuma problema conceitual, apesar do autor em alguns momentos cair numa linguagem acadêmica, distante do mundo dos nossos alunos. As propostas de atividade são boas e criativas. Já o segundo livro acaba cometendo um erro fundamental em sua proposta geral: o divide entre uma "sociologia geral" e uma "sociologia do Brasil". Isso ocorre porque os autores não conseguem dar conta de trabalhar todos os conteúdos fundamentais da Sociologia em torno do filme "Tempos Modernos" de Charles Chaplin. Apenas os "conceitos" gerais são trabalhados em torno do filme. Isso seria óbvio: como encaixar neste filme o conflito de Canudos, fundamental para compreender o Brasil, e por fora de qualquer conceito de modernidade formulado pelos clássicos?












Há também alternativas mais baratas e boas, como o livro público didático de Sociologia adotado na rede pública do Estado do Paraná.

Para os professores, há um livro com reflexões sobre o ensino de Sociologia publicado pela SBS.

Por fim, ainda para os professores, estou construindo uma página com indicações de artigos que se propõe a refletir o ensino de Sociologia em meu blog (Socio)lizando.

Pense no Haiti, no Haiiiitiiiiiiii... (com revolta)!


É revoltante a situação do Haiti. Não podemos ficar passivos frente a tal acontecimento por achar que foi catastrofe natural, fruto de um terremoto. Os grandes meios de comunicação e os governos culpam a natureza, no entanto, as modificações ocorridas na superfície não são fruto da natureza, mas das relações humanas. A intensidade da desgraça no Haiti é consequência da miséria deste país, fruto deste sistema capitalista. Um terremoto destas proporções no Japão não produziria tantas morte, já que possuem uma infra-estrutura ultra moderna nas construções para se prevenir dos terremotos, e uma rede de hospitais e de salvamento prontos para agir. Já no Haiti, o pouco de estrutura que tinham em Porto Príncipe parece ter sido destruído agora com o terremoto. Fala-se em 100 mil mortos ou até mais.
Nas imagens da TV, milhares sofrendo, desesperados em meio as ruas, enquanto que no prédio da ONU centenas de militares e ajudantes salvando os agentes do imperialismo, diga-se de passagem, brancos! E o exército brasileiro? Alguém ainda acha que ele foi para lá em missão de paz? Cadê a sua ajuda? O que contribuiu de positivo para esse país miserável, senão fazer um papel nefasto de subserviência ao imperialismo e treinar tropas para atuar nos morros e na periferia do Brasil? Lembrem-se, Haiti fica há alguns quilômetros da costa dos EUA, e nos anos 1990 milhares de haitianos fugiam em botes para este país. Por isso que toda declaração vinda dos chefes de Estado são hipócritas!

Toda solidariedade ao povo haitiano! Organizar uma ação internacional ao povo haitiano a partir dos sindicatos, locais de trabalho, organizações políticas de esquerda.


Para quem quiser ler notícias de um grupo de brasileiros, pesquisadores da
Unicamp, que estão no Haiti, entrem em: http://lacitadelle.wordpress.com/






Os filhos do Brasil não vão ao cinema.



Sem nada pra fazer no segundo dia de 2010 fui assistir a estréia do filme “Lula, o filho do Brasil” de Fábio Barreto. Uma porcaria! Esteticamente fraco, o diretor perde uma grande oportunidade de propor uma reflexão sobre o Brasil de Lula. O caminho escolhido para a narrativa não é tão ruim, – e nisso confesso que o diretor me surpreendeu, pois esperava uma história concentrada nas greves dos anos 1970 e na constituição do mito “Lula” - pois, ao reconstituir a vida de Luis Inácio da Silva, do seu nascimento no interior nordestino ao líder sindical das greves do ABC paulista, o filme mostrou parcialmente o percurso traçado por tantas vidas serverinas deste país enorme nas extensões e nas contradições. Muitas são as imagens: o moderno que caminha e cresce diante das mazelas do arcaico; o tempo vagaroso do rural sendo substituído pelas engrenagens e o concreto da cidade. Um país que soube dialeticamente se industrializar e crescer sem romper radicalmente com as estruturas mais reacionárias do seu passado colonial. Se o personagem principal fosse o Brasil o filme teria sido muito mais interessante.


O diretor poderia ter problematizando estas questões em seu filme, transformando a figura de Lula, em mero ponto de partida para uma reflexão mais profunda, com uma estética que nos remetesse aos projetos de Glauber Rocha. Mas Barreto preferiu a estética global, o senso-comum e o cinema comercial. Em ultima instância, seu filme não deixa de ser uma forma de reafirmar mais uma vez o “mito” Lula, algo que muitos outros diretores e autores já fizeram no passado com muito mais sofisticação.


Ao chegar ao cinema, fui surpreendido por algumas coisas. A primeira delas foi o próprio público. Tentei chegar bem cedo, pois minha lógica é que as entradas logo se esgotariam. Pensei: se o Lula tem a incrível marca de 83% de aprovação é óbvio que um filme sobre ele será uma grande sensação. A fila estava realmente enorme, porém as pessoas ali estavam preocupadas em assistir “Avatar”, a nova sensação de efeitos especiais de James Cameron – uma produção que chegou a marca dos 500 milhões de dólares. A minha surpresa deveu-se a um erro de análise do público e do local.


A segunda surpresa veio quando entrei na sala: quase não havia jovens. A absoluta maioria do público era de pessoas acima dos 40 anos de idade. Poderíamos pensar que novamente o “Avatar” explicaria - pois os velhos não se interessam por histórias de ET’s azuis? O fato é que tinha poucos jovens. Neste caso, há que esperar e ver como serão as próximas sessões, mas em minha opinião a questão é que as novas gerações não se interessam pela história de Lula, pois quando adquiriram alguma consciência política era Lula e o PT quem governava o país com sua política conservadora, distante de qualquer prática e programa de esquerda. Esta é a primeira geração que não apostou, em nenhum momento de sua vida, em Lula ou no PT como projeto de esquerda para o Brasil. Por quê então se interessar pela história do presidente Lula?


O meu ultimo grande erro, talvez o maior deles, foi achar que ali naquele espaço estariam uma fração dos 83% que apóiam o presidente. Sua aprovação, apesar de alta mesmo na pequena burguesia, é qualitativamente diferente do apoio que recebe dos milhões de explorados e famintos, homens em mulheres de vida sofrida, que não tem dinheiro para poder pagar a entrada do cinema (nem mesmo possuem um cinema em suas cidades). Estes, desgraçadamente, assistirão ao filme quando ele chegar aos camelôs ou for exibido pela Globo. E se emocionarão com a história do jovem pernambucano que vira sindicalista, assim como se emocionaram com o filme sobre os filhos de Francisco que viram astros do sertanejo.


Enquanto o mito de Lula continua a ser reproduzido, os filhos do Brasil continuam a sofrer com as enchentes, a exploração, as demissões, a precarização do trabalho, a miséria, a seca... O Brasil dos contrastes continua seguindo seu percurso para a ilusão do país potência. Precisamos de um novo filme que conte a história dos milhões de filhos do Brasil sem os mitos sindicalistas, populistas, messiânicos... Uma nova geração que, sonhadora da revolução, coloque abaixo todos os mitos! Eu escolho estar com estes!