A Democracia Corinthiana e a transição "democrática".

No dia 09 de dezembro, foi lançado na internet o documentário "Ser campeão é um detalhe: Democracia Corinthiana", curta-metragem produzido pela DNA Filmes e pelo Instituto de Artes da UNICAMP. Construído a partir de entrevistas com os jogadores, a equipe técnica e a diretoria da época (início dos anos 1980), além das opinões de Juca Kfouri e de historiadores, é um ótimo vídeo para quem gosta de futebol e quer conhecer um pouco mais deste momento histórico do pós-78. O contexto é singular: a Ditadura Militar caminhava para o seu fim diante de um amplo e massivo movimento popular por democracia; as greves dos metalurgicos do ABC já tinham incendiado o movimento operário; o movimento estudantil se reorganizava; o PT e a CUT tinham sido fundados... Mas, por outro lado, também havia forte repressão do regime militar a estes movimentos e setores dentro do regime contrários a reabertura política - exemplo, o atentado frustrado no Riocentro em 1981. Imperava uma tensão sobre o futuro!

Era um momento de crise em todas as esferas da sociedade brasileira, e o futebol não estaria alheio a isso. Mas é uma pena que esta experiência corinthiana não tenha vingado. Pelo contrário! Também no futebol a reação neoliberal fez escola. Na segunda metade dos anos 1980 surgiu o "Clubo dos 13" e com ele times/empresas voltadas para ganhar títulos, vender jogadores e ter grandes somas de lucros. Dá a impressão que a experiência ocorrida no Corinthians com a "Democracia Corinthiana" pode ser uma caricatura em miniatura do que ocorreu no país com o processo de redemocratização: o movimento foi forte, questionou as estruturas, teve relativo sucesso, mas de longe conseguiu abalar as reais estruturas de dominação. Os reacionários continuaram no poder, agora com uma nova roupagem!


Uma indicação bibliográfica sobre o tema:
Democracia corintiana Subtítulo: a utopia em jogo de Sócrates e Ricardo Gozzi
Editora Boitempo.

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