150 merendeiras terceirizadas tomaram as ruas de Campinas


150 merendeiras terceirizadas tomaram as ruas de Campinas

por Rita Frau e Francisco Pontes, professores da rede estadual, militantes da Liga Estratégia Revolucionária e da Corrente Professores Pela Base. Publicado no site da Ler-qi.

Nessa última sexta, 13 de janeiro, cerca de 150 merendeiras terceirizadas das creches e escolas municipais, estaduais e Unicamp tomaram as ruas do centro de Campinas junto a seus filhos e chamaram a atenção de quem passava com um forte ato em protesto pelo pagamento de seus salários atrasados.

A EB Alimentos é a cara da terceirização no país: a empresa esteve envolvida nos casos de corrupção da prefeitura (havia licitações em que uma caixa de ovo custava 72 reais), contratou irregularmente trabalhadoras durante todos esses anos, e veio atrasando os salários em outras ocasiões, enfrentando-se com a indignação das trabalhadoras e trabalhadores do restaurante da Unicamp no ano passado http://www.ler-qi.org/spip.php?article3133 e nesse começo de ano, assim como em Taubaté http://www.vnews.com.br/noticia.php?id=112045.

As trabalhadoras da EB mostraram que as terceirizadas não se calarão: depois de termos visto várias mobilizações de trabalhadores pelo país afora no ano de 2011, com destaque para lutas importantes de terceirizados como Jirau, USP e também em Campinas, essa já é a quarta mobilização de terceirizados em Campinas nesse começo de ano, somando-se à luta dos lixeiros, trabalhadores da manutenção urbana e terceirizados da Unicamp. As condições precárias do trabalho terceirizado que permitem os altos lucros dos empresários no Brasil vem sendo questionada nessas greves, e a luta dos trabalhadores deverá ser um fator importante nesse ano eleitoral em meio a crise política da prefeitura após a queda de 2 prefeitos em alguns meses.

As merendeiras com grande revolta e disposição de luta marcaram a concentração na porta do sindicato SINTERCAMP (Sindicato dos Trabalhadores em Refeições de Campinas e Região), sindicato que se mostrou traidor, que ao ser procurado pelas terceirizadas disse apenas para esperarem uma resposta da empresa. Sem festas no fim de ano, com contas atrasadas, filhos doentes, sem água e comida no ato para se alimentarem ou para dar às crianças presentes, com companheiras tendo ataque epilético em meio à manifestação, o que os burocratas pediam era que voltassem para casa com a cabeça baixa.

Mas as merendeiras não se intimidaram com esse aliado dos patrões da EB e perceberam sua própria força: protestaram na porta do sindicato pelego e seguiram de cabeça erguida pelas ruas do centro até o escritório da empresa EB, sediado na Rua Conceição, paralisando trânsito e cantando palavras de ordem. As terceirizadas estão sem receber seus salários desde dezembro, não receberam a cesta básica, parte das férias e receberam somente em janeiro a parcela do 13º. São 450 trabalhadoras contratadas pela EB que trabalham nas creches e escolas municipais e estaduais que se encontram nessa absurda situação. Os representantes da EB fugiram do escritório ao perceber a presença das trabalhadoras, que seguiram para a prefeitura exigindo serem recebidas por representantes do CEASA (Centrais de Abastecimento de Campinas), departamento da prefeitura que contrata a empresa EB Alimentação Escolar Ltda. É importante dizer que na prefeitura, as trabalhadoras avistaram um infiltrado em seu ato, provavelmente da EB ou do Sindicato, e que além da foto tirada pelo Jornal Palavra Operária do sujeito, as trabalhadoras mostraram como a classe operária deve se defender desse tipo de ataque: cerca de 15 trabalhadoras correram atrás do infiltrado, que se escondeu em um ônibus que foi cercado e escrachado pelas trabalhadoras que somente não lincharam pois o motorista fugiu com o veículo.

Após longa espera, em que a única coisa que aparecia era um maior efetivo de guardas municipais, as trabalhadoras foram recebidas pela prefeitura, que prometeu recontratá-las por uma nova terceirizada caso o pagamento não fosse efetivado, algo que não ocorreu até o fechamento dessa nota.

A prefeitura de Campinas e o governo do estado de São Paulo firmaram um acordo em que, no caso das escolas estaduais, a prefeitura terceiriza as merendeiras e o estado garante a merenda, e ambos “lavam suas mãos” pelas péssimas condições de trabalho e instabilidade. Muitas dessas mulheres passaram o natal sem a cesta básica, sem dinheiro para o transporte, para alimentar suas famílias e pagar as contas! Deixamos claro a todos que a responsabilidade por essa situação é do governo municipal Serafim, do governo estadual de Alckmin e do governo de Dilma, que mantém e aprofunda a terceirização nesse país.

Enquanto a grande mídia segue enganando o povo ao dizer que tudo vai bem e que o Brasil é a 6ª potência mundial, que Campinas é uma cidade de oportunidades, nós do Palavra Operária estivemos ao lado dessas lutadoras e seguiremos dizendo as reais condições de vida dos trabalhadores no capitalismo, em que vereadores recebem absurdos aumentos de 10 mil reais em seus salários, enquanto os trabalhadores e o povo seguem sofrendo com as enchentes sem moradia digna, com salários atrasados, sem estabilidade com a terceirização, com o aumento das passagem. A realidade dessas trabalhadoras é a mesma de milhares desse país que sofrem com as enchentes em Minas e no Rio, que lutam contra a especulação imobiliária como os moradores do Pinheirinho em São José dos Campos, que lutam contra condições semi-escravas de trabalho como os trabalhadores de Jirau, do Maracanã e da USP.

O trabalho das merendeiras é fundamental para o funcionamento das escolas, elas são responsáveis pela alimentação de milhares de estudantes, e na maioria das escolas estão submetidas a uma exaustiva rotina. Por isso é fundamental que defendamos seus direitos básicos como o pagamento dos salários, boas condições de trabalho, e a efetivação dessas trabalhadoras sem concurso público já que provaram no cotidiano de seus trabalhos, em alguns casos há mais de 10 anos, que são competentes para cumprir essas funções.
É fundamental que os demais funcionários, professores, alunos e familiares apóiem essa importante luta em cada escola. Estendemos também esse chamado às organizações de esquerda, os sindicatos, entidades estudantis, e o conjunto de ativistas e lutadores a apoiar essa luta.

Nós da Liga Estratégia Revolucionária e da corrente “Professores Pela Base” saudamos a energia e disposição de todas as merendeiras demonstrada sexta-feira e colocamos a disposição todas as nossas forças para que essa mobilização chegue à vitória. É preciso avançar com a organização, superando a burocracia que dirige o sindicato e está do lado da empresa, confiando em suas próprias forças as merendeiras podem vencer!

 Todo apoio a luta das merendeiras terceirizadas de Campinas!
 Pelo pagamento imediato dos salários atrasados!
 Pela efetivação sem concurso público de todas as merendeiras! Estabilidade já!


Depoimentos das merendeiras e familiares

“Eu apoio porque esta situação é uma vergonha. Elas trabalharam o ano inteiro, muitas pegam dois ônibus para trabalhar. Elas trabalharam o ano todo e chega no final do ano tem que desmarcar o natal, passar por essa vergonha, porque não receberam o salário. Acho que tem que apoiar porque o trabalho delas é muito importante para a escola”.

(A., filho e irmão de merendeiras terceirizadas, aluno da E.E.Dom Barreto)

“Quemos nosso direito, nosso dinheiro, nosso vale-transporte. Se não pagarem o que nos devem nós vamo parar a escola, vamo pra greve”

(L, trabalhadora de creche municipal)

“Meu nome é M, sou volante(trabalhadora rotativa) da EB, meu filho tem quatro anos e tem pressão alta, e essa merda não paga a gente. Queremos receber!”

“ Nosso 13º era pra receber dia 20, e caiu só agora dia 1º , e não recebemos as férias e o salário que não caiu. A gente trabalha doente pra não deixar as crianças sem merenda, e agora fica sem receber? Isso não é justo né. Nós temos o nosso compromisso e eles tem que ter o deles, por isso que a gente tá aqui. Chega final de ano, a gente conta com esse dinheiro, e não recebe?”

(trabalhadora de escola municipal)

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