Estupro no BBB e machismo no Brasil


O caso de estupro ocorrido no BBB12 abriu um debate em todo país, principalmente nas redes sociais, sobre a questão da opressão à mulher. São em momentos como este que ficam escancarados o profundo machismo que permeia a sociedade brasileira.

No meu Facebook, indignado com os comentário, postei a seguinte frase:

É nojento ver gente postando/compartilhando piadas sobre o estupro ocorrido no BBB. Reproduzem, conscientes ou não, a tese machista de que a mulher é a culpada (ficou bêbada, provocou, usou poucas roupas, etc.) pela opressão e a violência que sofrem cotidianamente. Ao invés de reforçar o discurso do opressor; ao invés de ajudar a Globo e Bial se safarem de sua ridícula manobra, tentando omitir o que aconteceu; TODO MUNDO deveria se indignar e reforçar a campanha contra a violência à mulher. Mais, deveria refletir que nesse tipo de programa o estupro não deveria surpreender, já que é uma apologia ao fetichismo do corpo.

Para ajudar ao debate, indico o texto de Clarisse Menezes e Adriano Favarin, "Big Brother Brasil 2012: estupro de mulheres é sinônimo de 'amor' para Rede Globo de televisão", postado no blog da Casa de Estudos e Pesquisa Hermínio Sacchetta.

150 merendeiras terceirizadas tomaram as ruas de Campinas


150 merendeiras terceirizadas tomaram as ruas de Campinas

por Rita Frau e Francisco Pontes, professores da rede estadual, militantes da Liga Estratégia Revolucionária e da Corrente Professores Pela Base. Publicado no site da Ler-qi.

Nessa última sexta, 13 de janeiro, cerca de 150 merendeiras terceirizadas das creches e escolas municipais, estaduais e Unicamp tomaram as ruas do centro de Campinas junto a seus filhos e chamaram a atenção de quem passava com um forte ato em protesto pelo pagamento de seus salários atrasados.

A EB Alimentos é a cara da terceirização no país: a empresa esteve envolvida nos casos de corrupção da prefeitura (havia licitações em que uma caixa de ovo custava 72 reais), contratou irregularmente trabalhadoras durante todos esses anos, e veio atrasando os salários em outras ocasiões, enfrentando-se com a indignação das trabalhadoras e trabalhadores do restaurante da Unicamp no ano passado http://www.ler-qi.org/spip.php?article3133 e nesse começo de ano, assim como em Taubaté http://www.vnews.com.br/noticia.php?id=112045.

As trabalhadoras da EB mostraram que as terceirizadas não se calarão: depois de termos visto várias mobilizações de trabalhadores pelo país afora no ano de 2011, com destaque para lutas importantes de terceirizados como Jirau, USP e também em Campinas, essa já é a quarta mobilização de terceirizados em Campinas nesse começo de ano, somando-se à luta dos lixeiros, trabalhadores da manutenção urbana e terceirizados da Unicamp. As condições precárias do trabalho terceirizado que permitem os altos lucros dos empresários no Brasil vem sendo questionada nessas greves, e a luta dos trabalhadores deverá ser um fator importante nesse ano eleitoral em meio a crise política da prefeitura após a queda de 2 prefeitos em alguns meses.

As merendeiras com grande revolta e disposição de luta marcaram a concentração na porta do sindicato SINTERCAMP (Sindicato dos Trabalhadores em Refeições de Campinas e Região), sindicato que se mostrou traidor, que ao ser procurado pelas terceirizadas disse apenas para esperarem uma resposta da empresa. Sem festas no fim de ano, com contas atrasadas, filhos doentes, sem água e comida no ato para se alimentarem ou para dar às crianças presentes, com companheiras tendo ataque epilético em meio à manifestação, o que os burocratas pediam era que voltassem para casa com a cabeça baixa.

Mas as merendeiras não se intimidaram com esse aliado dos patrões da EB e perceberam sua própria força: protestaram na porta do sindicato pelego e seguiram de cabeça erguida pelas ruas do centro até o escritório da empresa EB, sediado na Rua Conceição, paralisando trânsito e cantando palavras de ordem. As terceirizadas estão sem receber seus salários desde dezembro, não receberam a cesta básica, parte das férias e receberam somente em janeiro a parcela do 13º. São 450 trabalhadoras contratadas pela EB que trabalham nas creches e escolas municipais e estaduais que se encontram nessa absurda situação. Os representantes da EB fugiram do escritório ao perceber a presença das trabalhadoras, que seguiram para a prefeitura exigindo serem recebidas por representantes do CEASA (Centrais de Abastecimento de Campinas), departamento da prefeitura que contrata a empresa EB Alimentação Escolar Ltda. É importante dizer que na prefeitura, as trabalhadoras avistaram um infiltrado em seu ato, provavelmente da EB ou do Sindicato, e que além da foto tirada pelo Jornal Palavra Operária do sujeito, as trabalhadoras mostraram como a classe operária deve se defender desse tipo de ataque: cerca de 15 trabalhadoras correram atrás do infiltrado, que se escondeu em um ônibus que foi cercado e escrachado pelas trabalhadoras que somente não lincharam pois o motorista fugiu com o veículo.

Após longa espera, em que a única coisa que aparecia era um maior efetivo de guardas municipais, as trabalhadoras foram recebidas pela prefeitura, que prometeu recontratá-las por uma nova terceirizada caso o pagamento não fosse efetivado, algo que não ocorreu até o fechamento dessa nota.

A prefeitura de Campinas e o governo do estado de São Paulo firmaram um acordo em que, no caso das escolas estaduais, a prefeitura terceiriza as merendeiras e o estado garante a merenda, e ambos “lavam suas mãos” pelas péssimas condições de trabalho e instabilidade. Muitas dessas mulheres passaram o natal sem a cesta básica, sem dinheiro para o transporte, para alimentar suas famílias e pagar as contas! Deixamos claro a todos que a responsabilidade por essa situação é do governo municipal Serafim, do governo estadual de Alckmin e do governo de Dilma, que mantém e aprofunda a terceirização nesse país.

Enquanto a grande mídia segue enganando o povo ao dizer que tudo vai bem e que o Brasil é a 6ª potência mundial, que Campinas é uma cidade de oportunidades, nós do Palavra Operária estivemos ao lado dessas lutadoras e seguiremos dizendo as reais condições de vida dos trabalhadores no capitalismo, em que vereadores recebem absurdos aumentos de 10 mil reais em seus salários, enquanto os trabalhadores e o povo seguem sofrendo com as enchentes sem moradia digna, com salários atrasados, sem estabilidade com a terceirização, com o aumento das passagem. A realidade dessas trabalhadoras é a mesma de milhares desse país que sofrem com as enchentes em Minas e no Rio, que lutam contra a especulação imobiliária como os moradores do Pinheirinho em São José dos Campos, que lutam contra condições semi-escravas de trabalho como os trabalhadores de Jirau, do Maracanã e da USP.

O trabalho das merendeiras é fundamental para o funcionamento das escolas, elas são responsáveis pela alimentação de milhares de estudantes, e na maioria das escolas estão submetidas a uma exaustiva rotina. Por isso é fundamental que defendamos seus direitos básicos como o pagamento dos salários, boas condições de trabalho, e a efetivação dessas trabalhadoras sem concurso público já que provaram no cotidiano de seus trabalhos, em alguns casos há mais de 10 anos, que são competentes para cumprir essas funções.
É fundamental que os demais funcionários, professores, alunos e familiares apóiem essa importante luta em cada escola. Estendemos também esse chamado às organizações de esquerda, os sindicatos, entidades estudantis, e o conjunto de ativistas e lutadores a apoiar essa luta.

Nós da Liga Estratégia Revolucionária e da corrente “Professores Pela Base” saudamos a energia e disposição de todas as merendeiras demonstrada sexta-feira e colocamos a disposição todas as nossas forças para que essa mobilização chegue à vitória. É preciso avançar com a organização, superando a burocracia que dirige o sindicato e está do lado da empresa, confiando em suas próprias forças as merendeiras podem vencer!

 Todo apoio a luta das merendeiras terceirizadas de Campinas!
 Pelo pagamento imediato dos salários atrasados!
 Pela efetivação sem concurso público de todas as merendeiras! Estabilidade já!


Depoimentos das merendeiras e familiares

“Eu apoio porque esta situação é uma vergonha. Elas trabalharam o ano inteiro, muitas pegam dois ônibus para trabalhar. Elas trabalharam o ano todo e chega no final do ano tem que desmarcar o natal, passar por essa vergonha, porque não receberam o salário. Acho que tem que apoiar porque o trabalho delas é muito importante para a escola”.

(A., filho e irmão de merendeiras terceirizadas, aluno da E.E.Dom Barreto)

“Quemos nosso direito, nosso dinheiro, nosso vale-transporte. Se não pagarem o que nos devem nós vamo parar a escola, vamo pra greve”

(L, trabalhadora de creche municipal)

“Meu nome é M, sou volante(trabalhadora rotativa) da EB, meu filho tem quatro anos e tem pressão alta, e essa merda não paga a gente. Queremos receber!”

“ Nosso 13º era pra receber dia 20, e caiu só agora dia 1º , e não recebemos as férias e o salário que não caiu. A gente trabalha doente pra não deixar as crianças sem merenda, e agora fica sem receber? Isso não é justo né. Nós temos o nosso compromisso e eles tem que ter o deles, por isso que a gente tá aqui. Chega final de ano, a gente conta com esse dinheiro, e não recebe?”

(trabalhadora de escola municipal)

Relato de Violência Policial em Barão Geraldo

Publico esse corajoso relato de um estudante de pós-graduação da Unicamp sobre os abusos cometidos pela PM em Barão Geraldo, Campinas (região onde está localizada a Unicamp). Se a polícia faz isso numa região majoritariamente de estudantes e classe média, imaginem o que esta instituição repressora e reacionária faz na periferia, nos morros e nas favelas. Fica aqui aberto o debate acerca do papel social da Polícia em nossa sociedade a partir deste relato e, neste sentido, recomendo o excelente artigo "Quem precisa de polícia" de Andre Augusto e Iuri Tonelo publicado no blog Casa de Estudos e Pesquisa Hermínio Sacchetta.

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Caros leitores, começo o ano com um relato que recebi de um amigo meu. Quis abrir uma exceção e publicar o este texto pois entendo que uma sociedade democrática é uma sociedade que, sobretudo, cobra seus direitos e fiscaliza as autoridades. Se estas ações são vistas como ameaças, é porque estamos longe da democracia e da civilidade.
RELATO SOBRE VIOLÊNCIA POLICIAL EM CAMPINAS
Por HENRIQUE PEREIRA MONTEIRO
03 de janeiro de 2012
"Ao longo do ano passado, o bairro em que moro no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, esteve sob presença constante da Polícia Militar. Não demorou para eu e minha companheira Georgia Sarris começarmos a presenciar formas de abuso de autoridade, como abordagens humilhantes de adolescentes. Moramos perto de uma praça que é um dos pontos centrais de tais ações, cujo viés racial e de classe é conhecido. A repetição dos casos começou a nos preocupar. Com o intuito de mostrar a presença de moradores que não se conformariam com abusos, fui até os policiais durante uma batida no final de agosto.
Apresentei-me educadamente, perguntei do que se tratava e disse que ia permanecer no local para verificar se tudo iria transcorrer tranquilamente. Tal atitude, a de um simples cidadão comum observando os procedimentos de um agente público, algo que deveria ser banal em qualquer regime democrático, gerou imediatamente um turbilhão inacreditável de agressividade. Foi o bastante para que eu fosse intimidado de várias formas ao longo de mais de duas horas, com ameaças de prisão (ilegal) por não portar documento de identidade, por desacato, entre outros exemplos. Deixei claro que estava disposto a denunciar abusos e fiz críticas à estrutura autoritária da PM, mas sempre tratei os policiais da forma mais respeitosa possível. Entretanto, a questão não era de mais ou menos polidez. O problema, na verdade, é que, ao questionar diretamente a PM, atravessei uma fronteira social muito precisa: assim como os jovens pobres que frequentam (ou tentam frequentar) as praças de Barão Geraldo, eu já havia deixado de ser "cidadão" e me tornado um inimigo.
Depois disso, começou um processo de intimidação pessoal discreta, mas clara. Viaturas passando muito vagarosamente na minha porta, em frente à minha mesa no restaurante, faroletes na minha janela à noite, policiais me encarando em vários lugares do bairro etc. Houve outra batida, em frente à minha casa, que era nitidamente uma provocação, com um policial de braços cruzados, peito estufado, pernas abertas bem diante do meu portão. É claro que não fui lá.
No dia 29 de dezembro passado, nova batida na praça, desta vez envolvendo um vizinho. Não pude deixar de ir até o local, inclusive para apoiar minha vizinha, companheira de um dos rapazes detidos, que observava à distância. Quando os policiais disseram que iriam levá-los, nós nos aproximamos. Comecei a fazer as perguntas básicas: "Para onde serão levados? Sob qual acusação?" De novo, fui cercado por vários policiais e intimidado de forma truculenta. Provocações variadas se seguiram até que um dos policiais forçou a minha prisão, completamente arbitrária, por "desacato à autoridade". Mesmo depois, provocações e ameaças não pararam.
O interesse pessoal que tenho em divulgar esta história - preservar a minha segurança e a de minha companheira — já aponta também o seu evidente interesse público. A violência que sofri - até agora - é ínfima para os padrões de ação da Polícia Militar do Estado de São Paulo, como sabem os jovens das periferias, os militantes de movimentos sociais, os ativistas de direitos humanos. No entanto, ela é da mesma natureza e também serve como documento, ainda que em escala reduzida, de processos sociais que nos afetam a todos e devem ser combatidos. Quando se trata da higienização social das cidades, da criminalização do protesto, da expansão do autoritarismo e da policialização generalizada das relações sociais, nenhuma "escala" é pequena o bastante para ser desprezada."
HENRIQUE PEREIRA MONTEIRO
Professor, Doutorando em Filosofia pela FFLCH-USP.

Vídeo denunciando trabalho escravo em Campinas

Dando continuidade ao debate sobre trabalho ultra-precário e o trabalho escravo no Brasil, publico um vídeo-reportagem que postaram no Comentários do artigo "Desumanas condições na moradia operária da obra do Santander" que publiquei neste Blog no dia 29 de dezembro de 2011. O vídeo foi produzido pela "Repórter Brasil" (ONG), que há alguns anos vem denunciando o trabalho escravo no campo e na cidade, e pela jornalista Bianca Pyl.


É necessário que o cerco sanitário feito pela grande mídia sobre esse tema seja rompido através da propagação de matérias como essas pelas redes sociais, blogs e mídias independentes. É importante que a intelectualidade brasileira, que em nosso país tem um peso político e acesso aos grandes meios de comunicação, se coloquem ao lado desta campanha contra o trabalho (ultra)precário e o trabalho escravo, denunciando não apenas as péssimas condições de trabalho e o desrespeito aos direitos humanos, mas a este sistema capitalista. E, mais importante ainda, que as organizações de esquerda, como PSOL e PSTU, e as entidades sindicais e estudantis, se coloquem à frente desta campanha. Aqui em Campinas, um dos pólos de trabalho escravo na construção civil, faria uma grande diferença se os sindicatos de metalúrgicos e químicos saíssem de sua letargia corporativa e denunciassem esses fatos.