Biutifiul.

Finalmente, Biutiful! Há meses, desde que fui seduzido pelas críticas (mais especificamente desde Cannes), venho tentando assisti-lo. Procurei, desesperadamente, um arquivo descente na internet, que pudesse baixar e assistir, porém todas as tentativas foram frustradas pelas péssimas imagens. Mas hoje, em meio ao aperto desses dias, consegui ir ao cinema (consciente que logo o filme sairia de cartaz). E fui preparado para receber um soco no estômago e sair com uma angustia da vida.

O filme de Alejandro Gonzalez-Inarritu (Amores Brutos, 21 gramas, Babel) tem como tema central a morte. Ela está por todos os lados. Num cenário fúnebre, sujo e caótico, a vida vai se ajeitando - ou tentando se ajeitar. Todos, ou praticamente todos, caminham para a  morte, deixando para trás suas dívidas.

O diretor parece ter deixado uma dúvida nos críticos de plantão sobre a sua ligação com o espiritismo, pois o persongem principal conversa com os mortos e os ajuda a seguir seu caminho do "outro lado" da vida. Para mim, o objetivo do diretor é ressaltar a passagem, a transição, a mudança. A vida concreta tornou-se o inferno, o castigo na terra, o cenário de Dante. Nenhuma alma, ou quase nenhuma, consegue livrar-se dos pecados, por mais bondosa que pareça. A salvação, a paz, está na morte, no fim.

A morte é a metáfora de uma sociedade efêmera, que ainda não sumiu e persiste em seguir existindo. É o mundo do trabalho precário, exercido por imigrantes ilegais, chineses e africanos, na prometida terra europeia. É o mundo regido pela lógica de um capitalismo decadente, em que as vidas valem muito pouco. Um mundo em que a única paz está na morte e não na vida. Um mundo que precisa perecer.

Todo apoio a luta da moradia na Unicamp! Basta de repressão! Vagas e bolsas para todos que necessitam!

Publicamos texto de Fernando e Danilo sobre a ocupação da administração da Moradia da Unicamp.

por Fernanda Montagner e Danilo Magrão – estudantes de Ciências Sociais e militantes do Bloco Anel às Ruas


Nessa terça, dia 2 de março, a REItoria da Unicamp, fazendo uso da Tropa de Choque com camburões e escopetas, buscou fazer cumprir uma ordem judicial de desocupação de uma casa da moradia estudantil por existirem estudantes “não oficiais” dentro das casas. Na Unicamp, assim como em diversas universidades do país, a quantidade de vagas é insuficente frente a quantidade de estudantes que necessitam. Após a ameaça de terça, nessa quarta de manhã a tropa de choque de punho armado desocupou a casa já então ocupada por uma centena de estudantes amparados pelas barricadas levantadas para impedir o desalojamento pela polícia, mantendo, assim, um clima que remonta aos ares mais duros da ditadura, ratificado pela manutenção de um regimento interno análogo ao “AI-5 estudantil” (decreto 477), de 1969.

Os estudantes fizeram uma reunião depois do ocorrido e decidiram por ocupar a Administração da Moradia Estudantil, que se mantem ocupada com reivindicações centrais por mais vagas na moradia, em denúncia a entrada da polícia e pela demissão de Viotto, administrador da moradia e lacaio da reitoria na perseguição de estudantes.

Devemos ater que a política repressiva da REItoria da Unicamp, que se manifesta contra os estudantes, se desenvolve em paralelo aos ataques aos trabalhadores: não só administrativa, mas também judicialmente, a reitoria pretende punir nove trabalhadores que encabeçaram a greve do ano passado, além de já anteriormente ter punido os trabalhadores com os salários descontados referentes aos dias paralisados.

O fato pontual, ao contrário do que pode parecer a olhos nus, não foi arbitrário. É expressão dos ritmos em que progride a implementação de um claro projeto político da REItoria de uma maior privatização das Universidades públicas e elitização do conhecimento ligado à lógica capitalista de mercado; o que passa pela falta de políticas de permanência estudantil que atendam ao conjunto de estudantes que necessitam; por uma restrição do uso do espaço público e da vivência universitária; corte de isonomia salarial entre funcionários e docentes das estaduais paulistas (na Unicamp, perseguição aos trabalhadores por exercerem o direito elementar de greve e descumprimento dos acordos de final de greve por parte da REItoria; na USP, a demissão de 270 trabalhadores logo no início do ano pelo interventor Rodas); intervenção rotineira da polícia militar nos campi (inclusive na Unesp de Rio Claro, que contou com a participação da PM nas calouradas); e a abertura de processos administrativos contra os estudantes da USP que retomaram a moradia etc.

Além disso, esse projeto do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (CRUESP) vem embasado numa lógica do governo estadual do PSDB, que já vem atacando as Universidades Estaduais a tempos e progredindo cada vez mais a intensidade e a rapidez do atrelamento da universidade ao capital privado. Evidentemente o governo federal de Dilma também dá toda a base para esse projeto de precarização da educação pública, pois se a porcentagem de ICMS repassado para o investimento para a universidade não aumenta há anos, por outro lado o governo federal não exita também em dispender bilhões de dólares para pagamento de dívida externa – em detrimento do investimento de questões elementares como educação pública(repassando milhões de reais para grandes grupos privados, como o grupo Anhanguera), que mais além de toda a propaganda de Dilma e Lula, hoje o ensino superior em nosso país não atende sequer 15 % da população. O elitismo é tamanho que mesmo com o funil do vestibular, que impede que a maioria da juventude trabalhadora e pobre possa ter acesso ao ensino superior público, os poucos jovens filhos de trabalhadores que conseguem adentrar na Universidade pública não possuem condições financeiras e de habitação para o estudo. A falta de bolsas e vagas nas moradias estudantis não é um problema localizado da Unicamp, mas generalizado em todo o país, com a conivência e implementação dos burocratas(reitores e diretores), que buscam a todo custo combater a organização dos estudantes como temos visto nos últimos anos no estado de SP e pelo país.

Esta política coordenada de repressão nas estaduais paulistas tem sua manifestação particular, em relação aos estudantes da Unicamp, na falta de moradias correspondentes ao número de estudantes de baixa renda que necessita de serviço prestado. Em acordo firmado em dezembro de 1987, a REItoria prometeu 1500 vagas ao término de dois anos, caso contrário “resultará na imediata autorização ao DCE/ Unicamp, para ocupar uma área do campus desta Universidade, equivalente ao espaço anteriormente ocupado pelos alunos no prédio do ciclo básico”. A hipocrisia da promessa resulta atualmente, 24 anos depois, em uma quantidade de vagas inferior a mil – sendo que hoje existem o dobro de estudantes do período citado. Não bastasse, a administração da moradia ainda toma medidas muito autoritários com setores mais oprimidos na moradia, como nos casos de tentar expulsar os estudantes africanos (reforço claro do racismo e elitismo desta Universidade), bem como estudantes mães, cujos filhos completaram sete anos etc.

Assim, é necessário entendermos que o que está colocado em jogo nesse processo é um projeto privatista de universidade, que não tem hesitado em atacar e reprimir o movimento estudantil e trabalhadores. Necessitamos articular uma ampla campanha democrática dos diversos setores que vem não naturalizam as ingerências da Policia Militar no campus, bem como as manobras da reitoria para ligar a universidade cada vez mais as empresas e se desligarem das demandas concretas dos estudantes, trabalhadores e da população de conjunto. É necessário que, a partir de uma campanha ampla, consigamos colocar o movimento estudantil na ofensiva - que se ligue aos trabalhadores e professores aliados - e avance em questionar o caráter da universidade, para que possamos dar passos no sentido de uma democratização radical no acesso da universidade e que esta volte seus interesses para os trabalhadores e ao povo pobre.



.Por um plano de obras que atenda plenamente as demandas reais dos estudantes que necessitam de moradia!Vagas e bolsas a todos que necessitam!

.Controle da moradia pelos moradores e entidades estudantis(DCE e Centros Acadêmicos). Auto-organização dos estudantes para decidirem os critérios e rumos das moradias. Fora ingerência da burocracia acadêmica!

.Barrar com ampla mobilização o processo de repressão aos lutadores! Fora PM dos campi!

.Por um comitê de mobilização em aliança dos estudantes com os funcionários!

.Barrar as demissões de trabalhadores na USP e a expulsão de estudantes. Reintegração imediata de Brandão! Contra os processos e sindicâncias contra trabalhadores e estudantes abertos na UNICAMP, USP e Unesp!

. Fim do vestibular e estatização dos monopólios universitários particulares para garantir a real democratização do acesso a Universidade!

Estudantes, às ruas!

Na manhã de hoje, estudantes das escolas de ensino médio de Campinas saíram as ruas para protestarem contra o abusivo aumento da passagem de ônibus (2,85). Como bem sabem, o transporte coletivo da cidade é caótico: todos os dias somos obrigados a nos espremer em ônibus desumanamente lotados; não podemos confiar nos horários das linhas, pois os ônibus estão sempre atrasados; gasta-se cerca de duas a três horas para atravessar de uma ponta a outra da cidade; etc.

De quem é a culpa disso tudo? Dos motoristas e dos cobradores de ônibus? Claro que não. Estes, infelizmente, trabalham mais de dez horas por dia (em seus turnos de oito horas mais horas extras que são obrigados a cumprir por livre e espontânea pressão), no calor infernal da cidade, ganhando uma miséria. Caso você duvide disso, sugiro aproveitar a próxima vez que passar pela catraca para perguntar ao cobrador sobre as suas condições de trabalho.

Os culpados são as empresas privadas que controlam o transporte coletivo, e como toda empresa capitalista, para aumentar seus lucros ao máximo, racionalizam também ao máximo as linhas de ônibus. Desta forma, os passageiros são apenas números nas pranchetas de engenheiros de trânsito e administradores que nunca usaram o transporte coletivo para se locomoverem. A culpa é também do Dr. Hélio, Prefeito da cidade, que opta por manter este sistema de transporte coletivo privado (dizem as más línguas que ele e seus aliados receberam das empresas de transporte de Campinas gordas ajudas as suas campanhas eleitorais).

A luta destes estudantes é legítima e deve se estender para todas as camadas da população trabalhadora. Devemos sim lutar para reduzir a passagem; mas devemos também lutar por um controle social dos serviços essenciais da população: transporte, saúde, educação, etc. Pode ser que não consigamos reduzir, neste momento, o valor da passagem. E com certeza teremos que ampliar e muito nossa mobilização para conquistar a estatização do transporte coletivo. Mas uma coisa estes estudantes estão conquistando: a organização política e a tomada das ruas enquanto forma legítima de manifestação popular.

Todo apoio e força à luta estudantil!