Reunião de Professores pela Base

A corrente de Professores Pela Base (Ler-qi e independentes) - Campinas chama para a discussão:


Mobilizações e organização d@s profossora(e)s na luta contra a precarização da educação e do trabalho. Que educação nós queremos?

Nas ultimas décadas os governos estadual e federal vem atacando a educação e precarizando o trabalho dos educadores. Este ano, depois do ensino público ter sido tema de polarização da eleição para governador no ano passado, o governo Alckimin anuncia sua suposta política de valorização salarial para os professores. Entretanto, além de parcelar o reajuste em quatro anos para os professores do estado, os valores não alcançam o valor digno de sobrevivência, e ainda sofreremos com o aumento da inflação que está por vir. Esta é uma estratégia do governo do estado para desmobilizar as categorias concedendo pequenos reajustes que são de nossos direito, e manter a precarização antravés da divisão em subcategorias, retiradas de direitos, imposição de currículos, jornadas de trabalho extenuantes, avalições por mérito e formações precárias. Mas na última semana os professores se levantaram contra a precarização e questionaram o projeto educacional imposto pelos governos. As ETE´s e FATEC´s entraram em greve, os servidores municipais de Campinas também entraram em greve, sendo os professores a categoria mais presente, além disso, 12 estados tiveram as atividades docentes paralizadas e os professores do estado do Maranhão protagonizam uma greve que já perdura mais de 70 dias. Além disso, temos acompanhado mobilizações convulsivas da classe trabalhadora pelos quatro cantos do país, que se colocam na linha de frente contra a precarização e condições de trabalho de semi-escravidão, comos os operários da construção civil das obras do PAC, em Jiráu, Suápe, Santo Antônio, e a mais recente greve de trabalhadora(e)s terceirizad@s da empresa União, que colocaram a USP de ponta cabeça escancarando o caráter de classe da universidade e seu elitismo quando a reitoria permite dentro de um espaço de educação e produção de conhecimento formas de trabalho precário como a terceirização. Em meio à todas essas mobilizações que também ocorrem as eleições da Apeoesp, maior sindicato da Am. Latina, e achamos que este é um momento importante de aprofudarmos no debate sobre a auto-organização dos professores e um programa que golpeie a precarização do trabalho e se coloque em defesa da educação pública e de qualidade.

Nós, professores da corrente Pela Base Campinas, fazemos um convite aos professores da rede estadual de SP, das ETEC´s e FATEC´s, e da rede municipal de Campinas, a debatermos profundamente os ataques dos governos, a precarização do trabalho, por qual educação queremos lutar e como nos organizar.


Dia 21/05 (sáb.), as 15h,
na Casa de Cultura e Política Hermínio Sacchetta
Av. Anchieta, 51, centro de Campinas.



Conheça o nosso blog: http://professorespelabase.blogspot.com/

A praça virou sala de aula

Hoje, segunda-feira, 16 de maio, a greve nas ETECs Conselheiro Antônio Prado e Bento Quirino seguiu o curso iniciado na semana passada. As duas escolas permaneceram sem aulas, imperando a deliberação da nossa categoria: greve! Infelizmente, alguns colegas professores insistiram em seguir furando-a. Os motivos são vários e sempre pessoais (alguns compreensíveis). Mas todos nós corremos o risco de perdas. Porém, ainda acredito que outros virão para o nosso lado (como aconteceu hoje), quando compreenderem que este é um movimento diferente dos anos anteriores, que está ganhando força a cada dia e que dependerá da unidade entre nós para ser vitorioso.

Independente das divisões, a greve se manteve na ETECAP e no Bentão. E os estudantes, melhores organizados que nós professores, saíram às ruas. Ocuparam a avenida Orozimbo Maia e marcharam em direção ao centro da cidade. No meio do caminho se uniram com os estudantes da ETECAP, que desta vez resolveram vir de ônibus. Continuaram marchando até o Largo do Rosário, praça de antigas lutas e manifestações, carregada da história dos negros, no seio do centro campineiro (nela ficava uma Igreja frequentada pelos negros aforriados; suspeita-se que serviu de local para organização de insurretos negros; mas foi derruba após construirem a nova Catedral; porém, essa é uma história para outro post). Já na praça, os 400 estudantes, junto com seus professores e funcionários tecnico-administrativos, abriram um grande círculo humano.

Na praça das antigas lutas fizemos nossa aula pública e aberta para a população. Fomos observados por centenas de pessoas que ali passavam correndo, e inúmeras vezes fomos saudados com seus olhares ou com uma palavra amistosa. Compreendiam aquelas pessoas, que ali estavam jovens e trabalhadores querendo mostrar que nosso movimento tem um objetivo central: lutar por uma melhora na qualidade da educação! Por isso, mesmo em greve, apesar de paralisarmos as aulas, continuamos com aquilo que é primordial em nossas instituições de ensino: a reflexão crítica.

Que constraste com a realidade das salas de aula? Fechadas, abafadas, hostis! Contraste maior foi pensar que, enquanto estávamos ali, em meio ao sol da manhã, alguns de nossos colegas insistiam em amedrontar seus alunos dando-lhes uma prova ou faltas. Pior eram aqueles que seguiam sozinhos para suas salas de aulas vazias. Onde se aprendeu mais nesta manhã? Nas salas de aulas dos que insistem em romper a greve? Ou naquela manifestação política e pedagógica?

Terminamos este singelo ato com uma aula pública sobre a precarização do trabalho. Precarização do trabalho dos professores e tecnico-administrativos. Precarização das futuras profissões daqueles alunos ali sentados. Precarização de nosso futuro! Por isso que nossa luta não tem sua razão apenas no imediato (no aumento salarial), mas em algo mais estratégico: o futuro! Sigamos em frente, companheiros!

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O que saiu na mídia sobre o ato no Largo do Rosário:

Com esta eles não contavam: palhaços inteligentes e conectados

O governo e a superintendencia, com ajuda dos diretores e, infelizmente, alguns professores, tentam descaracterizar nossa greve usando-se da confusão e da contra-informação. Dizem que a greve está pequena e que poucas unidades aderiram a ela. Entretanto, eles cometeram um grande erro ao não entenderem ou menosprezarem o fenômeno que aconteceu no twitter na noite de quinta-feira passada (12/05). Estudantes da ETECAP fizeram um twitaço com a palavra #circopaulasouza e em poucos minutos ela ocupava o primeiro lugar do Twitter do Brasil. No dia seguinte, esta palavra estava estampada em vários cartazes estudantis no ato de São Paulo.

O que nossos oponentes não entenderam ainda é que a internet está sendo usada enquanto instrumento a favor de nossa greve. O governo emite informações erradas para a imprensa (já cansei de dizer que eles mentem ao anunciar que temos uma jornada de trabalho de 40 horas semanais), mas nós encontramos colegas, professores, funcionários ou estudantes, divulgando a luta de suas unidades nos blogs, no Twitter e nas comunidades do Orkut. O picadeiro pode estar armado, mas os palhaços são inteligentes e conectados.

Vou neste post listar os blogs e as comunidades que interessam a nossa mobilização:

Blog do Sindicato (SINTEPS): http://greve-ceeteps-2011.blogspot.com/

Blog dos Alunos da FATEC de Bauru: http://alunosfatecbtu.wordpress.com/

Seguirei postando outros sítios. Quem conhecer algum, por favor, envie no "Comentários".

#centropalhasouza - Desconstruindo as mentiras - 1

#centropalhasouza - Desconstruindo as mentiras - 1

Numa greve como a dos servidores (professores e funcionários tecnico-administrativos) do Centro Paula Souza, a disputa da opinião pública torna-se fundamental. Ela não paralisa nenhuma produção do capital, como é o caso de uma greve no setor industrial, que causa prejuízo direto ao patrão, forçando-o a negociar desde o início com os grevistas para que a mais-valia volte a ser produzida. Nossa greve paralisa o serviço público, atingindo direta ou indiretamente a população que usufrui dele. Portanto, torna-se crucial na nossa mobilização o convencimento da população da justeza de nossas causas.

Não queremos neste artigo descontruir o discurso contrário a greve nos serviços públicos - deixamos para um próximo artigo. Muitos compreendem facilmente que quem vem paralisando o serviço público, com a precarização das estruturas e do trabalho, com as privatizações, são os diversos governos estaduais, municipais e federais. Portanto, a precarização do serviço público (em última instância, a perda do seu sentido público) é uma política consciente de Estado. E cabe a nós demonstrar isso.

O Centro Paula Souza ficou conhecido nacionalmente enquanto uma instituição de ensino médio, técnico e tecnológico de "excelência". Quem não se lembra das propagandas eleitorais do PSDB nas ultimas eleições para o governo estadual e federal? O que teme o governador Alckimin, em sua plena crise partidária e de governo (não nos esqueçamos que o PSDB saiu das eleições dividido e agora seu aliado na capital resolveu criar um novo partido, agariando algumas velhas e novas figuras bizarras para o seu lado), é que a greve dos professores e funcioários do Centro escancare as verdadeiras condições de trabalho desta autarquia. Por isso mesmo, nesta ultima quinta-feira, 12/05, o governador e a Laura Lagná (a nossa autocrática da superintendencia) anunciaram para a imprensa (e não para a categoria ou o sindicato, nosso legítimo representante) um aumento salarial de 11% como parte de uma política de valorização salarial.

O que pretendem com este anúncio: 1) desmobilizar nossa greve, tentando enganar nossa categoria que este aumento basta para cobrir nossas perdas destes ultimos anos; 2) convencer a população que o governo está preocupado com a educação e que os "intransigentes", aqueles que "estão contra a educação de qualidade", que "só querem fazer política contra o governo" (e inúmeros outros argumentos desqualificadores) são os grevistas. Uma pessoa comum, sentada em seu sofá vendo o jornal da noite pensaria: porque uma greve se já receberam o reajuste? 3) esconder as verdadeiras condições de trabalho do Centro Paula Souza.

Mas vejamos a verdade: 1) 11% não cobrem nem mesmo as perdas que tivemos referente a inflação destes ultimos anos, em torno de 82% para os professores e 97 para os funcionários. 2) se o governo estivesse preocupado com uma política de valorização salarial, teria dado este aumento/reajuste há muitos anos atrás. Não estamos diante de um novo governo, que estaria revertendo uma política salarial nefasta de um governo ou governos anteriores. Estamos diante do mesmo governo, do mesmo partido, e da mesma pessoa! 3) o governo tenta nos confundir com seus índices, calculando quanto seria nosso salário numa jornada de 40 horas semanais. Outra mentira, pois nosso contrato não é em torno de uma jornada de trabalho (como acontece aos professores da Secretaria de Educação), mas sobre hora-aula. A maioria não chega a passar de 10 hora-aulas por semana e essa condição de trabalho é outra faceta da precarização, pois exime o Estado de um contrato baseado na estabilidade do servidor público (professor) e de uma jornada que não deveria ser constituída apenas por aulas, mas também preparação destas, estudos, monitorias e pesquisa.

Por isso os estudantes estão certo. Eles acham que somos palhaços, que vamos baixar a cabeça e voltar para o picadeiro? Vamos Usar todas as ferramentas virtuais e reais para divulgar nossa luta!#circopalhasouza neles!

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Para comprovar as informações que listei logo acima, veja a matéria do site do Centro Paula Souza sobre o assunto: http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/Noticias/2011/maio/12_governo-anuncia-reajuste-de-11-para-servidores-do-centro-paula-souza.asp

Os desafios da greve

Os desafios da greve no Centro Paula Souza

A greve no Centro Paula Souza teve início nesta sexta-feira, 13 de maio. Em São Paulo, na sede da Superintendencia, fez-se um importante ato com aproximadamente 500 pessoas, dentre professores, tecnico-administrativos e estudantes das ETECs e FATECs. O ato, que foi um dos maiores desde a fundação do Sindicato (o que indica que entramos na greve com muito fôlego para lutar), poderia ter sido ainda maior se não fosse a distância entre as cidades (o Centro é formado por 247 unidades espalhadas pela capital, litoral e interior) e pelo "ônibus" de Campinas que deixou na mão 40 pessoas (na ultima hora descobrimos que não o teríamos mais). Mas tudo bem, mesmo assim três carros foram lotados representando a ETECAP e o Bento Quirino.

O importante é que neste ato estavam presentes mais de 70 unidades, através de seus representantes, todos dispostos a militar pela greve! Serão estes os responsáveis por manter e ampliar a greve. O sentimento de raiva e indignação da categoria, principalmente depois que o governador Alckimin anunciou um pífio reajuste de 11%, muito abaixo das perdas que tivemos nestes ultimos anos (estamos revindicando 82,735% para os docentes (reajuste + recomposição) e 97,558% (reajuste + recomposição) para os funcionários), está se revertendo em energia para resistir a todas as pressões adversas a nossa mobilização. E estas são muitas!

Hoje, o principal empecilho para o desenvolvimento pleno de nossa greve está no interior de nossa própria categoria. Está no medo por parte de alguns companheiros, pois receiam  perder os seus "benefícios". Está no assédio moral que muitos recebem das direções e coordenações. Está no individualismo. E, principalmente, na falta de esperança de que a greve poderá ser vitoriosa. Um ceticismo que se consolidou nestes ultimos anos em vários setores de trabalhadores fruto da ideologia neoliberal, que exarcebou o individualismo, mas também atacou os intrumentos organizativos (como os sindicatos) e de luta da classe trabalhadora (como as greves, as manifestações de rua, a militancia em si).

O resultado disso é a hegemonia de um pensamento estreito, contingencial, momentaneo, imediato, localista, corporativo... uma mente estreita, com uma visão curta. Não se pensa na greve enquanto um catalisador de inúmeras novas possibilidades (organizativas, pedagógicas e políticas), mas enquanto um instrumento com objetivos pragmáticos, de preferencia que não incomode muito.

Alguns tentam inventar a roda da história, chamam a greve de instrumento arcaico e dizem ter a solução. Mas na verdade, suas críticas aos nossos instrumentos de luta são tão velhas quanto os próprios instrumentos. Esbravejam como se fossem velhos sábios contra os novos empolgados pela greve; mas se esquecem que estes novos estudam a história de luta de nossa classe. E este história nos mostra que nenhuma conquista foi obtida sem luta! E a luta requer assumir riscos e ter coragem!

Contra todo este pensamento típico da condição pós-moderna, resta-nos o debate (o confronto de ideias, a disputa pela verdade, a comparação com as vitórias do presente e do passado) e a própria luta. Não se pode afirmar que isso nos levará a uma vitória no final do processo, pois nele há inúmeras determinates em jogo. Mas se pode afirmar que sem estas lutas (teórica, política e prática), seremos com certeza derrotados!

Para maiores informações sobre o ato do dia 13/05, ver: http://www.sinteps.org.br/news0261.html

RELATO SOBRE A GREVE

RELATO DOS ALUNOS DA FATEC DE BOTUCATU SOBRE O INÍCIO DA GREVE


Ontem 13/05/2011, foram realizadas duas Assembléias na FATEC de Botucatu. A primeira as 10:00 horas da manhã, com participação de professores, funcionários e alunos (os mesmos manifestaram apoio total a causa) mas o clima era de dúvida, pois não sabiamos quantas unidades das fatecs e etecs estavam realmente paradas. Além disso, muita pressão vinha do lado do diretor da faculdade e de alguns coordenadores de curso, que levavam informações disponibilizadas pelo centro paula souza, dizendo que o movimento de greve era praticamente inexistente, mas claramente percebido entre os participantes como tentativa óbvia de manobra política para confundir e tentar dispersar qualquer ação de professores e funcionários em direção a greve.

Os coordenadores que também são professores se manifestaram contrários a greve, alegando que possuem cargo de confiança e podem perder seus empregos por isso. Alguns funcionários também possuem tais cargos de confiança e também foram contra.

Mesmo assim a maior parte dos presentes foi a favor a greve, mas como no periodo da tarde iria ser realizado um manifesto em frente a FATEC São Paulo decidimos por aguardar o fim da manifestação para tomar uma atitude definitiva.

Ficou decidido que até as 17:30 (hora de nova assembléia) a FATEC Botucatu estaria em ESTADO DE GREVE, e ficou claro (registrado em ata e com várias testemunhas) que se 50% + 1 alunos ficassem para fora da sala nenhum aluno seria prejudicado, e todos teriam direito a reposição dessas aulas perdidas.

Sendo assim, após a reunião, no período de aula vespertino (13:00 ás 18:30) os alunos assinaram uma moção de apoio e se negaram a entrar em sala. Deixamos claro que ninguém foi obrigado, todos aderiram de livre e espontanea vontade.

Um coordenador (que possui cargo de confiança e se manifestou contra a greve) afrontou os alunos que não entravam na sala e principalmente os alunos que estavam colhendo as assinaturas, mas nós alunos não nos intimidamos e expomos a situação de que estava claro que o papel deste coordenador era acabar com a resistência pra defender seu cargo com medo que uma greve leve seus superiores a penalizar a unidade.

OS ALUNOS DO PERIODO DA TARDE NÃO ENTRARAM NA AULA POR VONTADE PRÓPRIA.

Então, as 17:30 na Assembléia Geral, após a manifestação pública em

São Paulo, e após contato com o sindicato, ficou decidido que os professores e funcionários da FATEC de Botucatu passaram do ESTADO DE GREVE para definitivamente entrar em GREVE.

No período noturno (19:00 ás 23:00) todos os professores entraram em sala para explicar a causa aos alunos, o que durou aproximadamente meia hora, e lógo em seguida todos os alunos foram embora. Aproveitamos para colher mais assinaturas.

Preciso alertar que todos os diretores de unidades em greve estão fornecendo informações FALSAS para a mídia para confundir e tentar acabar com o movimento.

Quem puder ajudar a divulgar estas informações por favor ajude, espalhe e esclareça: A FATEC BOTUCATU ESTA EM GREVE E APOIA TODAS AS UNIDADES QUE ADERIRAM AO MOVIMENTO.

Estamos procurando alunos de outras unidades para também nos unir e nos organizar nessa manifestação de apoio a nossos professores e funcionários.

Aceitamos todo tipo de apoio.

Atenciosamente,

Alunos da FATEC de Botucatu.

Lançamento de livro na Unicamp

Comentários ao artigo da Carta Capital sobre o Centro

No post anterior publiquei um artigo da revista Carta Capital sobre o Centro Paula Souza. Neste quero enumerar algumas questões importantes que não foram abordadas pelo jornalista Rodrigo Martins. Para isso, reproduzo literalmente o "comentário" que fiz ao final do artigo no site da Carta Capital:
Olá, sou professor de duas ETECs de Campinas e também gostaria de fazer coro com os colegas sobre a importância deste artigo. Depois de tantos anos de propaganda mentirosa por parte do PSDB sobre o Centro Paula Souza, seu instrumento eleitoral, finalmente uma matéria que apontasse para uma discussão séria. Mas, após os elogios, seguirei o caminho de Miranda, pontuando alguns limites desta matéria (pois assim acredito que aprofundaremos na reflexão):
1. Tenho total acordo com a crítica de Miranda. O Centro Paula Souza não é composto apenas de professores, mas também de funcionários tecnico-administrativo. Diria mais, também é composto de funcionários terceirizados, que realizam em cada unidade de trabalho a manutenção, a limpeza, a segurança, etc tão necessária para o funcionamento desta instituição. E a terceirização segue sendo um grande problema para qualquer categoria, pois além de precarizar o trabalho (dando um salario infinitamente menor que o de um funcionário efetivo que realiza a mesma tarefa), nos divide entre efetivos (ou indeterminados) e terceirizados.
2. O artigo não leva em consideração que o Centro Paula Souza é uma autarquia do estado de SP que funciona de forma completamente antidemocrática. Seus cargos de direção são ocupados sem que haja critério algum na sua seleção (apenas o apadrinhamento), muito menos eleição. Discute-se tanto a meritocracia, a avaliação dos professores e funcionário, mas pergunto: quem avalia a superintendente Laura Laganá (que não teve coragem de responder as perguntas desta reportagem)? Os professores e funcionários passaram num concurso público, concorrido, para ocuparem o cargo que ocupam hoje. E aqueles que estão hoje na Superintendencia foram aprovados em que processo?
3. o artigo também não associou dois fatos que ocorreram simultaneamente. Nestes ultimos anos não recebemos nenhum aumento salarial. E também neste período o Centro teve a sua maior ampliação de vagas e de unidades da história (com várias unidades fictícias – as extensões). Conclusão: a ampliação do Centro ocorreu sob a base do arrocho salarial dos professores! Objetivo: garantir a manutenção do PSDB no poder do estado de SP.
Por enquanto, acho que estes são os pontos fundamentais que faltaram no artigo. Mas, como eu disse, ele tem o seu mérito por ter sido o primeiro a questionar a “inquestionável” política do governo de SP para as escolas e faculdades técnicas. Valeu pelo artigo!
Nos próximos dias seguirei postando artigos e comentários sobre o Centro Paula Souza, pois estamos em momento de reflexão e de luta. Em várias unidades já aprovamos greve por tempo indeterminado a partir do dia 13/05.

Interessante matéria de Carta Capital sobre Centro Paula Souza

A “meritocracia” do ensino paulista

Escrito por: Rodrigo Martins



Sem reajuste salarial desde 2005 e descontentes com os critérios usados para o pagamento da chamada “bonificação por resultados”, professores das escolas técnicas (Etecs) e faculdades de tecnologia (Fatecs) do estado de São Paulo ameaçam entrar em greve a partir de maio. De acordo com Silvia Elena de Lima, secretária-geral do Sinteps, o sindicato da categoria, a proposta tem sido debatida em assembleias regionais nas mais de 200 unidades da rede. Caso seja aprovada, a paralisação começaria em 13 de maio.

Nossa última greve, em 2004, durou 80 dias. Foi graças a ela que conseguimos reajuste no ano seguinte”, avalia. “De lá para cá, o governo tem usado a bonificação como desculpa para não mexer nos salários. Só que os critérios desse bônus são confusos e punem o professor por aspectos que não dependem dele.”

Entre 2000 e 2006, o governo paulista oferecia o chamado “bônus mérito” para estimular a atividade docente. O pagamento premiava, na verdade, professores assíduos, com mais tempo de casa e bem avaliados pelos gestores das escolas. A partir de 2007, o sistema foi substituído pela bonificação por resultados, que passou a agregar critérios de produtividade, como a aprovação dos alunos e a evasão escolar. Além disso, criou-se o Sistema de Avaliação Institucional, no qual alunos, professores e funcionários respondem a um extenso questionário para avaliar a qualidade de ensino e as condições de infraestrutura das unidades.

O governo tem todo o interesse de que o número de formandos seja o maior possível, porque a repetência gera mais gastos para o sistema”, afirma Antonio Pereira Afonso, diretor interino da Etec Getúlio Vargas, na zona sul de São Paulo. “Por trás dessa política de bonificação, há, porém, uma estratégia de ‘forçação de barra’, de aprovar aluno a qualquer custo, mesmo que ele não tenha desempenho satisfatório. Além disso, a evasão escolar e o déficit de aprendizagem não dependem apenas do docente. Normalmente estão associados a outros fatores externos à escola, como problemas familiares ou necessidade de trabalhar.”

Em 2011, os professores da Etec Getúlio Vargas tiveram um bônus de 2,4 salários, índice muito superior ao oferecido nos últimos dois anos, quando os docentes receberam menos de um salário a título de bonificação. O que mudou? “De fato, podem ter -contribuído os mutirões feitos por professores na tentativa de recuperar alunos irrecuperáveis. Mas, na prática, isso também se deve ao acaso. Menos alunos desistiram dos cursos”, avalia Afonso.

Doralice de Souza Balan, diretora da Fatec de Bragança Paulista, uma das oito faculdades de tecnologia que não receberão bônus em 2011, critica a falta de critérios claros no pagamento do benefício. “Desde fevereiro, requisitamos informações ao Centro Paula Souza (órgão estatal responsável pela administração das escolas técnicas e Fatecs) para saber exatamente a meta que precisávamos cumprir, mas ainda não recebemos resposta”, afirma. “Estamos no limbo, sem saber no que erramos, se é que erramos. Um dos pontos avaliados é a infraestrutura da escola, mas isso é de responsabilidade exclusiva do governo. Como a unidade é nova, compartilhamos o prédio de uma escola municipal até o nosso ficar pronto. É evidente que há insatisfação com as instalações inadequadas, mas quem resolveu expandir a rede antes de oferecer todas as condições não foram os professores.”

Do quadro de 22 docentes da Fatec São Sebastião, no litoral norte, três abandonaram a instituição no último ano para lecionar em escolas privadas ou universidades federais. “O plano de carreira deles é mais vantajoso e os salários, melhores”, explica Balan.

O coro dos descontentes é engrossado por Silvana dos Santos de Marchi, diretora acadêmica da Fatec São Sebastião, criada em 2009. “Dividimos espaço com uma escola técnica. Faltam laboratórios, biblioteca, os banheiros estão superlotados. Mas essa é uma situação excepcional, até o prédio da faculdade ficar pronto”, lamenta. “O que deveria incentivar o professor está se tornando um fator de desestímulo. É injusto o docente não receber bônus por causa da infraestrutura, porque houve pouca aprovação ou muitos alunos desistiram do curso. Isso é normal em qualquer faculdade.”

A gestora também critica a falta de comunicação da administração central com as unidades de ensino. “O Centro Paula Souza divulgou as metas de cada escola ou faculdade um dia antes de o governo estadual publicar, no Diário Oficial, os índices de bonificação para cada instituição. É uma aberração. Quando é traçado um objetivo, o razoável é que todos saibam o que é e tenham um ano para tentar alcançá-lo.”

Diversos professores ouvidos por CartaCapital criticaram ainda o baixo valor do vale-refeição (4 reais por dia) e dos descontos da bonificação por faltas justificáveis, como licenças médicas e a chamada “licença-prêmio”, na qual o profissional é recompensado por não faltar nenhuma vez durante cinco anos. “No ano passado, tive de ficar afastado da escola por quatro meses em razão de uma cirurgia no joelho. E, neste ano, só pude receber dois terços da bonificação”, afirma Afonso, da Etec Getúlio Vargas, que lecionava disciplinas de eletroeletrônica antes de assumir a direção da escola.

Procurada por CartaCapital, a superintendente do Centro Paula Souza, Laura Laganá, alegou problemas na agenda ao recusar o pedido de entrevista. Por meio de nota, a assessoria de imprensa da instituição disse que “está em elaboração um novo Plano de Cargos e Salários para valorizar o salário dos professores”. As alterações de valores dependem, no entanto, de previsão orçamentária e aprovação na Assembleia Legislativa. Além disso, a nota informa que os parlamentares aprovaram, em 2008, um novo plano de carreira com reajuste médio de 49% no valor da hora-aula paga aos professores.

Especialista em avaliação, Luiz Carlos de Freitas, professor de Educação da Unicamp, contesta a própria existência da bonificação na educação pública. “Os reformadores empresariais acreditam que a educação é uma atividade como qualquer outra, passível de ser administrada pelos critérios da iniciativa privada. Ocorre que, no mercado, há ganhadores e perdedores, e os ganhadores não têm de se preocupar com os perdedores”, afirma. “No sistema de bônus, os testes ganham relevância extraordinária e acabam por corromper o processo social que tentam monitorar. Recentemente, Beverly Hall, superintendente do sistema educacional de Atlanta, na Geórgia (EUA), foi demitida após uma investigação que identificou fraude na avaliação de 58 escolas públicas. Em Nova York, John Klein deixou o cargo de superintendente, em junho de 2010, quando se descobriu que as altas notas que os alunos tiravam nas escolas estavam infladas. A escola não é uma pequena empresa.”