Livro: "Um enigma chamado Brasil"

Recomendo o livro "Um enigma chamado Brasil", organizado por André Botelho e Lilia Moritz Shwarcz, que saiu recentemente pela Companhia das Letras. Ele é uma coletânea de artigos sobre 29 autores que interpretaram o nosso país, dentre Euclides da Cunha, Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes, Otavio Ianni, Antonio Candido, Roberto Schwarz e muitos outros. É um ótimo livro para quem deseja ter uma visão panorâmica, mas não simplista, sobre o pensamento social brasileiro. Neste post me ausentarei de qualquer crítica a obra, mesmo porque ainda estou no seu início. Pra dizer a verdade, no seu fim, pois comecei pelo último artigo sobre o autor de "Ao vencedor as batatas" (1977). Então, assim que terminá-lo, farei uma resenha do livro.

Por enquanto, uma reflexão: enquanto professores de sociologia no ensino médio, precisamos criticar os livros didáticos de nossa  disciplina que não falam do pensamento social brasileiro, e quando citam o fazem de maneira muito rasa. É necessário levar mais a sério os debates que ocorreram na intelectualidade que pautou como sua preocupação central o nosso país, senão, formaremos gerações e gerações com um pensamento (ou uma visão de Brasil) desterrado em nossa própria terra. Talvez se este debate fosse feito de maneira séria, não teríamos uma gritante ausência sobre a questão negra na maioria destes livros didáticos...

Para quiser ir aprofundando a reflexão sobre os clássicos do pensamento brasileiro, recomendo os artigos do jovem intelectual Daniel Angyalossi na revista Iskra números 1 e 2. Para uma entrevista com este autor, clique aqui.





Filmes sobre educação

Para a discussão sobre educação - em especial, a educação brasileira - há vários filmes interessantes para assistirmos. Neste post, recomendarei apenas dois que utilizarei em minhas aulas. O primeiro, "Pro dia nascer feliz" (2007), é um documentário que problematiza a educação brasileira através de vários relatos de professores e alunos, confrontando diferentes realidades. O segundo, "Entre os muros da escola" (2008), baseado no livro homônimo do francês François Marin, reconstroi a realidade de uma escola pública na França e os diversos conflitos.

A riqueza destes filmes está em sua preocupação por retratar de forma não romântica o tema. Diferente de vários filmes hollywoodianos que seguem aquele velho clichê de um professor, ou diretor, que chega e salva os seus alunos, seja da violência do meio social em que estão inseridos, como em "Escritores da Liberdade" (2007), seja do tradicionalismo e da repressão, como em "Sociedade dos poetas mortos" (1989).

Ficam aí estas sugestões.


"Pro dia nascer feliz" (2007) de Joao Jardim



"Entre os muros da escola" (2008) de Laurent Cantet

Atividade de Socioligia sobre Educação

Título: “ETECAP em foco”



Alunos dos 2os A, B, C, D e E.



Objetivos: utilizar os conhecimentos adquiridos em sociologia (e outras disciplinas) para analisar criticamente a nossa própria escola. Trabalhar com pesquisa quantitativa através de um questionário para um determinado público e analisar o seu resultado. Escrever um trabalho analítico sobre um determinado objeto da realidade, no caso, a escola.


Grupos de 5 a 6 estudantes


Metodologia e Procedimentos:

- Elaborar um questionário para ser aplicado nos primeiros e terceiros anos do Ensino Médio. Cada sala aplicará este questionário nas respectivas salas com a mesma letra que a sua. Por exemplo, os alunos do 2C formularão um questionário para o 1º C e o 3º C. As perguntas serão elaboradas pelos próprios alunos (grupos) com ajuda do professor.

- Analisar os resultados dos questionários a luz das teorias pedagógicas que estudamos em Sociologia (ou outras que os alunos venham a pesquisar).

- Contextualizar nossa escola no universo da educação brasileira e mundial.

- Ensaio Fotográfico


Resultados:

- Dados dos questionários quantificados

- Trabalho escrito e apresentado para a sala

- Blog da sala para publicação dos resultados



Datas:

- 28 e 29/set – Filme: “Pro dia nascer feliz”
- 06 e 07/out – elaboração do questionário
- 26/out – aplicação do questionário
- 27/out – mensuração das respostas do questionário

- 23 e 24/nov – entrega dos trabalhos e apresentação/debate em sala



PS: O blog poderá ser elaborado junto ao professor de SIC, caso ele tenha acordo.


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Para aqueles que tem acesso ao ClickIdeia, há uma atividade proposta por mim em:
http://www.clickideia.com.br/jsp/exibe.action?id=43982

Os meus mortos a serem lembrados neste 11/09 são outros...

Hoje, a grande mídia dedicará seu tempo a reportagens sensacionalistas sobre os ataques ocorridos há 10 anos nos EUA. Mostrarão os números de mortos das Torres Gemeas, os corpos caindo, as famílias perdidas, o heroísmo de algumas pessoas... Tentarão construir a imagem de um Império se reconstruindo dos escombros. Mas o que não mostrarão é que os EUA seguem em queda na sua influencia sobre o mundo, em plena crise econômica... E, sobretudo, neste 11 de setembro, nenhuma televisão ou jornal impresso mostrará o que os EUA fizeram no Chile em 11 de setembro de 1973.

Em 1973 os EUA patrocinavam mais um Golpe de Estado na América Latina, desta vez num país que  passava pela experiencia mais interessante e complexa da esquerda sul-americana, iniciada com a vitória de Salvador Allende para a Presidência da República pela a Unidade Popular (uma aliança entre o Partido Socialista e o Partido Comunista chilenos). Em seu programa de governo, defendia a nacionalização dos setores estratégicos da economia chilena, além de inúmeras outras medidas progressistas e estruturais que, se concretizadas de fato, teriam mudado completamente o Chile.

A nacionalização envolvia os setores abocanhados pelas empresas imperialistas, principalmente norte-americanas. O boicotes aos planos do governo eram feitos interna e externamente. A burguesia se levantou, organizando uma sabotagem geral ao Estado, paralisando a produção de alguns setores e a circulação de boa parte das mercadorias. Os EUA impuseram vários embargos econômicos para pressionar Allende a mudar de rumo.

As respostas a estas ações burguesas vieram da classe operária chilena (e não do governo), que passou a ocupar inúmeras fábricas e a organizar os chamados "Cordões Industriais", uma espécie de conselhos operários que tinham a função de organizar as manifestações, mas também a produção e sua distribuição. Com isso, colocavam de pé um embrião de duplo poder frente ao impotente governo "socialistas". Estava instaurada uma situação de revolução e contra-revolução no Chile.

Como todo processo agudo de luta de classes, a situação seria definida ou a favor dos trabalhadores ou contra eles. Não havia mais perspectivas de conciliações ou convergências. O dramático neste processo, é que a Frente Popular, como toda clássica frente popular, limitou-se a confiar nas instituições do regime burguês e a impedir que a classe operária impusesse uma resposta pelas suas próprias forças. Enquanto uma vanguarda operária pedia armas para Allende, em manifestações públicas por todo país, o governo, com seu ministro da Defesa Augusto Pinochet, permitia que o exercito vistoriasse as fábricas e os bairros operários a procura de armas, que nunca existiram. Já estava em curso a preparação do golpe.

O Golpe de Estado de 11 de setembro de 1973 foi  o mais sangrento de todos os golpes ocorridos na América Latina. Neste dia, o Estadio Nacional do Chile transformou-se numa local de detenção, tortura e assassinato. Segundo relatos, o rio que atravessa a capital Santiago ficou tingido de vermelho. Era o sangue dos operários mortes pelos fascistas.

Mataram o sonho de toda uma geração que escolheu mudar o seu destino rumo a uma sociedade melhor.

Por isso que neste 11 de setembro, lembrarei dos mortes daquele Chile de 1973. Lembrar e continuar lembrando é uma forma de resistência, pois a ordem social que proporcionou aquele golpe terrorista ainda continua viva, pronta para impedir qualquer nova tentativa de revolução.

Recomendo este vídeo do Ken Loach: