A primeira foto escolhida para ocupar o lugar de destaque no Blog, acima dos posts e abaixo dos menus, tem um significado importante para mim no âmbito político, teórico e pessoal, e de certa forma sintetiza o objetivo deste Blog. Pode parecer uma simples e bonita foto de dois operários descansando em meio ao seu trabalho - um retrato de uma camada da sociedade moldada e embrutecida pelo labor. Mas, em se tratando de um recorte da realidade - nem mesmo podemos ver as expressões faciais destes homens e detectar seus estados emotivos -, sem saber a sua origem, fica difícil entende-la. Alguns poderiam se negar a percorrer este percurso, por preferir analisar a arte pela arte. Não compartilho desta idéia – apesar de que não acho que a arte necessite diretamente de uma explicação política e social sempre -, pois toda forma de arte, em qualquer época, é uma forma de representação social de seu tempo e meio.
Na foto, dois operários de uma fábrica localizada no norte da Patagônia, na província de Neuquén, Argentina. As roupas, as mãos, o ambiente e a sujeira de seus corpos poderiam nos fazer concluir que são dois operários comuns, iguais a tantos outros. Não são! Fazem parte de uma riquíssima experiência de construção de novas formas de relações sociais. São operários que ousaram levantar a cabeça e lutar contra as arbitrariedades da patronal, contra os antigos dirigentes sindicais que não lhes representavam, contra o estado e a justiça dos ricos. Quando Luigi Zanon resolveu demitir os mais de 300 trabalhadores e fechar a fábrica de cerâmica, estes ocuparam a empresa, e pela democracia direta resolveram dirigir suas próprias vidas. Sete anos depois, no dia 12 de agosto de 2009, a fábrica é expropriada e entregue definitivamente aos reais produtores da riqueza, os trabalhadores.
Eu a visitei em janeiro de 2005, numa rápida viagem pela Argentina. Já conhecia a sua história através de textos e vídeos, mas tomar contato direto com aqueles trabalhadores, conhecer o processo produtivo, participar de uma assembléia, foi um impacto enorme para mim. Pude comprovar o êxito desta experiência em todos os seus sentidos. Nunca havia encontrado dentro de uma fábrica, operários tão felizes com o seu trabalho. Compreendi, então, que ali não estavam construindo cerâmicas, mas um futuro.
(em processo de construção)
Johannes Vermeer [cartas]
Há uma semana
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