Hoje, a grande mídia dedicará seu tempo a reportagens sensacionalistas sobre os ataques ocorridos há 10 anos nos EUA. Mostrarão os números de mortos das Torres Gemeas, os corpos caindo, as famílias perdidas, o heroísmo de algumas pessoas... Tentarão construir a imagem de um Império se reconstruindo dos escombros. Mas o que não mostrarão é que os EUA seguem em queda na sua influencia sobre o mundo, em plena crise econômica... E, sobretudo, neste 11 de setembro, nenhuma televisão ou jornal impresso mostrará o que os EUA fizeram no Chile em 11 de setembro de 1973.
Em 1973 os EUA patrocinavam mais um Golpe de Estado na América Latina, desta vez num país que passava pela experiencia mais interessante e complexa da esquerda sul-americana, iniciada com a vitória de Salvador Allende para a Presidência da República pela a Unidade Popular (uma aliança entre o Partido Socialista e o Partido Comunista chilenos). Em seu programa de governo, defendia a nacionalização dos setores estratégicos da economia chilena, além de inúmeras outras medidas progressistas e estruturais que, se concretizadas de fato, teriam mudado completamente o Chile.
A nacionalização envolvia os setores abocanhados pelas empresas imperialistas, principalmente norte-americanas. O boicotes aos planos do governo eram feitos interna e externamente. A burguesia se levantou, organizando uma sabotagem geral ao Estado, paralisando a produção de alguns setores e a circulação de boa parte das mercadorias. Os EUA impuseram vários embargos econômicos para pressionar Allende a mudar de rumo.
As respostas a estas ações burguesas vieram da classe operária chilena (e não do governo), que passou a ocupar inúmeras fábricas e a organizar os chamados "Cordões Industriais", uma espécie de conselhos operários que tinham a função de organizar as manifestações, mas também a produção e sua distribuição. Com isso, colocavam de pé um embrião de duplo poder frente ao impotente governo "socialistas". Estava instaurada uma situação de revolução e contra-revolução no Chile.
Como todo processo agudo de luta de classes, a situação seria definida ou a favor dos trabalhadores ou contra eles. Não havia mais perspectivas de conciliações ou convergências. O dramático neste processo, é que a Frente Popular, como toda clássica frente popular, limitou-se a confiar nas instituições do regime burguês e a impedir que a classe operária impusesse uma resposta pelas suas próprias forças. Enquanto uma vanguarda operária pedia armas para Allende, em manifestações públicas por todo país, o governo, com seu ministro da Defesa Augusto Pinochet, permitia que o exercito vistoriasse as fábricas e os bairros operários a procura de armas, que nunca existiram. Já estava em curso a preparação do golpe.
O Golpe de Estado de 11 de setembro de 1973 foi o mais sangrento de todos os golpes ocorridos na América Latina. Neste dia, o Estadio Nacional do Chile transformou-se numa local de detenção, tortura e assassinato. Segundo relatos, o rio que atravessa a capital Santiago ficou tingido de vermelho. Era o sangue dos operários mortes pelos fascistas.
Mataram o sonho de toda uma geração que escolheu mudar o seu destino rumo a uma sociedade melhor.
Por isso que neste 11 de setembro, lembrarei dos mortes daquele Chile de 1973. Lembrar e continuar lembrando é uma forma de resistência, pois a ordem social que proporcionou aquele golpe terrorista ainda continua viva, pronta para impedir qualquer nova tentativa de revolução.
Recomendo este vídeo do Ken Loach:
Johannes Vermeer [cartas]
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