Ato contra a Ditadura de 64 em Campinas

Contra-ato a comemoração ao Golpe de 1964 no Rio de Janeiro.

Interessante a movimentação pelo contra-ato em comemoração ao golpe de 64. Silvio Tendler é um velho cineasta, autor de "Jango" e muitos outros filmes deste gênero, que, como muitos outros de sua geração, tiveram ilusões nos governos que antecederam ao golpe. Sua indignação ao golpe deve-se ao ataque do que ele chamou de democracia pré-64, entretanto, os fatos precisam ser analisados mais de fundo, pois o que tivemos foram governos burgueses que tentavam tirar proveito de sua relação com as massas para manobrar nas suas fricções com as frações burguesas. Não se tratava de uma democracia plena, mas sim de um governo de contenção das massas que não poderia solucionar as contradições fundamentais da sociedade brasileira. O acirramento da luta de classes nos anos 1960 colocou em questão a luta pelo poder e uma resolução revolucionária. As massas camponesas, operárias e estudantis manifestavam suas demandas, em muitos casos de forma radicalizada. Entretanto, também em suas fileiras haviam aqueles que se alinhavam com as frações "progressistas" da burguesia, como era o caso do PCB, principal partido que dirigia os sindicatos operários e ainda com forte influencia nas Ligas Camponesas, mesmo com a dissidência de Francisco Julião. O resultado de toda complexa situação política foi o Golpe de 1964. Portanto, devemos marchar por outros motivos nestes próximos dias: não pela nostálgica "democracia" pré-64; mas pela força da classe operária brasileira, que assim que se levantou e mostrou a sua potencialidade, se necessitou de um golpe de estado para impedir seu desenvolvimento. Marchamos para relembrar aqueles que lutaram no passado e morreram nas mãos dos genocidas do regime militar. Marchamos para tirar a impunidade dos agentes da repressão. E, acima de tudo, marchamos para lembrar do futuro que ainda nos aguarda, e das lições passadas que devem nos iluminar...



A Lei da Anistia, o direito positivista e a impunidade dos torturadores.

O atual debate sobre a Anistia:

a mordaça herdada do passado e defendida no presente


Por Ricardo Festi

Recentemente teve início um novo capítulo da luta pela punição dos agentes da repressão do último regime militar brasileiro. Promotores do Ministério Público Federal do Pará resolveram acusar o coronel da reserva Sebastião Curió, símbolo da repressão à Guerrilha do Araguaia, por “sequestro qualificado” e crime continuado. Segundo os promotores, esse tipo de crime não se enquadra na relação de crimes prescritíveis. Ou seja, ele não seria enquadrado pela Lei da Anistia de 1979, que até hoje vem impedindo o julgamento e punição desses agentes. Esta ação dos promotores gerou um movimento reacionário, encabeçado pela mídia golpista e os principais personagens da criação e sustentação da Lei da Anistia, abrindo-se um novo debate político em torno desta questão.

No último domingo, o jornal O Estadão publicou uma entrevista com Miguel Reale Junior, professor titular da USP, ministro da justiça em 2002 no governo de FHC e um dos personagens na elaboração da Lei da Anistia, em que afirmou, sobre essa lei: “foi um processo de mão dupla, que também anistiou aqueles que praticaram tortura, que é um crime contra a humanidade. Ao mesmo tempo, porém, do ponto de vista interno, da política brasileira, foi o momento da volta dos cassados aos cargos públicos, dos professores às atividades universitárias, da organização dos partidos. Foi um preço alto? Foi. Mas foi o preço para trazer a paz política e social para o Brasil” (Estadão, 18/03/12).

Traduzindo em outras palavras: a Lei da Anistia é o sustentáculo do regime democrático burguês que surgiu no lugar da desgastada Ditadura Militar iniciada com o Golpe de 1964. Foi fruto de um acordo conciliatório entre os militares no poder e a sua maioria no Congresso Nacional, que tinha Sarney na presidência da casa, e a oposição burguesa e moderada, com Tancredo Neves à sua cabeça. Não à toa a chapa que ganha a eleição presidencial indireta anos mais tarde terá estes dois personagens à sua frente.

A sinceridade hipócrita de Reale é impressionante: “foi o preço para trazer a paz política e social para o Brasil”. Mais uma vez, traduzindo: foi a maneira que encontraram para impedir que a força do movimento operário, em ebulição naquele momento, com greves em todo país, se tornasse o fator determinante para impor uma transição ao regime democrático ou mesmo para outra forma de regime que superasse o Estado burguês.

Portanto, a ação de Miguel Reale e todos aqueles que compactuaram com a transição ao regime democrático, deixando os torturadores, repressores e ditadores impunes de seus crimes, manobraram dentro da superestrutura do Estado enquanto parte de uma ação consciente na luta de classe. No caso, ao lado do regime burguês. Agora esses mesmo agentes voltam a dar declarações a impressa defendendo um direito imutável e sagrado.

A ação dos procuradores é criativa, pois se trata de uma manobra dentro do sistema jurídico burguês, mas não é uma novidade. O Chile teve uma anistia muito parecida com a brasileira, garantindo impunidade a todos os que perpetraram violações de direitos humanos sob o regime do general Augusto Pinochet (1973-1990). No entanto, alguns procuradores usaram o argumento de que como os cadáveres não haviam sido recuperados após esses crimes, e era impossível determinar quando o crime prescrevera, a anistia não se aplicava a eles. Em 2004 a Suprema Corte chilena deu causa favorável aos procuradores e de lá para cá, mais de 700 agentes do Estado foram investigados e acusados de crimes nos tribunais chilenos, sendo que 30% deles foram condenados a cumprirem pena de prisão.

É necessário ser levado em consideração outra questão: diferente das demais ditaduras militares do Cone Sul, no Brasil o sistema Judiciário civil e militar foi muito mais cúmplice da repressão. Foram estes tribunais os responsáveis por muitas condenações a presos políticos – em sua maioria com base a evidências extraídas sob torturas. Lembremos da recente divulgação de uma foto de Dilma, ainda jovem, sendo julgado num tribunal militar. A mesma Dilma que hoje, junto com o PT, manobra para satisfazer os sinistros políticos da época da ditadura que sobreviveram depois da transição democrática.

Há ainda um longo caminho a ser percorrido até a conquista da efetiva punição dos agentes repressores da ditadura militar. É um direito ultrademocrático que nossa história seja esclarecida e que os crimes cometidos pelos agentes do Estado sejam julgados. Para isso é necessário um combate ao “fetichismo da norma” e do direito positivista, reproduzido por estes meios de comunicação e personagens da transição pactuada em nosso país. Se o direito é fruto de um estágio da luta de classes, ou seja, de uma correlação de forças entre as classes fundamentais da sociedade burguesa, garantido pelo aparato coercitivo do Estado, a possibilidade de muda-lo, arrancando concessões democráticas dentro do capitalismo, só será possível fruto também da luta e da organização do movimento sindical e político. Quanto a universidade, e em particular ao IFCH, é necessário uma intensificação dos debates políticos em torno desta questão e manifestações públicas contra a Lei da Anistia de 79 e pela punição de todos os agentes da repressão.

Publicado no Boletim da Juventude as Ruas!

"O socialismo jurídico" de Engels e Kautsky

Não é nosso objetivo neste Blog fazer propaganda de editoras, mas é inevitável um comentário sobre as publicações das obras de Marx e Engels pela Boitempo. O último lançamento traz a tradução de um texto de Engels e Kautsky sobre direito intitulado "O Socialismo Jurídico", uma análise sobre o direito burguês e, ao mesmo tempo, um combate contra os reformistas que acreditavam (e ainda acreditam) poder superar a ordem capitalista com a injeção de pequenas e contínuas medidas progressivas dentro do aparato das regulamentações jurídicas burguesas. Sem dúvida é uma instigante publicação para refletir neste momento em que as discussões sobre a legitimidade da Lei da Anistia de 1979 ou a legitimidade (e possibilidades) de qualquer ação contra os repressores da Ditadura Militar volta à tona.


Mais empolgante ainda é saber que está no prelo uma nova traduções de "O Capital" de Karl Marx.

Segue logo abaixo a apresentação do livro feita pela própria editora:


O socialismo jurídico

Friedrich Engels e Karl Kautsky

Planejado por Friedrich Engels e Karl Kautsky, o artigo “O socialismo jurídico” foi publicado sem assinatura na revista da social-democracia alemã,Neue Zeit, em 1887. O objetivo era dar uma resposta aos ataques à teoria econômica de Karl Marx, assim como elaborar uma crítica ao reformismo jurídico e combater a sua influência no movimento operário.

“À época da escrita deste livro, os reformistas, em combate às idéias revolucionárias de Marx, apontavam para uma transição controlada, objetivando ganhos por meio do aumento de direitos, sem transformar plenamente as contradições da exploração capitalista”, afirma na orelha do livro o professor da Faculdade de Direito da USP, Alysson Leandro Mascaro, para quem O socialismo jurídico é uma das obras clássicas do marxismo sobre a relação entre o direito e o capitalismo.

“Engels e Kautsky dedicam esta obra justamente a combater o socialismo dos juristas – ou o socialismo por meio do direito. O direito é, irremediavelmente, uma forma do capitalismo. Assim sendo, é a revolução – e não a reforma por meio de instituições jurídicas – a única opção realmente transformadora das condições das classes trabalhadoras”, conclui Mascaro.

O texto é também uma crítica ao livro O direito ao produto integral do trabalho historicamente exposto, do sociólogo e jurista burguês austríaco Anton Menger, publicado em 1886, e que vinha obtendo grande repercussão. Em tal obra, Menger tentou provar que a teoria econômica de Marx fora plagiada dos socialistas utópicos ingleses da escola ricardiana, especialmente William Thompson. Essas afirmações, bem como a falsificação da essência da teoria marxiana efetuada por Menger, não poderiam passar despercebidas a Engels, que decidiu interceder.

Além do artigo que dá título ao livro, este volume agora publicado pela Boitempo – traduzido do alemão por Lívia Cotrim e Márcio Bilharinho Naves, filósofo do direito brasileiro e autor do livroMarxismo e direito: um estudo sobre Pachukanis (Boitempo) – traz ainda duas cartas de Engels a Laura Lafargue (filha de Marx) escritas em Londres, em 1886, que também tratam do tema.

Trecho do prefácio de Marcio Bilharinho Naves

“O texto de Engels e Kautsky tem grande importância teórica e política e é de impressionante atualidade. Nestes tempos, em que se abate sobre o marxismo uma avassaladora ofensiva em nome da democracia, isto é, do direito, e em que a ideologia jurídica penetra profundamente no movimento operário e em suas organizações, vale a pena voltar a atenção para o ataque sem concessões que Engels e Kautsky dirigem contra o núcleo duro da ideologia burguesa, a sua concepção jurídica de mundo. [...] A crítica à visão jurídica aparece, de modo ainda mais expressivo, na análise que Engels e Kautsky realizam da passagem da concepção teológica de mundo feudal à concepção jurídica de mundo burguesa, na qual se revela a natureza especificamente burguesa do direito, como forma social relacionada de maneira íntima com o processo de trocas mercantis: Visto que o desenvolvimento pleno do intercâmbio de mercadorias em escala social – isto é, por meio da concessão de incentivos e créditos – engendra complicadas relações contratuais recíprocas e exige regras universalmente válidas, que só poderiam ser estabelecidas pela comunidade – normas jurídicas estabelecidas pelo Estado –, imaginou-se que tais normas não proviessem dos fatos econômicos, mas dos decretos formais do Estado. Temos aqui alguns elementos que autorizam a formulação de uma ideia crítica do direito, que permita denunciar o “fetichismo da norma” e se oponha à teoria normativista para a qual o direito aparece somente como um conjunto de normas garantido pelo poder coercitivo do Estado.”

Trecho do livro

“O direito jurídico, que apenas reflete as condições econômicas de determinada sociedade, ocupa posição muito secundária nas pesquisas teóricas de Marx; ao contrário, aparecem em primeiro plano a legitimidade histórica, as situações específicas, os modos de apropriação, as classes sociais de determinadas épocas, cujo exame interessa fundamentalmente aos que veem na história um desenvolvimento contínuo, apesar de muitas vezes contraditório, e não simples caos [Wust] de loucura e brutalidade, como a via o século XVIII. Marx compreende a inevitabilidade histórica e, em consequência, a legitimidade dos antigos senhores de escravos, dos senhores feudais medievais etc. como alavancas do desenvolvimento humano em um período histórico delimitado; do mesmo modo, reconhece também a legitimidade histórica temporária da exploração, da apropriação do produto do trabalho por outros; mas demonstra igualmente não apenas que essa legitimidade histórica já desapareceu, mas também que a continuidade da exploração, sob qualquer forma, ao invés de promover o desenvolvimento social, dificulta-o cada vez mais e implica choques crescentemente violentos.”

Sobre a coleção

A publicação de O socialismo jurídico dá continuidade ao ambicioso projeto da Boitempo de traduzir o legado de Karl Marx e Friedrich Engels, contando com o auxílio de especialistas renomados. Com 14 volumes publicados, a coleção Marx-Engels teve início com a edição comemorativa dos 150 anos do Manifesto Comunista, em 1998. Em seguida foi publicada A sagrada família (2003), obra polêmica que assinala o rompimento definitivo de Marx e Engels com a esquerda hegeliana. Os Manuscritos econômico-filosóficos (2004) vieram na sequência, ao qual se seguiram os lançamentos de Crítica da filosofia do direito de Hegel (2005); Sobre o suicídio (2006); A ideologia alemã (2007); A situação da classe trabalhadora na Inglaterra (2008);Sobre a questão judaica (2010); Lutas de classes na Alemanha (2010); O 18 de brumário de Luís Bonaparte (2011); A guerra civil na França (2011), em comemoração aos 140 anos da Comuna de Paris; os Grundrisse (2011); Crítica do Programa de Gotha (2012); e agora O socialismo jurídico. Ainda neste ano, a editora planeja publicar o primeiro volume de O capital.

Ficha técnica

Título: O socialismo jurídico
Título original: Juristen-sozialismus
Autores: Friedrich Engels e Karl Kautsky
Tradução: Lívia Cotrim e Márcio Bilharinho Naves
Prefácio: Márcio Bilharinho Naves
Orelha: Alysson Leandro Mascaro
Páginas: 80
ISBN: 978-85-7559-210-6
Preço: R$ 22,00 [preço ebook: R$ 13,00]
Editora: Boitempo

Veja também o sorteio de um livro do Marx: http://boitempoeditorial.wordpress.com/2012/03/14/sorteio-de-critica-do-programa-de-gotha-em-comemoracao-ao-aniversario-de-morte-de-karl-marx/

50 anos de Libertação da Argélia e as lições da geração de 68.

Por Ricardo Festi

Há exatos 50 anos a Guerra da Argélia terminava com uma importante vitória das forças de libertação nacional. O conflito foi retratado, alguns anos depois, no belíssimo filme ítalo-argelino A batalha de Argel (1966) dirigido por Gillo Pontecorvo. Este conflito, que durou de 1954 a 1962, foi um dos mais importantes na formação das futuras gerações de revolucionários da Europa e, centralmente, da França. Não há como entender as manifestações e as barricadas de maio-junho de 1968 na França sem compreender seu nexo com as batalhas realizadas alguns anos antes em defesa da independência do povo argelino.

A conjuntura do pós-Segunda Guerra Mundial era de enfraquecimento do imperialismo e colonialismo europeu e de explosão de lutas revolucionárias no mundo colônia ou semi-colonial. Neste período aconteceram as revoluções na China (1949) e em Cuba (1959) e a independência da grande parte das antigas colônias africanas e asiáticas. Mao e Che se tornaram ícones das gerações dos anos 1960/70. Gerações estas que apresentavam suas dissidências com o stalinismo e a URSS, principalmente depois do massacre realizado pelos tanques soviéticos na Revolução Húngara de 1956, e que procuravam novas formas de organização em pequenos grupos revolucionários de cunhos trotskistas, anarquistas, maoistas, guevaristas, etc.

Dentre todos os processos de luta por autodeterminação, a Guerra da Argélia teve efeito especial sobre os franceses. Filhos da pátria imperialista e opressora, milhares de jovens franceses passaram de meros espectadores ou de uma solidariedade passiva para ações concretas contra o imperialismo de seu próprio país. Um pouco antes, já na luta contra a Guerra do Vietnã, compreenderam que a vitória do terceiro mundo alastraria para dentro de seus países uma nova força revolucionária. Foi nesse contexto que se ampliou o apoio à Força de Libertação Nacional (FNL) da Argélia.

Portanto, diferente do que escreveu hoje o jornalista e corresponde do Estadão na França Gilles Lapouge (e correspondente deste jornal na época da Guerra da Argélia), de que a libertação argelina teria marcado o “fim do abismo” e o “início de uma longa amargura”, dizemos que ela marcou o início de uma nova geração de combatentes, em que a revolução era o centro de suas preocupações. Para atingir este fim, tinham que lutar contra uma sociedade burguesa caduca – e seus movimentos fascistas – e o stalinismo e o PCF, que agia conscientemente para impedir uma solidariedade real com os argelinos e separar os trabalhadores dos jovens revolucionários. Por algum tempo estes tiveram êxito em sua política, mas poucos anos depois explodiria na França, depois da brutal repressão sofrida pelo movimento estudantil no dia 11 de maio de 1968, a maior greve operária da história deste país, com ocupação de centenas de fábricas.

Em tempos de retorno dos conflitos sociais, a Guerra da Argélia nos traz inúmeras lições, dentre as quais a da necessidade de nos organizarmos e nos prepararmos, mesmo que no terreno ideológico e da propaganda, para os futuros grandes embates que teremos contra o capital. Nos traz também a necessidade de conhecermos estes grandes embates que ocorreram no século XX, tirando as lições dos erros e acertos, e nos apropriando do arcabouço do marxismo revolucionário.

* * *

Para não nos alongarmos mais, reproduzimos abaixo um trecho de um folheto publicado no calor dos acontecimentos de 1968 por Daniel Bensaid (um dos principais líderes estudantis em 1968 e futuro dirigente da Liga Comunista Revolucionária, organização trotskista mandelista) e Henri Weber:

O processo mediante o qual tem adquirido o movimento estudantil francês sua fisionomia atual se iniciou nos últimos anos da guerra da Argélia. Frente as atrocidades colonialistas do norte da África apareceu um movimento de rebelião moral entre os intelectuais e os estudantes franceses. A política do imperialismo francês feria diretamente a ideologia humanista compartilhada na universidade liberal. Casa vez era mais os estudantes que se colocavam contra a guerra colonial. Os mais conscientes e resolutos entravam nas organizações clandestinas de ajuda a FLN: Jovem Resistência, Movimento Anticolonialista Francês, Grupo Nizan. Ombro a ombro com os combatentes argelinos, se encarregavam de atividades de apoio e de reunir fundos. Organizavam, além disso, um perigoso trabalho de propaganda revolucionária no exército, a difusão de panfletos em quarteis, a implantação de núcleos militantes nos regimentos, a realização de espetaculares golpes de mão, como a detenção pela força dos abertos dos comboios de soldados. Frente a traição patriótica do Partido Comunista Francês, algumas centenas de estudantes se esforçaram assim em salvar a honra internacionalista do movimento operário francês.

Mas a massa estudantil estava disposta a apoiar a luta do povo argelino. Estudantes universitários e secundaristas iam a milhares nas manifestações contra a guerra colonialista. A batalha entre os defensores da Argélia Francesa e os partidários da independência era canalizada no seio da UNEF. A atitude do movimento estudantil frente a Revolução Argelina se achava no centro de todos os debates. As principais associações gerais caíam uma após outra nas mãos da esquerda. Os “minoritários” se convertiam em “majoritários”. O burô nacional da UNEF mudava de orientação e de mãos. A 27 de outubro de 1960 organizava uma manifestação na Mutualité. Apesar das denuncias do PCF e da UEC, que qualificavam esta iniciativa de provocação esquerdista idealizada pelo chefe da polícia, mais de 15.000 estudantes se concentraram na Plaza Saint-Victor e faziam frente aos guardas.

A partir de então se acelerou consideravelmente o processo de radicalização do meio estudantil. A OAS começava sua campanha de terrorismo na Argélia e na França. Frente à ameaça fascista, alguns militantes do círculo de história da UEC organizavam na Sorbone comitês de ação anti-fascistas, filiados na “frente estudantil anti-fascista” cujo objetivo era limpar o Bairro Latino dos comandos da OAS e da Juene Nación. Teve um êxito imenso na Sorbone, onde poucos dias depois de sua criação reagrupava já a várias centenas de militantes. O movimento se estendeu muito rápido as demais faculdades e aos meios intelectuais. Então tomou o nome de FUA. Sua ação foi metódica e eficaz: contando com arquivos bastante completos, organizava uma batida em regra de todo o Bairro Latino e expulsava das faculdades os militantes de extrema direita, simpatizantes e gente semelhante. Dona já do terreno, a FUA realizava intensa agitação em favor da independência da Argélia, com incursões relâmpagos contra as reuniões favoráveis à OAS, onde quer que se celebrassem. A vitória material conseguida em algumas semanas sobre os fascistas dava a FUA um prestígio enorme. Rapidamente esteve em condições de mobilizar dentro de prazos mínimos manifestações por surpresa milhares de estudantes. No dia da proclamação da independência argelina, seus militantes içaram por cima da Sorbone a bandeira da FNL.

O processo de radicalização política do meio estudantil, nascido do rechaço da guerra colonial, devia influir profundamente o movimento estudantil.

Iria provocar a metamorfose da UNEF, que de organização corporativista e folclórica se lançaria a experiência do sindicalismo estudantil.

Iria precipitar as crises da UEC, contida e secreta até então.

Iria criar condições e o marco político dentro dos quais se educou uma geração de militantes revolucionários que em sua maior parte são hoje os membros fundadores e os dirigentes dos grupos [revolucionários].

Trecho extraído do folheto Maio 68 – Ensaio Geral, escrito pelos jovens Daniel Bensaid e Henri Weber (e traduzido pelo autor deste artigo), ainda no calor dos acontecimentos. Detalhe: conseguimos este folheto, um tosco conjunto de folhas mimeografadas, com um livreiro de Porto Alegre (que ficamos sabendo depois se tratar de um ex-militante trotskistas) numa de nossas incursões pelo Estante Virtual.

129 anos depois, Marx continua presente.

Há 129 anos morria o maior pensador e revolucionário de nossa época, Karl Marx. Suas ideias mudaram a forma de pensar o mundo e seu legado para a classe trabalhadora foi incalculável. Ele, como poucos, compreendeu o seu tempo e, mais que isso, lutou por transformá-lo. Como todos os homens, Marx um dia se foi. Mas, como poucos homens, continuou vivo desde então através da força de suas ideias. Gerações e gerações de revolucionários deram continuidade a teoria e a prática que ele havia iniciado no século XIX. Camaradas como Rosa Luxemburgo, Lenin, Gramsci e Leon Trotsky.
Neste dia de lembranças e revigoramento do pensamento de Marx, reproduzimos o discurso de Engels em sua sepultura.


Discurso de Engels diante da sepultura de Karl Marx, no dia 17 de março de 1883.

A 14 de Março, um quarto para as três da tarde, o maior pensador vivo deixou de pensar. Deixado só dois minutos apenas, ao chegar, encontrámo-lo tranquilamente adormecido na sua poltrona — mas para sempre.

O que o proletariado combativo europeu e americano, o que a ciência histórica perderam com [a morte de] este homem não se pode de modo nenhum medir. Muito em breve se fará sentir a lacuna que a morte deste [homem] prodigioso deixou.

Assim como Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da Natureza orgânica, descobriu Marx a lei do desenvolvimento da história humana: o simples facto, até aqui encoberto sob pululâncias ideológicas, de que os homens, antes do mais, têm primeiro que comer, beber, abrigar-se e vestir-se, antes de se poderem entregar à política, à ciência, à arte, à religião, etc; de que, portanto, a„pro-dução dos meios de vida materiais imediatos (e, com ela, o estádio de desenvolvimento económico de um povo ou de um período de tempo) forma a base, a partir da qual as instituições do Estado, as visões do Direito, a arte e mesmo as representações religiosas dos homens em questão, se desenvolveram e a partir da qual, portanto, das têm também que ser explicadas — e não, como até agora tem acontecido, inversamente.

Mas isto não chega. Marx descobriu também a lei específica do movimento do modo de produção capitalista hodierno e da sociedade burguesa por ele criada. Com a descoberta da mais-valia fez-se aqui de repente luz, enquanto todas as investigações anteriores, tanto de economistas burgueses como de críticos socialistas, se tinham perdido na treva.

Duas descobertas destas deviam ser suficientes para uma vida. Já é feliz aquele a quem é dado fazer apenas uma de tais [descobertas]. Mas, em todos os domínios singulares em que Marx empreendeu uma investigação — e estes domínios foram muitos e de nenhum deles ele se ocupou de um modo meramente superficial —, em todos, mesmo no da matemática, ele fez descobertas autónomas.

Era, assim, o homem de ciência. Mas isto não era sequer metade do homem. A ciência era para Marx uma força historicamente motora, uma força revolucionária. Por mais pura alegria que ele pudesse ter com uma nova descoberta, em qualquer ciência teórica, cuja aplicação prática talvez ainda não se pudesse encarar — sentia uma alegria totalmente diferente quando se tratava de uma descoberta que de pronto intervinha revolucionariamente na indústria, no desenvolvimento histórico em geral. Seguia, assim, em pormenor o desenvolvimento das descobertas no domínio da electricidade e, por último, ainda as de Mare Deprez.(1*)

Pois, Marx era, antes do mais, revolucionário. Cooperar, desta ou daquela maneira, no derrubamento da sociedade capitalista e das instituições de Estado por ela criadas, cooperar na libertação do proletariado moderno, a quem ele, pela primeira vez, tinha dado a consciência da sua própria situação e das suas necessidades, a consciência das condições da sua emancipação — esta era a sua real vocação de vida. A luta era o seu elemento. E lutou com uma paixão, uma tenacidade, um êxito, como poucos. A primeira Rheinische Zeitung[N47] em 1842, o Vorwärts![N126] de Paris em 1844, a Brüsseler Deutsche Zeitung[N53] em 1847, a Neue Rheinische Zeitung em 1848-1849(2*), o New-York Tribune[N62] em 1852-1861 — além disto, um conjunto de brochuras de combate, o trabalho em associações em Paris, Bruxelas e Londres, até que finalmente a grande Associação Internacional dos Trabalhadores surgiu como coroamento de tudo — verdadeiramente, isto era um resultado de que o seu autor podia estar orgulhoso, mesmo que não tivesse realizado mais nada.

E, por isso, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado do seu tempo. Governos, tanto absolutos como republicanos, expulsaram-no; burgueses, tanto conservadores como democratas extremos, inventaram ao desafio difamações acerca dele. Ele punha tudo isso de lado, como teias de aranha, sem lhes prestar atenção, e só respondia se houvesse extrema necessidade. E morreu honrado, amado, chorado, por milhões de companheiros operários revolucionários, que vivem desde as minas da Sibéria, ao longo de toda a Europa e América, até à Califórnia; e posso atrever-me a dizê-lo: muitos adversários ainda poderia ter, mas não tinha um só inimigo pessoal.

O seu nome continuará a viver pelos séculos, e a sua obra também!

Fonte: marxism.org

Indicação de sites e blogs sobre Sociologia no Ensino Médio


Sites (sítios),  Blogs e outros links sobre sociologia no Ensino Médio

- Colégio D. Pedro II – Departamento de Sociologia - http://www.cp2.g12.br/UAs/se/departamentos/sociologia/index.html
 
- Laboratório de Ensino de Sociologia Florestan Fernandes - http://www.labes.fe.ufrj.br/
 
- LEFIS – Laboratório interdisciplinar de ensino de Filosofia e Sociologia http://www.sed.sc.gov.br/lefis/ 

- Projeto Praxis - biblioteca virtual e rede social http://praxis.ufsc.br/
 
- Biblioteca Virtual das Ciências Sociais – Florestan Fernandes
 
- Laboratório de Ensino de Sociologia (LES) – USP - http://www.ensinosociologia.fflch.usp.br/
 
- Blog - Sociologia em Teste - http://sociologiaemteste.blogspot.com/
 
 
- Centro de referência  virtual do Professor – Minas Gerais    http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/INDEX.ASP?ID_OBJETO=23967&ID_PAI=23967&AREA=AREA&P=T&id_projeto=27 (Procurar em cada item –Médio – Sociologia)
 
 
- Sociologia em rede - http://sociologiaemrede.ning.com/ 
 
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- Ensino de Sociologia - http://ensinosociologia.pimentalab.net
 
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- Associação portuguesa de sociologia - http://www.aps.pt/index.php




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- Associação portuguesa de sociologia - http://www.aps.pt/index.php

Sites (sítios),  Blogs e outros links sobre sociologia no Ensino Médio

- Colégio D. Pedro II – Departamento de Sociologia - http://www.cp2.g12.br/UAs/se/departamentos/sociologia/index.html
 
- Laboratório de Ensino de Sociologia Florestan Fernandes - http://www.labes.fe.ufrj.br/
 
- LEFIS – Laboratório interdisciplinar de ensino de Filosofia e Sociologia http://www.sed.sc.gov.br/lefis/ 

- Projeto Praxis - biblioteca virtual e rede social http://praxis.ufsc.br/
 
- Biblioteca Virtual das Ciências Sociais – Florestan Fernandes
 
- Laboratório de Ensino de Sociologia (LES) – USP - http://www.ensinosociologia.fflch.usp.br/
 
- Blog - Sociologia em Teste - http://sociologiaemteste.blogspot.com/
 
 
- Centro de referência  virtual do Professor – Minas Gerais    http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/INDEX.ASP?ID_OBJETO=23967&ID_PAI=23967&AREA=AREA&P=T&id_projeto=27 (Procurar em cada item –Médio – Sociologia)
 
 
- Sociologia em rede - http://sociologiaemrede.ning.com/ 
 
- Blog de Sociologia do Professor Denis Wesley
 
- Blog Professores de sociologia – Ceará  http://sociologiaceara.blogspot.com/
 
- Blog - Sociologia na rede - http://www.cienciassociaisnarede.blogspot.com/
 
- Blog – Acessa sociologia - http://acessasociologia.zip.net/ 
 
- Ensino de Sociologia - http://ensinosociologia.pimentalab.net
 
- Mutirão de Sociologia - http://www.mutiraodesociologia.com.br/

- Blog – Informe e crítica - http://informecritica.blogspot.com/
- Mangue sociológico - http://manguevirtual.blogspot.com/
- Circulo brasileiro de sociologia - http://circulobrasileirodesociologia.blogspot.com/
- Ciência social Ceará - http://cienciasocialceara.blogspot.com/
- Oficina sociológica - http://oficinasociologica.blogspot.com/
- Que cazzo é esse?!! - http://quecazzo.blogspot.com/
- Associação portuguesa de sociologia - http://www.aps.pt/index.php

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- LEFIS – Laboratório interdisciplinar de ensino de Filosofia e Sociologia http://www.sed.sc.gov.br/lefis/ 

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- Biblioteca Virtual das Ciências Sociais – Florestan Fernandes
 
- Laboratório de Ensino de Sociologia (LES) – USP - http://www.ensinosociologia.fflch.usp.br/
 
- Blog - Sociologia em Teste - http://sociologiaemteste.blogspot.com/
 
 
- Centro de referência  virtual do Professor – Minas Gerais    http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/INDEX.ASP?ID_OBJETO=23967&ID_PAI=23967&AREA=AREA&P=T&id_projeto=27 (Procurar em cada item –Médio – Sociologia)
 
 
- Sociologia em rede - http://sociologiaemrede.ning.com/ 
 
- Blog de Sociologia do Professor Denis Wesley
 
- Blog Professores de sociologia – Ceará  http://sociologiaceara.blogspot.com/
 
- Blog - Sociologia na rede - http://www.cienciassociaisnarede.blogspot.com/
 
- Blog – Acessa sociologia - http://acessasociologia.zip.net/ 
 
- Ensino de Sociologia - http://ensinosociologia.pimentalab.net
 
- Mutirão de Sociologia - http://www.mutiraodesociologia.com.br/

- Blog – Informe e crítica - http://informecritica.blogspot.com/
- Mangue sociológico - http://manguevirtual.blogspot.com/
- Circulo brasileiro de sociologia - http://circulobrasileirodesociologia.blogspot.com/
- Ciência social Ceará - http://cienciasocialceara.blogspot.com/
- Oficina sociológica - http://oficinasociologica.blogspot.com/
- Que cazzo é esse?!! - http://quecazzo.blogspot.com/
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