Pense no Haiti, no Haiiiitiiiiiiii... (com revolta)!


É revoltante a situação do Haiti. Não podemos ficar passivos frente a tal acontecimento por achar que foi catastrofe natural, fruto de um terremoto. Os grandes meios de comunicação e os governos culpam a natureza, no entanto, as modificações ocorridas na superfície não são fruto da natureza, mas das relações humanas. A intensidade da desgraça no Haiti é consequência da miséria deste país, fruto deste sistema capitalista. Um terremoto destas proporções no Japão não produziria tantas morte, já que possuem uma infra-estrutura ultra moderna nas construções para se prevenir dos terremotos, e uma rede de hospitais e de salvamento prontos para agir. Já no Haiti, o pouco de estrutura que tinham em Porto Príncipe parece ter sido destruído agora com o terremoto. Fala-se em 100 mil mortos ou até mais.
Nas imagens da TV, milhares sofrendo, desesperados em meio as ruas, enquanto que no prédio da ONU centenas de militares e ajudantes salvando os agentes do imperialismo, diga-se de passagem, brancos! E o exército brasileiro? Alguém ainda acha que ele foi para lá em missão de paz? Cadê a sua ajuda? O que contribuiu de positivo para esse país miserável, senão fazer um papel nefasto de subserviência ao imperialismo e treinar tropas para atuar nos morros e na periferia do Brasil? Lembrem-se, Haiti fica há alguns quilômetros da costa dos EUA, e nos anos 1990 milhares de haitianos fugiam em botes para este país. Por isso que toda declaração vinda dos chefes de Estado são hipócritas!

Toda solidariedade ao povo haitiano! Organizar uma ação internacional ao povo haitiano a partir dos sindicatos, locais de trabalho, organizações políticas de esquerda.


Para quem quiser ler notícias de um grupo de brasileiros, pesquisadores da
Unicamp, que estão no Haiti, entrem em: http://lacitadelle.wordpress.com/






Os filhos do Brasil não vão ao cinema.



Sem nada pra fazer no segundo dia de 2010 fui assistir a estréia do filme “Lula, o filho do Brasil” de Fábio Barreto. Uma porcaria! Esteticamente fraco, o diretor perde uma grande oportunidade de propor uma reflexão sobre o Brasil de Lula. O caminho escolhido para a narrativa não é tão ruim, – e nisso confesso que o diretor me surpreendeu, pois esperava uma história concentrada nas greves dos anos 1970 e na constituição do mito “Lula” - pois, ao reconstituir a vida de Luis Inácio da Silva, do seu nascimento no interior nordestino ao líder sindical das greves do ABC paulista, o filme mostrou parcialmente o percurso traçado por tantas vidas serverinas deste país enorme nas extensões e nas contradições. Muitas são as imagens: o moderno que caminha e cresce diante das mazelas do arcaico; o tempo vagaroso do rural sendo substituído pelas engrenagens e o concreto da cidade. Um país que soube dialeticamente se industrializar e crescer sem romper radicalmente com as estruturas mais reacionárias do seu passado colonial. Se o personagem principal fosse o Brasil o filme teria sido muito mais interessante.


O diretor poderia ter problematizando estas questões em seu filme, transformando a figura de Lula, em mero ponto de partida para uma reflexão mais profunda, com uma estética que nos remetesse aos projetos de Glauber Rocha. Mas Barreto preferiu a estética global, o senso-comum e o cinema comercial. Em ultima instância, seu filme não deixa de ser uma forma de reafirmar mais uma vez o “mito” Lula, algo que muitos outros diretores e autores já fizeram no passado com muito mais sofisticação.


Ao chegar ao cinema, fui surpreendido por algumas coisas. A primeira delas foi o próprio público. Tentei chegar bem cedo, pois minha lógica é que as entradas logo se esgotariam. Pensei: se o Lula tem a incrível marca de 83% de aprovação é óbvio que um filme sobre ele será uma grande sensação. A fila estava realmente enorme, porém as pessoas ali estavam preocupadas em assistir “Avatar”, a nova sensação de efeitos especiais de James Cameron – uma produção que chegou a marca dos 500 milhões de dólares. A minha surpresa deveu-se a um erro de análise do público e do local.


A segunda surpresa veio quando entrei na sala: quase não havia jovens. A absoluta maioria do público era de pessoas acima dos 40 anos de idade. Poderíamos pensar que novamente o “Avatar” explicaria - pois os velhos não se interessam por histórias de ET’s azuis? O fato é que tinha poucos jovens. Neste caso, há que esperar e ver como serão as próximas sessões, mas em minha opinião a questão é que as novas gerações não se interessam pela história de Lula, pois quando adquiriram alguma consciência política era Lula e o PT quem governava o país com sua política conservadora, distante de qualquer prática e programa de esquerda. Esta é a primeira geração que não apostou, em nenhum momento de sua vida, em Lula ou no PT como projeto de esquerda para o Brasil. Por quê então se interessar pela história do presidente Lula?


O meu ultimo grande erro, talvez o maior deles, foi achar que ali naquele espaço estariam uma fração dos 83% que apóiam o presidente. Sua aprovação, apesar de alta mesmo na pequena burguesia, é qualitativamente diferente do apoio que recebe dos milhões de explorados e famintos, homens em mulheres de vida sofrida, que não tem dinheiro para poder pagar a entrada do cinema (nem mesmo possuem um cinema em suas cidades). Estes, desgraçadamente, assistirão ao filme quando ele chegar aos camelôs ou for exibido pela Globo. E se emocionarão com a história do jovem pernambucano que vira sindicalista, assim como se emocionaram com o filme sobre os filhos de Francisco que viram astros do sertanejo.


Enquanto o mito de Lula continua a ser reproduzido, os filhos do Brasil continuam a sofrer com as enchentes, a exploração, as demissões, a precarização do trabalho, a miséria, a seca... O Brasil dos contrastes continua seguindo seu percurso para a ilusão do país potência. Precisamos de um novo filme que conte a história dos milhões de filhos do Brasil sem os mitos sindicalistas, populistas, messiânicos... Uma nova geração que, sonhadora da revolução, coloque abaixo todos os mitos! Eu escolho estar com estes!