Desumanas condições na moradia das obras do Santander

Desumanas condições na moradia operária das obras do Santander
Uma faceta do “Brasil potência” em Campinas

Por Ricardo Festi

Enquanto os grandes meios de comunicação dão destaque em suas manchetes ao fato do Brasil ultrapassar o Reino Unido no ranking global do Produto Interno Bruto (PIB), se tornando a sexta economia do mundo, em suas colunas secundárias são noticiadas algumas das verdadeiras causas que propiciaram o crescimento econômico destes últimos anos, como o aumento da intensidade da exploração do trabalho. Obviamente, que estas mídias, a serviço dos interesses do capital, não explicam a relação entre causa e efeito deste processo de superexploração do trabalho. Apenas cumprem o seu papel de difundir a falsa idéia de que caminhamos para um “Brasil potência”.

Segundo dados preliminares divulgados recentemente pelo IBGE, a maior parte das vagas de empregos criados entre 2000 e 2010 foi ocupada por trabalhadores remunerados em até dois salários mínimos. Em 2000, esse contingente representava 49% de toda força de trabalho. Em 2010, atingira 63%. Entretanto, esses empregos estão concentrados nos setores de serviço e da construção civil, e apresentam um alto índice de rotatividade.

Recentemente, tivemos em Campinas um exemplo de como vem ocorrendo o crescimento econômico dos últimos anos em nosso país. Na última quarta-feira, o Ministério Público do Trabalho interditou o alojamento operário das obras do centro de processamento do Banco Santander, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas. O alojamento apresentava péssimas condições de moradia aos trabalhadores. Na casa, moravam cerca de 20 pessoas e, por falta de espaço, muitos dormiam na varanda. Com apenas um banheiro, os operários improvisavam seus banhos com uma mangueira no quintal. Foi constatada também uma infestação de carrapatos no fundo do quintal da casa.
Foto extraídas do site da EPTV Campinas

Este não foi o primeiro e nem será o último canteiro de obras com péssimas condições de higiene e instalações. Nestes últimos anos, foram várias as denúncias e intervenções do Ministério Público em empresas e canteiros de obras, alguns com relativo destaque nas mídias. Todos devem se lembrar do escândalo causado, em meados deste ano, ao se descobrir, em Americana, um foco de trabalho escravo numa oficina que produzia calças para a grife Zara. Esta é apenas uma faceta deste “Brasil potência”: de um lado, cresceu o trabalho ultra-precário (e até mesmo escravo); de outro, as grandes corporações lucraram somas incalculáveis à custa desta exploração.

Voltemos ao caso de Campinas envolvendo o Santander, o maior banco da Zona do Euro e o quarto maior banco do mundo segundo a revista Forbes de 2010. O empreendimento em Campinas não é dos pequenos. Trata-se da construção do seu principal centro de processamento de dados no país, de uma unidade administrativa e de uma unidade de pesquisa. Quando finalizado, será responsável por 66% de todas as operações do Santander no Brasil. Localizado no segundo Pólo Tecnológico de Campinas, entre a Unicamp e a PUCCamp, a obra deverá custar mais de 270 milhões de dólares entre infraestrutura e equipamentos e ocupará uma área de 1 milhão de metros quadrados – o equivalente a 10 estádios do Morumbi.

As contradições entre a envergadura do empreendimento e as degradantes condições de moradia dos operários da obra não param nesses dados. No ano passado, o banco anunciou que este complexo seria construído com a mais alta tecnologia em nível de segurança e sustentabilidade, o chamado “TI Verde”. Segundo uma definição que podemos encontrar na internet, “TI Verde” seria uma área de tecnologia da informação que liga sustentabilidade a utilização dos recursos computacionais com objetivos de reduzir o consumo de eletricidade, matéria-prima e a emissão de Dióxido de Carbono (CO2), bem como se preocupa em reduzir o impacto de seu lixo eletrônico.

Entretanto, além de contrastar com a própria realidade das obras, esse discurso da sustentabilidade, tão em voga entre as grandes empresas, é incompatível com a própria lógica do capital. É da natureza deste sistema baseado na acumulação de capitais uma relação predatória com a natureza. O capitalismo destrói o meio ambiente, pois precisa retirar dele o máximo de lucro possível, esgotando seus recursos e poluindo água, mar e terra. Ao mesmo tempo, desumaniza o próprio homem, sugando as suas forças e o seu tempo num trabalho cada vez mais intenso e precário.

Portanto, é impossível sustentabilidade no capitalismo. Todo discurso ecológico das empresas é uma grande mentira e constitui parte de um discurso ideológico que serve para falsificar a verdadeira realidade destrutiva do capital. Veja-se o clamor em torno de Steve Jobs e a falsa ideia de que a Apple é uma empresa moderna e sustentável. Pode ser que sua matriz seja pautada numa arquitetura moderna e que tenha uma relação de trabalho mais flexível, com engenheiros e cientistas ganhando altos salários. Mas esta não é a realidade nas fábricas que produzem seus produtos. Bem sabe os trabalhadores chineses da Foxcom, com alto índice de suicídio devido ao insuportável ambiente de trabalho, o verdadeiro caráter da fabricante dos Iphones e Ipads.

Esse discurso ideológico sobre a sustentabilidade empresarial encontra eco numa específica camada da sociedade: a pequena burguesa (ou classes médias). Historicamente hipócrita e responsável por um alto nível de consumo, ela fecha os olhos para a exploração ocorrida sobre as massas populares. Está preocupada demais em manter sua estabilidade econômica para poder enxergar a realidade a sua frente. Quando o consegue, o máximo que faz é criar algumas entidades filantrópicas para deixar a sua consciência cristã tranquila. Vive sonhando em conquistar o status social da burguesia, mas não tem renda suficiente para tanto, e teme se empobrecer como um operário. Por isso que, em tempos de passividade e bonança, essa camada é tão reacionária e antioperária.

Tivemos um bom exemplo desta hipocrisia entre os membros da associação de moradores da Cidade Universitária de Barão Geraldo. Em setembro, fizeram uma reunião com os representantes das obras do Santander – o Pólo Tecnológico fica logo atrás este bairro. Diziam estar preocupados com os impactos que a obra traria para a região, como a violência e o aumento do trafego de carros. Entretanto, suas verdadeiras preocupações giravam em torno das “repúblicas” operárias – em analogia as repúblicas estudantis -, ou seja, com as moradias dos operários das obras. O problema é a presença no bairro destes operários negros e nordestinos, muitos com problemas de alcoolismo, o que estariam fazendo muito barulho durante a noite, incomodando os bons costumes deste bucólico bairro branco. Mas, durante a reunião, nenhuma palavra sobre as condições de vida e de trabalho destes mesmos operários.

Voltando ao problema da moradia operária interditada pelo Ministério Público. Neste caso, o Santander deve anunciar que nada sabia sobre as suas condições, isentando-se das responsabilidades. Isso evidencia outra questão sobre as formas de relações de trabalho que foram se constituindo nas últimas décadas: a terceirização.

Não são os funcionários com hollerith da Apple que constroem os seus aparelhos em troca de um mísero salário; também não são os funcionários da Zara que confeccionam as suas calças em troca de R$ 2,00 a peça, enquanto ela é vendida na loja por R$ 200,00; assim como estes operários de Barão Geraldo não são contratados pelo Banco Santander. O que existe em comum entre todos eles é que são trabalhadores de empresas terceirizadas. E a função da terceirização é esta: percarizar (baratear) a força de trabalho; dividir os trabalhadores em vários contratos; e enfraquecer sua força sindical.

No caso, a empresa responsável pela obra do Santander é a GLM Projetos e Construções Civis LTDA, contratada pelo banco para realizar a construção dos prédios. Uma rápida pesquisa pela internet nos demonstrou que esta empresa tem como endereço de sua sede uma pequena sala comercial na cidade de Goiânia. Dá pra imaginar dois ou três funcionários cuidando desta sede, pois é assim que funciona a terceirização neste setor: são empresas de fachadas, prontas para ganhar uma licitação e lucrar em cima da exploração dos operários. Recebem um montante significativo para executar a obra e aplicam o mínimo possível na força de trabalho. Muitas destas empresas terceirizadas fecham as suas portas antes de terminarem as obras, deixando atrasados salários e direitos trabalhistas. As péssimas condições de moradia descobertas em Campinas são para a GLM apenas uma forma de redução de custos.

Como afirmamos anteriormente, este não foi o primeiro e infelizmente não será o ultimo canteiro de obras em Campinas com essas condições de trabalho e moradia. Ao longo dos últimos anos, além de condições similares a essas, foram encontrados trabalho escravo na região. Este alto índice de ocorrência deve-se ao fato de Campinas ter tido um papel de destaque neste último ciclo de crescimento econômico (para se ter uma ideia, o PIB da região metropolitana de Campinas cresceu acima da média nacional na ultima década), acumulando de forma concentrada as principais contradições deste “Brasil potência”.

Torcemos para que estas condições de trabalho e moradia despertem novas Jiraus na região. Mas também estamos conscientes de que isso dependerá do grau de organização destes trabalhadores, da superação de um velho sindicalismo burocrático, da atuação das organizações de esquerda e da solidariedade vinda das demais categorias (principalmente metalúrgicos e químicos, as duas mais fortes da região). Que os ventos internacionais transformem essas revoltantes condições de trabalho em revoltas sociais!

A crise capitalista vai ao Cinema!

"Margin Call - O dia antes do fim" é uma ficção sobre a quebra do Lehman Brothers. Um retrato do cinismo e da hipocrisia dos altos executivos do mundo financeiro de Wall Street, um dia antes de explodir a maior crise capitalista que devastou o mundo desde 1929. Soma-se aos documentários Inside Job (trabalho interno) de Charles Ferguson e Capitalismo uma história de amor de Michael Moore, enquanto retrato crítico do mundo econômico. Que a crise seja paga pelos capitalistas!

A Democracia Corinthiana e a transição "democrática".

No dia 09 de dezembro, foi lançado na internet o documentário "Ser campeão é um detalhe: Democracia Corinthiana", curta-metragem produzido pela DNA Filmes e pelo Instituto de Artes da UNICAMP. Construído a partir de entrevistas com os jogadores, a equipe técnica e a diretoria da época (início dos anos 1980), além das opinões de Juca Kfouri e de historiadores, é um ótimo vídeo para quem gosta de futebol e quer conhecer um pouco mais deste momento histórico do pós-78. O contexto é singular: a Ditadura Militar caminhava para o seu fim diante de um amplo e massivo movimento popular por democracia; as greves dos metalurgicos do ABC já tinham incendiado o movimento operário; o movimento estudantil se reorganizava; o PT e a CUT tinham sido fundados... Mas, por outro lado, também havia forte repressão do regime militar a estes movimentos e setores dentro do regime contrários a reabertura política - exemplo, o atentado frustrado no Riocentro em 1981. Imperava uma tensão sobre o futuro!

Era um momento de crise em todas as esferas da sociedade brasileira, e o futebol não estaria alheio a isso. Mas é uma pena que esta experiência corinthiana não tenha vingado. Pelo contrário! Também no futebol a reação neoliberal fez escola. Na segunda metade dos anos 1980 surgiu o "Clubo dos 13" e com ele times/empresas voltadas para ganhar títulos, vender jogadores e ter grandes somas de lucros. Dá a impressão que a experiência ocorrida no Corinthians com a "Democracia Corinthiana" pode ser uma caricatura em miniatura do que ocorreu no país com o processo de redemocratização: o movimento foi forte, questionou as estruturas, teve relativo sucesso, mas de longe conseguiu abalar as reais estruturas de dominação. Os reacionários continuaram no poder, agora com uma nova roupagem!


Uma indicação bibliográfica sobre o tema:
Democracia corintiana Subtítulo: a utopia em jogo de Sócrates e Ricardo Gozzi
Editora Boitempo.

Surge movimento pró-Sociedade Brasileira de Ensino de Sociologia

Desde que a Sociologia tornou-se uma disciplina obrigatória no currículo do ensino médio, os professores e profissionais desta área vêm realizando uma batalha dispersa e fragmentada, em seus Estados ou escolas, em defesa da implementação efetiva e/ou manutenção da Sociologia. Além disso, com a aprovação da obrigatoriedade, abriram-se novos debates acerca dos conteúdos programáticos, dos métodos e das práticas pedagógicas, dos livros didáticos e das condições de trabalho do professor. Essas lutas e reflexões demandam a necessidade de uma articulação nacional entre professores do ensino médio, docentes universitários ou pesquisadores e estudantes de licenciatura. Foi nesse sentido que um grupo de acadêmicos e professores impulsionaram um Manifesto em prol da criação de uma associação nacional de ensino de sociologia (ciências sociais). Ela já conta com um dinâmico e-grupo, responsável pela articulação nacional nesta fase pré-associação, e com o apoio de mais de 300 pessoas (dezembro de 2011).

Aos companheir@s interessados em participar desta iniciativa, reproduzo logo abaixo o Manifesto, com o link para quem quiser assina-lo.

Manifesto pró-criação da Sociedade Brasileira de Ensino de Ciências Sociais-Sociologia – SBECS-Soc

Com as crescentes demandas relacionadas com o ensino das Ciências Sociais em geral e da Sociologia no Ensino Médio, resolvemos propor a criação da Sociedade Brasileira de Ensino de Ciências Sociais-Sociologia - SBECS-Soc - (nome e sigla provisórios).


O propósito da SBECS-Soc é agregar professores da educação básica aqueles das universidades que estejam interessados ou preocupados com o ensino das ciências sociais/sociologia, em todos os níveis educacionais. Além de criar canais de comunicação entre estes professores propõe-se realizar uma ponte entre ensino básico e a universidade.


Parte-se da ideia que não há nenhuma organização brasileira que trate especificamente desta questão e ao mesmo tempo integre todos os professores de todos os níveis educacionais da área. Por isso, a SBECS-Soc visa a integrar como seus associados professores do ensino básico, dos cursos de graduação e pós-graduação em ciências sociais e afins, e também em caráter temporário, até que se tornem professores, os graduandos e pós-graduandos nestas áreas.


Para isso propõe-se montar uma estrutura administrativa pequena e ágil no nível nacional e criar Unidades Regionais, que tenham maior presença na vida dos professores e possam atuar mais diretamente em relação às questões que surgirem. Em muitos Estados será possível criar mais de uma Unidade Regional, devido ao número de universidades e escolas do ensino médio e mesmo levando em conta a diversidade regional e a questão espacial. A ideia é que sejam autônomas, que possam atuar com muita independência, não subordinadas a um controle nacional.


Como atividades iniciais, em termos nacionais, propõem-se:
- Manter um site (ou portal) onde todos possam se referenciar ir e postar suas questões, discutir, consultar materiais de apoio, etc.
- Criar uma revista (eletrônica) para tornar públicas as produções relacionadas com o ensino das ciências sociais e sociologia.
- Propiciar apoio logístico de órgãos estaduais e federais para a realização de eventos e outros encaminhamentos que dependam financiamento.
- Manter relação com a demais Sociedades/Associações científicas (SBS-ABCP-ABAS) e outras de Ensino (Filosofia, Geografia, História, etc. ), bem como com os Sindicatos em nível local, regional ou nacional, mantendo uma atuação complementar a estas organizações.


Com estas ideias iniciais propomos a criação da Sociedade Brasileira de Ensino de CS-Sociologia e os que desejarem associar-se a esta organização que está se constituindo podem faze-lo integrando-se no grupo: sociedade-brasileira-de-ensino-de-cs-sociologia@googlegroups.com. Posteriormente, quando for criada juridicamente a SBECS-Soc, todos os que agora aderirem serão considerados associados fundadores.

Nome – Cidade/Estado
Flávio Sarandy – Rio de Janeiro/RJ
Luiz Fernandes – Rio de Janeiro/RJ
Rodrigo Rosistolato – Rio de Janeiro/RJ
André Videira de Figueiredo – Rio de Janeiro/RJ
Ana Laudelina F. Gomes – Natal/RN
José Organista – São Gonçalo/RJ
Nelson D. Tomazi – Londrina/PR
Amaury Cesar Moraes – São Paulo/SP
Gustavo B. Alves – Toledo/PR
Osmir Dombrowski – Toledo/PR
Silvio A. Colognese – Toledo/PR
Miguel Caripuna – Abaetetuba/PA
Adélia Miglievich – Vitória/ES
Tania Elias Magno da Silva – Aracaju/SE
Simone Meucci – Curitiba/PR
Alexandro Trindade – Curitiba/PR
Luiza Helena Pereira – Porto Alegre/RS
Ricardo Cesar R. da Costa – São Gonçalo/RJ
Zuleika Bueno – Maringá/PR
Andréa Barbosa Osório – Rio de Janeiro/RJ
Daniela Alves – Viçosa/MG
Afrânio Oliveira – Rio de Janeiro/RJ
Naylane Mendonça – Rio de Janeiro/RJ
Geovana Tabachi – Campos dos Goytacazes/RJ
George Coutinho – Campos dos Goytacazes/RJ


Para assinar esse manifesto, clique aqui.

Para fazer parte do e-grupo, clique aqui.

"Sustentabilidade" e destruição ambiental no Brasil de Lula

"Sustentabilidade" e destruição ambiental no Brasil de Lula


Por Francisco Pontes
Publicado em 23/02/2010
Fonte: http://ler-qi.org/spip.php?article2177


O governo Lula tem buscado conquistar projeção internacional com o biodiesel enquanto um modelo de “sustentabilidade” frente à atual crise ecológica que atravessamos no mundo. O presente artigo procura discutir as contradições e mitos sobre o Brasil verde de Lula, marcado pelo desmatamento, os monopólios e a escravidão.

Desde o fracassado encontro de Copenhague(ver abaixo) no final do ano passado, e logo após as chuvas que atingiram Angra e São Luís do Paraitinga, a crise ambiental tem se tornado um tema recorrente nos noticiários, filmes e conversas cotidianas nesse início de ano. E não poderia ser diferente: as enchentes que causaram a morte de centenas de pessoas e o desabrigo de milhares nas periferias de todo o país nos últimos anos (até hoje são inúmeras as famílias pobres que permanecem sem moradias em Santa Catarina e Maranhão pelas enchentes do verão de 2008 e 2009), o terremoto que devastou o Haiti, as secas anuais e o aumento sentido da temperatura são apenas alguns fatos que nos levam a questionar quais são as origens, motivos e responsáveis por trás do evidente desequilíbrio ecológico.

O Brasil verde?

A busca de Lula (e sua candidata Dilma, mas também, com diferentes matizes, Serra e Marina), foi mostrar ao mundo durante a COP-15 a “sustentabilidade” do capitalismo brasileiro como um exemplo a ser seguido pelos países de todo o mundo.

Para além da retórica nos encontros da ONU e de ações muito tímidas que o governo realça em contraposição ao governo FHC, a postura que Lula vem tendo em seus 8 anos de mandato é de completa submissão à burguesia nacional e aos monopólios internacionais, que dia-a-dia seqüestram nossas riquezas naturais e as vidas de nossos trabalhadores, com a passividade e até em alguns casos a conivência e incentivo do governo. Os alicerces que sustentam o Brasil verde de Lula e do biodiesel são o desmatamento, os monopólios e a escravidão. Analisemos alguns fatos.

Quem nos representou em Copenhague?

Se Copenhague de nada serviu para a superação da crise ambiental, ele foi um importante palanque eleitoral e um grande balcão de negócios para a numerosa delegação da elite brasileira. Entre os que foram para Dinamarca junto com Lula, Dilma, Serra e Marina, estavam presentes: Aprosoja; Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) Bovespa, Bradesco, Braskem; Câmara Internacional de Comércio; Camargo Corrêa; Confederação Nacional da Agricultura (CNA); Coca-Cola; Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp); Fiat; Fundação Roberto Marinho; Natura; Petrobras; Santander; Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool (Sindaçúcar); União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única); Vale do Rio Doce; Votorantim. Nada menos que 700 pessoas na numerosa delegação brasileira.[2]

Amazônia e Marina

Vejamos alguns dados, começando pela principal floresta do planeta. Somente no último ano, segundo Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, foram desmatados 7 mil kms quadrados somente na Amazônia.[3] Desde 2004 até 2008, são mais de 60 mil kms de desmatamento. Isso equivale ao estado do Rio de Janeiro e mais 11 cidades do tamanho da cidade de São Paulo de destruição. Além de já ser devastada ilegalmente pelas grandes madereiras ao longo de décadas, agora nossa floresta poderá ser “alugada por 30 anos” a ONGs e empresas: serão nada menos que 67,4 milhões de hectares destinados aos interesses privados sob o verniz do ambientalismo de mercado. Tal projeto, chamado Projeto de Gestão de Florestas Públicas para a Produção Sustentável, é obra de Lula em parceria com Marina Silva, na época ainda sua Ministra do Meio Ambiente.[4]

Durante o ministério de Marina, ocorreu a aprovação da transposição do rio São Francisco e a liberação dos transgênicos, favorecendo os monopólios. Longe de ser um contraponto aos projetos políticos hegemônicos do PT e PSDB, Marina e o PV são na verdade uma versão mais ecológica do projeto que governa nossos recursos naturais aos grandes empresários. Não à toa, um dos principais apoiadores de Marina e também filiado ao PV é Guilherme Leal, presidente da Natura, empresa que por trás de seu marketing ambiental se apropria de nossas riquezas da Amazônia e explora milhares de trabalhadores. As recentes notícias de seus dirigentes envolvidos com a exploração do trabalho escravo no Maranhão [5] e a aliança do PV de Gabeira no RJ com o PSDB e o DEM dos latifundiários e ruralistas só demonstram como a candidatura de Marina é completamente incapaz de resolver as contradições sócio-ambientais de nosso país e estar a serviço dos interesses dos trabalhadores e do povo. É à essa candidatura que passa longe de ser socialista, e até mesmo progressista, que Heloísa Helena, presidente do PSOL, dará seu apoio aberto ou velado.

Lula salva os desmatadores

No fim de dezembro, enquanto Lula discursava em Copenhague, era implementado no Brasil o programa “Mais ambiente”, concessão de Lula aos grandes ruralistas. Além de adiar para 2012 lei que punirá desmatadores, concedeu anistia aos criminosos que totalizarão 10 bilhões de reais (valor equivalente ao gasto anual do bolsa-família). Enquanto o governo criminaliza as lutas legítimas pelo direito à terra e em defesa da biodiversidade por parte dos camponeses, indígenas, ribeirinhos e quilombolas, deixa impune os desmatadores. São estes os grandes responsáveis para que o Brasil tenha um dos maiores índices de poluição do planeta, alcançando 10 toneladas de CO2 per capita, o triplo da média mundial. O desmatamento responde por 42% dessas emissões. [6]

Energia: grandes impactos, grandes lucros

Nos últimos dias, o IBAMA anunciou a liberação de uma licença ambiental para a construção de mais uma hidroelétrica, a Usina Belo Monte, no rio Xingu, a terceira maior do planeta em tamanho. O projeto de Belo Monte, que foi desde 89 combatido em protesto dos Povos Indígenas do Xingu, inundará uma gigantesca área de 516 kms quadrados, atingindo florestas e três cidades, causando um imenso impacto no rio Xingu, em nossa flora, fauna e nas condições de vida de milhares de famílias [7]. Uma obra faraônica, que a exemplo da transposição do Rio São Francisco, longe de gerar melhores condições de vida para a população pobre do norte e nordeste, mostra que o PAC(Programa de Aceleração do Crescimento) de Lula tem servido para atender aos interesses dos grandes empresários, nesse caso os grupos Odebrecht e Camargo e Correa, envolvidos na construção da hidroelétrica, e Vale e Alcoa, que utilizarão a energia em suas mineradoras. Como sempre, será a engenharia do lucro a única que prevalecerá também em Belo Monte: além de todo o impacto causado, com escavações equivalentes às do Canal do Panamá, o rio Xingu tem conhecida estiagem durante períodos importantes, podendo a Usina ter uma produção muito baixa ou mesmo não produzir energia durante alguns meses.

Assim como em Belo Monte, outra operação escandalosa se desenvolveu no campo da produção de energia com a ajuda do governo federal: o empréstimo de 1 bilhão de reais do BNDES(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao empresário Eike Batista para construir uma termoelétrica a carvão (uma das formas mais poluentes de produção de energia) no estado do Maranhão.[8]

Cientistas brasileiros apontam que hoje, com uma política de planificação de energia e manutenção de nossas hidroelétricas (repotencializando os geradores e melhorando a eficiência de nossas redes de transmissão, que perdem 15% de toda a energia produzida), teríamos, sem nenhum impacto ambiental e com muito menos custos, energia suficiente para todo o país, não necessitando a construção de nenhuma nova usina[9].

Agronegócio, monopólios e trabalho escravo

O agronegócio, um dos pilares fundamentais da economia brasileira, tem sido um dos setores mais favorecidos pelo governo, sejam os latifundiários e coronéis brasileiros ou os grandes monopólios internacionais.

Se em perspectiva os biocombustíveis são apontados como aqueles que podem resolver a crise energética do petróleo, a sua produção limitada pela ânsia do lucro está longe de ser “limpa” e “renovável”. Áreas imensas no Centro-Oeste e na Amazônia são devastadas com o avanço da soja, e o quadro não é distinto com a monocultura da cana e seu deserto verde. O empobrecimento dos solos, a perda de nosso banco genético com os transgênicos que botam em risco nossa produção alimentar, a contaminação das águas e as doenças respiratórias que as queimadas trazem nos mostram que a única sustentabilidade nesse cultivo é a do capital.

Capital esse que é, e tem se tornado cada dia mais dos principais monopólios imperialistas, que tem visto nos agrocombustíveis um grande nicho. É com isenções de impostos e muitas vezes até com empréstimos do BNDES que grupos imperialistas como Monsanto, Syngenta, Dupont, Dow, Basf e Bayer hegemonizam o mercado com as sementes transgênicas para serem usadas por Bunge, Cargil, Noble Group, ADM e Dreyfus, alguns dos principais conglomerados mundiais que tem adquirido áreas enormes e diversas usinas menores, conquistando terreno importante no disputado mercado dos agrocombustíveis. [10]

Tal produtividade, que chama a atenção de tantos investidores estrangeiros (até o banqueiro George Soros comprou uma Usina em Monte Alegre – MG), só é possível pois se assenta em condições de super-exploração de trabalho que beiram a escravidão. Desde a década de 80, estudos apontam que enquanto duplicou-se a produtividade do trabalhador rural, cortando por dia até 15 toneladas, os salários diminuíram quase pela metade variando em média de 380 a 470 reais.[11] Com condições absurdas, a expectativa de vida de trabalho no corte é de apenas 12 anos. Somente em SP morreram 21 cortadores, em acidentes de trabalho, nos último anos. Em 2007, foram 3131 trabalhadores libertados da escravidão pelo Ministério Público nas Usinas. [12] É esse o agronegócio, que Serra em SP e Lula no Brasil tanto incentivam e sob o qual se apoiarão nas próximas eleições. Um quadro absurdo que a cientista Maria Cristina Gonzaga do Fundacentro define precisamente ao dizer que “ o açúcar e o álcool no Brasil estão banhados de sangue, suor e morte.”

A crise ambiental necessita ser superada

Procuramos, ao longo do texto, tentar descrever com alguns fatos as contradições ambientais que marcam a realidade brasileira, que longe de caminhar para a superação de uma histórica destruição do meio ambiente, que vem desde séculos atrás ocorrendo pelos países imperialistas e posteriormente também pela burguesia nacional, é mantida em ritmo constante sob a gerência de Lula. O capitalismo torna evidente a cada dia que não pode conter a destruição anárquica dos recursos naturais, e que a busca pela rentabilidade vem acima de tudo, seja da biodiversidade de nosso planeta ou da vida de milhões, demonstrando a cada momento novas cenas de uma tragédia anunciada.

Somente a luta pela superação dessa sociedade, a construção da transição socialista encabeçada pelos trabalhadores, poderá por fim as catástrofes e absurdos que marcam nossa história contemporânea por todo o planeta. Será apenas com a superação da propriedade privada, expropriando os monopólios e reorganizando nossa produção e cidades sob o equilíbrio racional entre as necessidades humanas e a conservação da natureza, que poderemos recuperar nossas florestas e garantir vida digna a todos explorados e oprimidos.

SOBRE COPENHAGUE: Reunidos durante 12 dias na Dinamarca, em conferência conhecida como COP-15, governantes de 119 países estiveram longe de chegar a qualquer tipo de acordo que de fato pudesse conter o avanço da destruição anárquica dos recursos naturais e o aquecimento global que o modo de produção capitalista tem gerado e intensificado a cada ano.Sem nenhuma resolução com valor jurídico, o que tivemos foi uma carta genérica propondo reduções não obrigatórias e a criação de um fundo de combate ao aquecimento no valor de 30 bilhões de reais até 2012 e que esse valor se estenda a 100 bilhões até 2020. O documento é um retrocesso em relação ao já tímido e insuficiente Protocolo de Kioto, cujo prazo expira em 2012. Segundo estimativas, seria necessário 1,737 trilhão de reais até 2020(17 vezes mais do que o “possível” fundo ainda não concretizado) para se alcançar os objetivos de médio prazo na luta contra o aquecimento global. Isso é 12 vezes menos do que foi gasto para o salvamento dos bancos e do valor financeiro dos capitais privados e 2/3 dos gastos militares mundiais somente de 2008(2,6 trilhões de reais).[1]

REFERÊNCIAS

1) Riccardo Petrella,” Os Obstáculos no caminho de Copenhague”, LeMonde Brasil. n.29, Dezembro,

2) http://www.mst.org.br/node/8728

3) Carlos Minc e Suzana Kahn, Compartilhar as responsabilidades,LeMonde Brasil. n.29, Dezembro

4) Eleonora Gossman, “Lula traspasa a manos privadas gran parte del Amazonas”, Clarín, 26/06/09.

5)” A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Maranhão (SRTE/MA) encontrou 24 pessoas - incluindo um jovem de 17 anos - em condições análogas à escravidão na Fazenda São Raimundo/São José, pertencente ao prefeito de Codó (MA) José Rolim Filho (PV), conhecido como Zito Rolim.” http://www.mst.org.br/node/8883

6) Silvio Caccia Bava, Ambiguidades e contradições, LeMonde Brasil , n.29, Dezembro.

7) Naiana Oscar, “ONGs vão tentar deter Belo Monte na Justiça”, O Estado de São Paulo, 14/02/2010

8) Ramona Ordoñez e Eliane Oliveira, Agencia O Globo - 10/12/2009

9)Entrevista com Washington Novaes, O Estado de São Paulo, 14/02/2010

10) Maria Aparecida Moraes Silva, Produção de alimentos e agrocombustíveis no contexto da nova divisão mundial do trabalho, Revista Pegada – vol. 9 n.1 80 Outubro/2008.

11) Maria Cristina Fernandes, “O piso salarial do etanol”, Valor Econômico, 09/03/2007

12) http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u392412.shtml

Pró-Memória Negra de Campinas

Por acaso, lendo a matéria de um jornal de grande circulação de Campinas, descobri a existência da "Liga Humanitária de Assistência Afro-brasileira", uma entidade criada em 1915 pelo ferroviário e líder anarquista negro, Armando Gomes - na época a entidade recebeu o nome de "Liga Humanitária dos Homens de Cor". Esta associação tenta hoje se reerguer pela iniciativa do seu bisneto, o jornalista José Luis de Oliveira, que, junto aos demais associados da Liga, estão reformando a sede, localizada na Rua Visconde do Rio Branco, 788, para transforma-la num espaço de lazer e cultura - o espaço foi tombado em 2003 com o objetivo de se criar o Museu da Memória Negra de Campinas.

Campinas foi marcada pela escravidão, pelo poder dos barões do café e o latifúndio. Isso não significa que imperou uma relação pacífica. Estudos recentes vem provando que existiram, mesmo na época da senzala, muitos movimentos de luta do povo negro. Um deles, por exemplo, preparou uma insurreição de escravos na região com a ajuda do alforriado João Barbeiro (o Zumbi de Campinas, como costumam dizer), que na época vivia em São Paulo e foi responsável por organizar o levante e fornecer as armas. Infelizmente, a rebelião foi sufocada pela polícia e os latifundiários com a denúncia do Vigário Padre José Joaquim Gomes em 1823.
Muitos outros exemplos também poderão ser encontrados no período pós-abolição da escravidão, quando vários negros da região de Campinas se organizaram em associações, ligas e entidades civis para promover e defender sua cultura e lutar por seus direitos, como foi o caso da "Liga Humanitária". A história dessas lutas e organizações ainda não foram devidamente contadas/recuperadas, predominando a visão do branco escravocrata! Cabe a nós, lutadores e pesquisadores, recuperá-las como parte de uma reflexão coletiva sobre as nossas ações hoje.

Espero que a sede da Liga Humanitária de Assistência Afro-brasileira seja recuperada, contribuindo para resgatar a história das lutas revolucionárias dos negros e negras, operários e operarias do passado. E para aqueles que tiverem interesse, nos blogs Pró-Memória Negra de Campinas e Pró-Memória do Museu Negro encontramos uma pequena mostra de resistência e memória do povo negro.

(Foto de Armando Gomes, preso em 1920 por difundir durante a greve ferroviária um panfleto que incitava os operários a enfrentar a autoridade policial e a abolir a propriedade privada)

Acesse também: "As origens da questão negra e seu papel em nossa revolução" de Daniel A. Alfonso
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ALGUMAS INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS SOBRE O TEMA:


PIROLA, Ricardo F.. A conspiração escrava de Campinas, 1832: rebelião, etnicidade e família. Unicamp, 2005.

ZAMBELLO, Marcos H. Ferrovia e Memória: estudo sobre o trabalho e a categoria dos antigos ferroviários da Vila Industrial de Campinas. USP, Setembro de 2005. 

As origens da questão negra e seu papel em nossa revolução

por Daniel A. Alfonso





"Todo camburão tem um pouco de navio negreiro"
O Rappa
[Para le-lo na íntegra, clique no link do post]

Projeto - CINEMA E SOCIEDADE

Este projeto "extracurricular" foi elaborado no final de 2010 para ser trabalho durante o ano letivo de 2011. Quem tiver interesse pode aproveitá-lo integral ou parcialmente. Agradeceria se os leitores fizessem comentários sobre este projeto, principalmente se resolverem usa-lo para alguma atividade em suas escolas.
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Projeto: Cinema e Sociedade: a representação do Brasil nas telas: o Grande Sertão


O objetivo principal do projeto “Cinema e Sociedade” é desenvolver entre os muros da escola uma reflexão crítica sobre o cinema e a sociedade brasileira. Para isso, trabalhando com temáticas interdisciplinares, pretendemos desenvolver determinadas competências e habilidades com os alunos participantes do projeto, promovendo a criação de um grupo de estudos, responsável pela manutenção de um blog, assim como da exibição de filmes para a comunidade escolar.
[Para le-lo na íntegra, clique no link do post]

Nova seção no Blog: ENSINO

Estou estreando uma nova seção intitulada "Ensino", em substituição a antiga seção "Cotidiano", que organizava a publicação de algumas reflexões contingenciais acerca da vida cotidiana. Mas, na prática, acabei postando apenas dois pequenos textos, que muito bem poderiam ser enquadrados nas outras seções. A criação de "Ensino" é uma maneira de organizar no Blog as matérias que postei sobre educação, prática de ensino ou atividades escolares, já que as estatísticas do Blog demonstram que esses são os assuntos mais visitado. Neste sentido, pretendemos coloca-los em destaque em nosso Blog, em meio a reflexão sobre a implementação da Sociologia no Ensino Médio.