Desumanas condições na moradia das obras do Santander

Desumanas condições na moradia operária das obras do Santander
Uma faceta do “Brasil potência” em Campinas

Por Ricardo Festi

Enquanto os grandes meios de comunicação dão destaque em suas manchetes ao fato do Brasil ultrapassar o Reino Unido no ranking global do Produto Interno Bruto (PIB), se tornando a sexta economia do mundo, em suas colunas secundárias são noticiadas algumas das verdadeiras causas que propiciaram o crescimento econômico destes últimos anos, como o aumento da intensidade da exploração do trabalho. Obviamente, que estas mídias, a serviço dos interesses do capital, não explicam a relação entre causa e efeito deste processo de superexploração do trabalho. Apenas cumprem o seu papel de difundir a falsa idéia de que caminhamos para um “Brasil potência”.

Segundo dados preliminares divulgados recentemente pelo IBGE, a maior parte das vagas de empregos criados entre 2000 e 2010 foi ocupada por trabalhadores remunerados em até dois salários mínimos. Em 2000, esse contingente representava 49% de toda força de trabalho. Em 2010, atingira 63%. Entretanto, esses empregos estão concentrados nos setores de serviço e da construção civil, e apresentam um alto índice de rotatividade.

Recentemente, tivemos em Campinas um exemplo de como vem ocorrendo o crescimento econômico dos últimos anos em nosso país. Na última quarta-feira, o Ministério Público do Trabalho interditou o alojamento operário das obras do centro de processamento do Banco Santander, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas. O alojamento apresentava péssimas condições de moradia aos trabalhadores. Na casa, moravam cerca de 20 pessoas e, por falta de espaço, muitos dormiam na varanda. Com apenas um banheiro, os operários improvisavam seus banhos com uma mangueira no quintal. Foi constatada também uma infestação de carrapatos no fundo do quintal da casa.
Foto extraídas do site da EPTV Campinas

Este não foi o primeiro e nem será o último canteiro de obras com péssimas condições de higiene e instalações. Nestes últimos anos, foram várias as denúncias e intervenções do Ministério Público em empresas e canteiros de obras, alguns com relativo destaque nas mídias. Todos devem se lembrar do escândalo causado, em meados deste ano, ao se descobrir, em Americana, um foco de trabalho escravo numa oficina que produzia calças para a grife Zara. Esta é apenas uma faceta deste “Brasil potência”: de um lado, cresceu o trabalho ultra-precário (e até mesmo escravo); de outro, as grandes corporações lucraram somas incalculáveis à custa desta exploração.

Voltemos ao caso de Campinas envolvendo o Santander, o maior banco da Zona do Euro e o quarto maior banco do mundo segundo a revista Forbes de 2010. O empreendimento em Campinas não é dos pequenos. Trata-se da construção do seu principal centro de processamento de dados no país, de uma unidade administrativa e de uma unidade de pesquisa. Quando finalizado, será responsável por 66% de todas as operações do Santander no Brasil. Localizado no segundo Pólo Tecnológico de Campinas, entre a Unicamp e a PUCCamp, a obra deverá custar mais de 270 milhões de dólares entre infraestrutura e equipamentos e ocupará uma área de 1 milhão de metros quadrados – o equivalente a 10 estádios do Morumbi.

As contradições entre a envergadura do empreendimento e as degradantes condições de moradia dos operários da obra não param nesses dados. No ano passado, o banco anunciou que este complexo seria construído com a mais alta tecnologia em nível de segurança e sustentabilidade, o chamado “TI Verde”. Segundo uma definição que podemos encontrar na internet, “TI Verde” seria uma área de tecnologia da informação que liga sustentabilidade a utilização dos recursos computacionais com objetivos de reduzir o consumo de eletricidade, matéria-prima e a emissão de Dióxido de Carbono (CO2), bem como se preocupa em reduzir o impacto de seu lixo eletrônico.

Entretanto, além de contrastar com a própria realidade das obras, esse discurso da sustentabilidade, tão em voga entre as grandes empresas, é incompatível com a própria lógica do capital. É da natureza deste sistema baseado na acumulação de capitais uma relação predatória com a natureza. O capitalismo destrói o meio ambiente, pois precisa retirar dele o máximo de lucro possível, esgotando seus recursos e poluindo água, mar e terra. Ao mesmo tempo, desumaniza o próprio homem, sugando as suas forças e o seu tempo num trabalho cada vez mais intenso e precário.

Portanto, é impossível sustentabilidade no capitalismo. Todo discurso ecológico das empresas é uma grande mentira e constitui parte de um discurso ideológico que serve para falsificar a verdadeira realidade destrutiva do capital. Veja-se o clamor em torno de Steve Jobs e a falsa ideia de que a Apple é uma empresa moderna e sustentável. Pode ser que sua matriz seja pautada numa arquitetura moderna e que tenha uma relação de trabalho mais flexível, com engenheiros e cientistas ganhando altos salários. Mas esta não é a realidade nas fábricas que produzem seus produtos. Bem sabe os trabalhadores chineses da Foxcom, com alto índice de suicídio devido ao insuportável ambiente de trabalho, o verdadeiro caráter da fabricante dos Iphones e Ipads.

Esse discurso ideológico sobre a sustentabilidade empresarial encontra eco numa específica camada da sociedade: a pequena burguesa (ou classes médias). Historicamente hipócrita e responsável por um alto nível de consumo, ela fecha os olhos para a exploração ocorrida sobre as massas populares. Está preocupada demais em manter sua estabilidade econômica para poder enxergar a realidade a sua frente. Quando o consegue, o máximo que faz é criar algumas entidades filantrópicas para deixar a sua consciência cristã tranquila. Vive sonhando em conquistar o status social da burguesia, mas não tem renda suficiente para tanto, e teme se empobrecer como um operário. Por isso que, em tempos de passividade e bonança, essa camada é tão reacionária e antioperária.

Tivemos um bom exemplo desta hipocrisia entre os membros da associação de moradores da Cidade Universitária de Barão Geraldo. Em setembro, fizeram uma reunião com os representantes das obras do Santander – o Pólo Tecnológico fica logo atrás este bairro. Diziam estar preocupados com os impactos que a obra traria para a região, como a violência e o aumento do trafego de carros. Entretanto, suas verdadeiras preocupações giravam em torno das “repúblicas” operárias – em analogia as repúblicas estudantis -, ou seja, com as moradias dos operários das obras. O problema é a presença no bairro destes operários negros e nordestinos, muitos com problemas de alcoolismo, o que estariam fazendo muito barulho durante a noite, incomodando os bons costumes deste bucólico bairro branco. Mas, durante a reunião, nenhuma palavra sobre as condições de vida e de trabalho destes mesmos operários.

Voltando ao problema da moradia operária interditada pelo Ministério Público. Neste caso, o Santander deve anunciar que nada sabia sobre as suas condições, isentando-se das responsabilidades. Isso evidencia outra questão sobre as formas de relações de trabalho que foram se constituindo nas últimas décadas: a terceirização.

Não são os funcionários com hollerith da Apple que constroem os seus aparelhos em troca de um mísero salário; também não são os funcionários da Zara que confeccionam as suas calças em troca de R$ 2,00 a peça, enquanto ela é vendida na loja por R$ 200,00; assim como estes operários de Barão Geraldo não são contratados pelo Banco Santander. O que existe em comum entre todos eles é que são trabalhadores de empresas terceirizadas. E a função da terceirização é esta: percarizar (baratear) a força de trabalho; dividir os trabalhadores em vários contratos; e enfraquecer sua força sindical.

No caso, a empresa responsável pela obra do Santander é a GLM Projetos e Construções Civis LTDA, contratada pelo banco para realizar a construção dos prédios. Uma rápida pesquisa pela internet nos demonstrou que esta empresa tem como endereço de sua sede uma pequena sala comercial na cidade de Goiânia. Dá pra imaginar dois ou três funcionários cuidando desta sede, pois é assim que funciona a terceirização neste setor: são empresas de fachadas, prontas para ganhar uma licitação e lucrar em cima da exploração dos operários. Recebem um montante significativo para executar a obra e aplicam o mínimo possível na força de trabalho. Muitas destas empresas terceirizadas fecham as suas portas antes de terminarem as obras, deixando atrasados salários e direitos trabalhistas. As péssimas condições de moradia descobertas em Campinas são para a GLM apenas uma forma de redução de custos.

Como afirmamos anteriormente, este não foi o primeiro e infelizmente não será o ultimo canteiro de obras em Campinas com essas condições de trabalho e moradia. Ao longo dos últimos anos, além de condições similares a essas, foram encontrados trabalho escravo na região. Este alto índice de ocorrência deve-se ao fato de Campinas ter tido um papel de destaque neste último ciclo de crescimento econômico (para se ter uma ideia, o PIB da região metropolitana de Campinas cresceu acima da média nacional na ultima década), acumulando de forma concentrada as principais contradições deste “Brasil potência”.

Torcemos para que estas condições de trabalho e moradia despertem novas Jiraus na região. Mas também estamos conscientes de que isso dependerá do grau de organização destes trabalhadores, da superação de um velho sindicalismo burocrático, da atuação das organizações de esquerda e da solidariedade vinda das demais categorias (principalmente metalúrgicos e químicos, as duas mais fortes da região). Que os ventos internacionais transformem essas revoltantes condições de trabalho em revoltas sociais!

A crise capitalista vai ao Cinema!

"Margin Call - O dia antes do fim" é uma ficção sobre a quebra do Lehman Brothers. Um retrato do cinismo e da hipocrisia dos altos executivos do mundo financeiro de Wall Street, um dia antes de explodir a maior crise capitalista que devastou o mundo desde 1929. Soma-se aos documentários Inside Job (trabalho interno) de Charles Ferguson e Capitalismo uma história de amor de Michael Moore, enquanto retrato crítico do mundo econômico. Que a crise seja paga pelos capitalistas!

A Democracia Corinthiana e a transição "democrática".

No dia 09 de dezembro, foi lançado na internet o documentário "Ser campeão é um detalhe: Democracia Corinthiana", curta-metragem produzido pela DNA Filmes e pelo Instituto de Artes da UNICAMP. Construído a partir de entrevistas com os jogadores, a equipe técnica e a diretoria da época (início dos anos 1980), além das opinões de Juca Kfouri e de historiadores, é um ótimo vídeo para quem gosta de futebol e quer conhecer um pouco mais deste momento histórico do pós-78. O contexto é singular: a Ditadura Militar caminhava para o seu fim diante de um amplo e massivo movimento popular por democracia; as greves dos metalurgicos do ABC já tinham incendiado o movimento operário; o movimento estudantil se reorganizava; o PT e a CUT tinham sido fundados... Mas, por outro lado, também havia forte repressão do regime militar a estes movimentos e setores dentro do regime contrários a reabertura política - exemplo, o atentado frustrado no Riocentro em 1981. Imperava uma tensão sobre o futuro!

Era um momento de crise em todas as esferas da sociedade brasileira, e o futebol não estaria alheio a isso. Mas é uma pena que esta experiência corinthiana não tenha vingado. Pelo contrário! Também no futebol a reação neoliberal fez escola. Na segunda metade dos anos 1980 surgiu o "Clubo dos 13" e com ele times/empresas voltadas para ganhar títulos, vender jogadores e ter grandes somas de lucros. Dá a impressão que a experiência ocorrida no Corinthians com a "Democracia Corinthiana" pode ser uma caricatura em miniatura do que ocorreu no país com o processo de redemocratização: o movimento foi forte, questionou as estruturas, teve relativo sucesso, mas de longe conseguiu abalar as reais estruturas de dominação. Os reacionários continuaram no poder, agora com uma nova roupagem!


Uma indicação bibliográfica sobre o tema:
Democracia corintiana Subtítulo: a utopia em jogo de Sócrates e Ricardo Gozzi
Editora Boitempo.

Surge movimento pró-Sociedade Brasileira de Ensino de Sociologia

Desde que a Sociologia tornou-se uma disciplina obrigatória no currículo do ensino médio, os professores e profissionais desta área vêm realizando uma batalha dispersa e fragmentada, em seus Estados ou escolas, em defesa da implementação efetiva e/ou manutenção da Sociologia. Além disso, com a aprovação da obrigatoriedade, abriram-se novos debates acerca dos conteúdos programáticos, dos métodos e das práticas pedagógicas, dos livros didáticos e das condições de trabalho do professor. Essas lutas e reflexões demandam a necessidade de uma articulação nacional entre professores do ensino médio, docentes universitários ou pesquisadores e estudantes de licenciatura. Foi nesse sentido que um grupo de acadêmicos e professores impulsionaram um Manifesto em prol da criação de uma associação nacional de ensino de sociologia (ciências sociais). Ela já conta com um dinâmico e-grupo, responsável pela articulação nacional nesta fase pré-associação, e com o apoio de mais de 300 pessoas (dezembro de 2011).

Aos companheir@s interessados em participar desta iniciativa, reproduzo logo abaixo o Manifesto, com o link para quem quiser assina-lo.

Manifesto pró-criação da Sociedade Brasileira de Ensino de Ciências Sociais-Sociologia – SBECS-Soc

Com as crescentes demandas relacionadas com o ensino das Ciências Sociais em geral e da Sociologia no Ensino Médio, resolvemos propor a criação da Sociedade Brasileira de Ensino de Ciências Sociais-Sociologia - SBECS-Soc - (nome e sigla provisórios).


O propósito da SBECS-Soc é agregar professores da educação básica aqueles das universidades que estejam interessados ou preocupados com o ensino das ciências sociais/sociologia, em todos os níveis educacionais. Além de criar canais de comunicação entre estes professores propõe-se realizar uma ponte entre ensino básico e a universidade.


Parte-se da ideia que não há nenhuma organização brasileira que trate especificamente desta questão e ao mesmo tempo integre todos os professores de todos os níveis educacionais da área. Por isso, a SBECS-Soc visa a integrar como seus associados professores do ensino básico, dos cursos de graduação e pós-graduação em ciências sociais e afins, e também em caráter temporário, até que se tornem professores, os graduandos e pós-graduandos nestas áreas.


Para isso propõe-se montar uma estrutura administrativa pequena e ágil no nível nacional e criar Unidades Regionais, que tenham maior presença na vida dos professores e possam atuar mais diretamente em relação às questões que surgirem. Em muitos Estados será possível criar mais de uma Unidade Regional, devido ao número de universidades e escolas do ensino médio e mesmo levando em conta a diversidade regional e a questão espacial. A ideia é que sejam autônomas, que possam atuar com muita independência, não subordinadas a um controle nacional.


Como atividades iniciais, em termos nacionais, propõem-se:
- Manter um site (ou portal) onde todos possam se referenciar ir e postar suas questões, discutir, consultar materiais de apoio, etc.
- Criar uma revista (eletrônica) para tornar públicas as produções relacionadas com o ensino das ciências sociais e sociologia.
- Propiciar apoio logístico de órgãos estaduais e federais para a realização de eventos e outros encaminhamentos que dependam financiamento.
- Manter relação com a demais Sociedades/Associações científicas (SBS-ABCP-ABAS) e outras de Ensino (Filosofia, Geografia, História, etc. ), bem como com os Sindicatos em nível local, regional ou nacional, mantendo uma atuação complementar a estas organizações.


Com estas ideias iniciais propomos a criação da Sociedade Brasileira de Ensino de CS-Sociologia e os que desejarem associar-se a esta organização que está se constituindo podem faze-lo integrando-se no grupo: sociedade-brasileira-de-ensino-de-cs-sociologia@googlegroups.com. Posteriormente, quando for criada juridicamente a SBECS-Soc, todos os que agora aderirem serão considerados associados fundadores.

Nome – Cidade/Estado
Flávio Sarandy – Rio de Janeiro/RJ
Luiz Fernandes – Rio de Janeiro/RJ
Rodrigo Rosistolato – Rio de Janeiro/RJ
André Videira de Figueiredo – Rio de Janeiro/RJ
Ana Laudelina F. Gomes – Natal/RN
José Organista – São Gonçalo/RJ
Nelson D. Tomazi – Londrina/PR
Amaury Cesar Moraes – São Paulo/SP
Gustavo B. Alves – Toledo/PR
Osmir Dombrowski – Toledo/PR
Silvio A. Colognese – Toledo/PR
Miguel Caripuna – Abaetetuba/PA
Adélia Miglievich – Vitória/ES
Tania Elias Magno da Silva – Aracaju/SE
Simone Meucci – Curitiba/PR
Alexandro Trindade – Curitiba/PR
Luiza Helena Pereira – Porto Alegre/RS
Ricardo Cesar R. da Costa – São Gonçalo/RJ
Zuleika Bueno – Maringá/PR
Andréa Barbosa Osório – Rio de Janeiro/RJ
Daniela Alves – Viçosa/MG
Afrânio Oliveira – Rio de Janeiro/RJ
Naylane Mendonça – Rio de Janeiro/RJ
Geovana Tabachi – Campos dos Goytacazes/RJ
George Coutinho – Campos dos Goytacazes/RJ


Para assinar esse manifesto, clique aqui.

Para fazer parte do e-grupo, clique aqui.

"Sustentabilidade" e destruição ambiental no Brasil de Lula

"Sustentabilidade" e destruição ambiental no Brasil de Lula


Por Francisco Pontes
Publicado em 23/02/2010
Fonte: http://ler-qi.org/spip.php?article2177


O governo Lula tem buscado conquistar projeção internacional com o biodiesel enquanto um modelo de “sustentabilidade” frente à atual crise ecológica que atravessamos no mundo. O presente artigo procura discutir as contradições e mitos sobre o Brasil verde de Lula, marcado pelo desmatamento, os monopólios e a escravidão.

Desde o fracassado encontro de Copenhague(ver abaixo) no final do ano passado, e logo após as chuvas que atingiram Angra e São Luís do Paraitinga, a crise ambiental tem se tornado um tema recorrente nos noticiários, filmes e conversas cotidianas nesse início de ano. E não poderia ser diferente: as enchentes que causaram a morte de centenas de pessoas e o desabrigo de milhares nas periferias de todo o país nos últimos anos (até hoje são inúmeras as famílias pobres que permanecem sem moradias em Santa Catarina e Maranhão pelas enchentes do verão de 2008 e 2009), o terremoto que devastou o Haiti, as secas anuais e o aumento sentido da temperatura são apenas alguns fatos que nos levam a questionar quais são as origens, motivos e responsáveis por trás do evidente desequilíbrio ecológico.

O Brasil verde?

A busca de Lula (e sua candidata Dilma, mas também, com diferentes matizes, Serra e Marina), foi mostrar ao mundo durante a COP-15 a “sustentabilidade” do capitalismo brasileiro como um exemplo a ser seguido pelos países de todo o mundo.

Para além da retórica nos encontros da ONU e de ações muito tímidas que o governo realça em contraposição ao governo FHC, a postura que Lula vem tendo em seus 8 anos de mandato é de completa submissão à burguesia nacional e aos monopólios internacionais, que dia-a-dia seqüestram nossas riquezas naturais e as vidas de nossos trabalhadores, com a passividade e até em alguns casos a conivência e incentivo do governo. Os alicerces que sustentam o Brasil verde de Lula e do biodiesel são o desmatamento, os monopólios e a escravidão. Analisemos alguns fatos.

Quem nos representou em Copenhague?

Se Copenhague de nada serviu para a superação da crise ambiental, ele foi um importante palanque eleitoral e um grande balcão de negócios para a numerosa delegação da elite brasileira. Entre os que foram para Dinamarca junto com Lula, Dilma, Serra e Marina, estavam presentes: Aprosoja; Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) Bovespa, Bradesco, Braskem; Câmara Internacional de Comércio; Camargo Corrêa; Confederação Nacional da Agricultura (CNA); Coca-Cola; Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp); Fiat; Fundação Roberto Marinho; Natura; Petrobras; Santander; Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool (Sindaçúcar); União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única); Vale do Rio Doce; Votorantim. Nada menos que 700 pessoas na numerosa delegação brasileira.[2]

Amazônia e Marina

Vejamos alguns dados, começando pela principal floresta do planeta. Somente no último ano, segundo Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, foram desmatados 7 mil kms quadrados somente na Amazônia.[3] Desde 2004 até 2008, são mais de 60 mil kms de desmatamento. Isso equivale ao estado do Rio de Janeiro e mais 11 cidades do tamanho da cidade de São Paulo de destruição. Além de já ser devastada ilegalmente pelas grandes madereiras ao longo de décadas, agora nossa floresta poderá ser “alugada por 30 anos” a ONGs e empresas: serão nada menos que 67,4 milhões de hectares destinados aos interesses privados sob o verniz do ambientalismo de mercado. Tal projeto, chamado Projeto de Gestão de Florestas Públicas para a Produção Sustentável, é obra de Lula em parceria com Marina Silva, na época ainda sua Ministra do Meio Ambiente.[4]

Durante o ministério de Marina, ocorreu a aprovação da transposição do rio São Francisco e a liberação dos transgênicos, favorecendo os monopólios. Longe de ser um contraponto aos projetos políticos hegemônicos do PT e PSDB, Marina e o PV são na verdade uma versão mais ecológica do projeto que governa nossos recursos naturais aos grandes empresários. Não à toa, um dos principais apoiadores de Marina e também filiado ao PV é Guilherme Leal, presidente da Natura, empresa que por trás de seu marketing ambiental se apropria de nossas riquezas da Amazônia e explora milhares de trabalhadores. As recentes notícias de seus dirigentes envolvidos com a exploração do trabalho escravo no Maranhão [5] e a aliança do PV de Gabeira no RJ com o PSDB e o DEM dos latifundiários e ruralistas só demonstram como a candidatura de Marina é completamente incapaz de resolver as contradições sócio-ambientais de nosso país e estar a serviço dos interesses dos trabalhadores e do povo. É à essa candidatura que passa longe de ser socialista, e até mesmo progressista, que Heloísa Helena, presidente do PSOL, dará seu apoio aberto ou velado.

Lula salva os desmatadores

No fim de dezembro, enquanto Lula discursava em Copenhague, era implementado no Brasil o programa “Mais ambiente”, concessão de Lula aos grandes ruralistas. Além de adiar para 2012 lei que punirá desmatadores, concedeu anistia aos criminosos que totalizarão 10 bilhões de reais (valor equivalente ao gasto anual do bolsa-família). Enquanto o governo criminaliza as lutas legítimas pelo direito à terra e em defesa da biodiversidade por parte dos camponeses, indígenas, ribeirinhos e quilombolas, deixa impune os desmatadores. São estes os grandes responsáveis para que o Brasil tenha um dos maiores índices de poluição do planeta, alcançando 10 toneladas de CO2 per capita, o triplo da média mundial. O desmatamento responde por 42% dessas emissões. [6]

Energia: grandes impactos, grandes lucros

Nos últimos dias, o IBAMA anunciou a liberação de uma licença ambiental para a construção de mais uma hidroelétrica, a Usina Belo Monte, no rio Xingu, a terceira maior do planeta em tamanho. O projeto de Belo Monte, que foi desde 89 combatido em protesto dos Povos Indígenas do Xingu, inundará uma gigantesca área de 516 kms quadrados, atingindo florestas e três cidades, causando um imenso impacto no rio Xingu, em nossa flora, fauna e nas condições de vida de milhares de famílias [7]. Uma obra faraônica, que a exemplo da transposição do Rio São Francisco, longe de gerar melhores condições de vida para a população pobre do norte e nordeste, mostra que o PAC(Programa de Aceleração do Crescimento) de Lula tem servido para atender aos interesses dos grandes empresários, nesse caso os grupos Odebrecht e Camargo e Correa, envolvidos na construção da hidroelétrica, e Vale e Alcoa, que utilizarão a energia em suas mineradoras. Como sempre, será a engenharia do lucro a única que prevalecerá também em Belo Monte: além de todo o impacto causado, com escavações equivalentes às do Canal do Panamá, o rio Xingu tem conhecida estiagem durante períodos importantes, podendo a Usina ter uma produção muito baixa ou mesmo não produzir energia durante alguns meses.

Assim como em Belo Monte, outra operação escandalosa se desenvolveu no campo da produção de energia com a ajuda do governo federal: o empréstimo de 1 bilhão de reais do BNDES(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao empresário Eike Batista para construir uma termoelétrica a carvão (uma das formas mais poluentes de produção de energia) no estado do Maranhão.[8]

Cientistas brasileiros apontam que hoje, com uma política de planificação de energia e manutenção de nossas hidroelétricas (repotencializando os geradores e melhorando a eficiência de nossas redes de transmissão, que perdem 15% de toda a energia produzida), teríamos, sem nenhum impacto ambiental e com muito menos custos, energia suficiente para todo o país, não necessitando a construção de nenhuma nova usina[9].

Agronegócio, monopólios e trabalho escravo

O agronegócio, um dos pilares fundamentais da economia brasileira, tem sido um dos setores mais favorecidos pelo governo, sejam os latifundiários e coronéis brasileiros ou os grandes monopólios internacionais.

Se em perspectiva os biocombustíveis são apontados como aqueles que podem resolver a crise energética do petróleo, a sua produção limitada pela ânsia do lucro está longe de ser “limpa” e “renovável”. Áreas imensas no Centro-Oeste e na Amazônia são devastadas com o avanço da soja, e o quadro não é distinto com a monocultura da cana e seu deserto verde. O empobrecimento dos solos, a perda de nosso banco genético com os transgênicos que botam em risco nossa produção alimentar, a contaminação das águas e as doenças respiratórias que as queimadas trazem nos mostram que a única sustentabilidade nesse cultivo é a do capital.

Capital esse que é, e tem se tornado cada dia mais dos principais monopólios imperialistas, que tem visto nos agrocombustíveis um grande nicho. É com isenções de impostos e muitas vezes até com empréstimos do BNDES que grupos imperialistas como Monsanto, Syngenta, Dupont, Dow, Basf e Bayer hegemonizam o mercado com as sementes transgênicas para serem usadas por Bunge, Cargil, Noble Group, ADM e Dreyfus, alguns dos principais conglomerados mundiais que tem adquirido áreas enormes e diversas usinas menores, conquistando terreno importante no disputado mercado dos agrocombustíveis. [10]

Tal produtividade, que chama a atenção de tantos investidores estrangeiros (até o banqueiro George Soros comprou uma Usina em Monte Alegre – MG), só é possível pois se assenta em condições de super-exploração de trabalho que beiram a escravidão. Desde a década de 80, estudos apontam que enquanto duplicou-se a produtividade do trabalhador rural, cortando por dia até 15 toneladas, os salários diminuíram quase pela metade variando em média de 380 a 470 reais.[11] Com condições absurdas, a expectativa de vida de trabalho no corte é de apenas 12 anos. Somente em SP morreram 21 cortadores, em acidentes de trabalho, nos último anos. Em 2007, foram 3131 trabalhadores libertados da escravidão pelo Ministério Público nas Usinas. [12] É esse o agronegócio, que Serra em SP e Lula no Brasil tanto incentivam e sob o qual se apoiarão nas próximas eleições. Um quadro absurdo que a cientista Maria Cristina Gonzaga do Fundacentro define precisamente ao dizer que “ o açúcar e o álcool no Brasil estão banhados de sangue, suor e morte.”

A crise ambiental necessita ser superada

Procuramos, ao longo do texto, tentar descrever com alguns fatos as contradições ambientais que marcam a realidade brasileira, que longe de caminhar para a superação de uma histórica destruição do meio ambiente, que vem desde séculos atrás ocorrendo pelos países imperialistas e posteriormente também pela burguesia nacional, é mantida em ritmo constante sob a gerência de Lula. O capitalismo torna evidente a cada dia que não pode conter a destruição anárquica dos recursos naturais, e que a busca pela rentabilidade vem acima de tudo, seja da biodiversidade de nosso planeta ou da vida de milhões, demonstrando a cada momento novas cenas de uma tragédia anunciada.

Somente a luta pela superação dessa sociedade, a construção da transição socialista encabeçada pelos trabalhadores, poderá por fim as catástrofes e absurdos que marcam nossa história contemporânea por todo o planeta. Será apenas com a superação da propriedade privada, expropriando os monopólios e reorganizando nossa produção e cidades sob o equilíbrio racional entre as necessidades humanas e a conservação da natureza, que poderemos recuperar nossas florestas e garantir vida digna a todos explorados e oprimidos.

SOBRE COPENHAGUE: Reunidos durante 12 dias na Dinamarca, em conferência conhecida como COP-15, governantes de 119 países estiveram longe de chegar a qualquer tipo de acordo que de fato pudesse conter o avanço da destruição anárquica dos recursos naturais e o aquecimento global que o modo de produção capitalista tem gerado e intensificado a cada ano.Sem nenhuma resolução com valor jurídico, o que tivemos foi uma carta genérica propondo reduções não obrigatórias e a criação de um fundo de combate ao aquecimento no valor de 30 bilhões de reais até 2012 e que esse valor se estenda a 100 bilhões até 2020. O documento é um retrocesso em relação ao já tímido e insuficiente Protocolo de Kioto, cujo prazo expira em 2012. Segundo estimativas, seria necessário 1,737 trilhão de reais até 2020(17 vezes mais do que o “possível” fundo ainda não concretizado) para se alcançar os objetivos de médio prazo na luta contra o aquecimento global. Isso é 12 vezes menos do que foi gasto para o salvamento dos bancos e do valor financeiro dos capitais privados e 2/3 dos gastos militares mundiais somente de 2008(2,6 trilhões de reais).[1]

REFERÊNCIAS

1) Riccardo Petrella,” Os Obstáculos no caminho de Copenhague”, LeMonde Brasil. n.29, Dezembro,

2) http://www.mst.org.br/node/8728

3) Carlos Minc e Suzana Kahn, Compartilhar as responsabilidades,LeMonde Brasil. n.29, Dezembro

4) Eleonora Gossman, “Lula traspasa a manos privadas gran parte del Amazonas”, Clarín, 26/06/09.

5)” A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Maranhão (SRTE/MA) encontrou 24 pessoas - incluindo um jovem de 17 anos - em condições análogas à escravidão na Fazenda São Raimundo/São José, pertencente ao prefeito de Codó (MA) José Rolim Filho (PV), conhecido como Zito Rolim.” http://www.mst.org.br/node/8883

6) Silvio Caccia Bava, Ambiguidades e contradições, LeMonde Brasil , n.29, Dezembro.

7) Naiana Oscar, “ONGs vão tentar deter Belo Monte na Justiça”, O Estado de São Paulo, 14/02/2010

8) Ramona Ordoñez e Eliane Oliveira, Agencia O Globo - 10/12/2009

9)Entrevista com Washington Novaes, O Estado de São Paulo, 14/02/2010

10) Maria Aparecida Moraes Silva, Produção de alimentos e agrocombustíveis no contexto da nova divisão mundial do trabalho, Revista Pegada – vol. 9 n.1 80 Outubro/2008.

11) Maria Cristina Fernandes, “O piso salarial do etanol”, Valor Econômico, 09/03/2007

12) http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u392412.shtml

Pró-Memória Negra de Campinas

Por acaso, lendo a matéria de um jornal de grande circulação de Campinas, descobri a existência da "Liga Humanitária de Assistência Afro-brasileira", uma entidade criada em 1915 pelo ferroviário e líder anarquista negro, Armando Gomes - na época a entidade recebeu o nome de "Liga Humanitária dos Homens de Cor". Esta associação tenta hoje se reerguer pela iniciativa do seu bisneto, o jornalista José Luis de Oliveira, que, junto aos demais associados da Liga, estão reformando a sede, localizada na Rua Visconde do Rio Branco, 788, para transforma-la num espaço de lazer e cultura - o espaço foi tombado em 2003 com o objetivo de se criar o Museu da Memória Negra de Campinas.

Campinas foi marcada pela escravidão, pelo poder dos barões do café e o latifúndio. Isso não significa que imperou uma relação pacífica. Estudos recentes vem provando que existiram, mesmo na época da senzala, muitos movimentos de luta do povo negro. Um deles, por exemplo, preparou uma insurreição de escravos na região com a ajuda do alforriado João Barbeiro (o Zumbi de Campinas, como costumam dizer), que na época vivia em São Paulo e foi responsável por organizar o levante e fornecer as armas. Infelizmente, a rebelião foi sufocada pela polícia e os latifundiários com a denúncia do Vigário Padre José Joaquim Gomes em 1823.
Muitos outros exemplos também poderão ser encontrados no período pós-abolição da escravidão, quando vários negros da região de Campinas se organizaram em associações, ligas e entidades civis para promover e defender sua cultura e lutar por seus direitos, como foi o caso da "Liga Humanitária". A história dessas lutas e organizações ainda não foram devidamente contadas/recuperadas, predominando a visão do branco escravocrata! Cabe a nós, lutadores e pesquisadores, recuperá-las como parte de uma reflexão coletiva sobre as nossas ações hoje.

Espero que a sede da Liga Humanitária de Assistência Afro-brasileira seja recuperada, contribuindo para resgatar a história das lutas revolucionárias dos negros e negras, operários e operarias do passado. E para aqueles que tiverem interesse, nos blogs Pró-Memória Negra de Campinas e Pró-Memória do Museu Negro encontramos uma pequena mostra de resistência e memória do povo negro.

(Foto de Armando Gomes, preso em 1920 por difundir durante a greve ferroviária um panfleto que incitava os operários a enfrentar a autoridade policial e a abolir a propriedade privada)

Acesse também: "As origens da questão negra e seu papel em nossa revolução" de Daniel A. Alfonso
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ALGUMAS INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS SOBRE O TEMA:


PIROLA, Ricardo F.. A conspiração escrava de Campinas, 1832: rebelião, etnicidade e família. Unicamp, 2005.

ZAMBELLO, Marcos H. Ferrovia e Memória: estudo sobre o trabalho e a categoria dos antigos ferroviários da Vila Industrial de Campinas. USP, Setembro de 2005. 

As origens da questão negra e seu papel em nossa revolução

por Daniel A. Alfonso





"Todo camburão tem um pouco de navio negreiro"
O Rappa
[Para le-lo na íntegra, clique no link do post]

Projeto - CINEMA E SOCIEDADE

Este projeto "extracurricular" foi elaborado no final de 2010 para ser trabalho durante o ano letivo de 2011. Quem tiver interesse pode aproveitá-lo integral ou parcialmente. Agradeceria se os leitores fizessem comentários sobre este projeto, principalmente se resolverem usa-lo para alguma atividade em suas escolas.
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Projeto: Cinema e Sociedade: a representação do Brasil nas telas: o Grande Sertão


O objetivo principal do projeto “Cinema e Sociedade” é desenvolver entre os muros da escola uma reflexão crítica sobre o cinema e a sociedade brasileira. Para isso, trabalhando com temáticas interdisciplinares, pretendemos desenvolver determinadas competências e habilidades com os alunos participantes do projeto, promovendo a criação de um grupo de estudos, responsável pela manutenção de um blog, assim como da exibição de filmes para a comunidade escolar.
[Para le-lo na íntegra, clique no link do post]

Nova seção no Blog: ENSINO

Estou estreando uma nova seção intitulada "Ensino", em substituição a antiga seção "Cotidiano", que organizava a publicação de algumas reflexões contingenciais acerca da vida cotidiana. Mas, na prática, acabei postando apenas dois pequenos textos, que muito bem poderiam ser enquadrados nas outras seções. A criação de "Ensino" é uma maneira de organizar no Blog as matérias que postei sobre educação, prática de ensino ou atividades escolares, já que as estatísticas do Blog demonstram que esses são os assuntos mais visitado. Neste sentido, pretendemos coloca-los em destaque em nosso Blog, em meio a reflexão sobre a implementação da Sociologia no Ensino Médio.

Livro: "Um enigma chamado Brasil"

Recomendo o livro "Um enigma chamado Brasil", organizado por André Botelho e Lilia Moritz Shwarcz, que saiu recentemente pela Companhia das Letras. Ele é uma coletânea de artigos sobre 29 autores que interpretaram o nosso país, dentre Euclides da Cunha, Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes, Otavio Ianni, Antonio Candido, Roberto Schwarz e muitos outros. É um ótimo livro para quem deseja ter uma visão panorâmica, mas não simplista, sobre o pensamento social brasileiro. Neste post me ausentarei de qualquer crítica a obra, mesmo porque ainda estou no seu início. Pra dizer a verdade, no seu fim, pois comecei pelo último artigo sobre o autor de "Ao vencedor as batatas" (1977). Então, assim que terminá-lo, farei uma resenha do livro.

Por enquanto, uma reflexão: enquanto professores de sociologia no ensino médio, precisamos criticar os livros didáticos de nossa  disciplina que não falam do pensamento social brasileiro, e quando citam o fazem de maneira muito rasa. É necessário levar mais a sério os debates que ocorreram na intelectualidade que pautou como sua preocupação central o nosso país, senão, formaremos gerações e gerações com um pensamento (ou uma visão de Brasil) desterrado em nossa própria terra. Talvez se este debate fosse feito de maneira séria, não teríamos uma gritante ausência sobre a questão negra na maioria destes livros didáticos...

Para quiser ir aprofundando a reflexão sobre os clássicos do pensamento brasileiro, recomendo os artigos do jovem intelectual Daniel Angyalossi na revista Iskra números 1 e 2. Para uma entrevista com este autor, clique aqui.





Filmes sobre educação

Para a discussão sobre educação - em especial, a educação brasileira - há vários filmes interessantes para assistirmos. Neste post, recomendarei apenas dois que utilizarei em minhas aulas. O primeiro, "Pro dia nascer feliz" (2007), é um documentário que problematiza a educação brasileira através de vários relatos de professores e alunos, confrontando diferentes realidades. O segundo, "Entre os muros da escola" (2008), baseado no livro homônimo do francês François Marin, reconstroi a realidade de uma escola pública na França e os diversos conflitos.

A riqueza destes filmes está em sua preocupação por retratar de forma não romântica o tema. Diferente de vários filmes hollywoodianos que seguem aquele velho clichê de um professor, ou diretor, que chega e salva os seus alunos, seja da violência do meio social em que estão inseridos, como em "Escritores da Liberdade" (2007), seja do tradicionalismo e da repressão, como em "Sociedade dos poetas mortos" (1989).

Ficam aí estas sugestões.


"Pro dia nascer feliz" (2007) de Joao Jardim



"Entre os muros da escola" (2008) de Laurent Cantet

Atividade de Socioligia sobre Educação

Título: “ETECAP em foco”



Alunos dos 2os A, B, C, D e E.



Objetivos: utilizar os conhecimentos adquiridos em sociologia (e outras disciplinas) para analisar criticamente a nossa própria escola. Trabalhar com pesquisa quantitativa através de um questionário para um determinado público e analisar o seu resultado. Escrever um trabalho analítico sobre um determinado objeto da realidade, no caso, a escola.


Grupos de 5 a 6 estudantes


Metodologia e Procedimentos:

- Elaborar um questionário para ser aplicado nos primeiros e terceiros anos do Ensino Médio. Cada sala aplicará este questionário nas respectivas salas com a mesma letra que a sua. Por exemplo, os alunos do 2C formularão um questionário para o 1º C e o 3º C. As perguntas serão elaboradas pelos próprios alunos (grupos) com ajuda do professor.

- Analisar os resultados dos questionários a luz das teorias pedagógicas que estudamos em Sociologia (ou outras que os alunos venham a pesquisar).

- Contextualizar nossa escola no universo da educação brasileira e mundial.

- Ensaio Fotográfico


Resultados:

- Dados dos questionários quantificados

- Trabalho escrito e apresentado para a sala

- Blog da sala para publicação dos resultados



Datas:

- 28 e 29/set – Filme: “Pro dia nascer feliz”
- 06 e 07/out – elaboração do questionário
- 26/out – aplicação do questionário
- 27/out – mensuração das respostas do questionário

- 23 e 24/nov – entrega dos trabalhos e apresentação/debate em sala



PS: O blog poderá ser elaborado junto ao professor de SIC, caso ele tenha acordo.


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Para aqueles que tem acesso ao ClickIdeia, há uma atividade proposta por mim em:
http://www.clickideia.com.br/jsp/exibe.action?id=43982

Os meus mortos a serem lembrados neste 11/09 são outros...

Hoje, a grande mídia dedicará seu tempo a reportagens sensacionalistas sobre os ataques ocorridos há 10 anos nos EUA. Mostrarão os números de mortos das Torres Gemeas, os corpos caindo, as famílias perdidas, o heroísmo de algumas pessoas... Tentarão construir a imagem de um Império se reconstruindo dos escombros. Mas o que não mostrarão é que os EUA seguem em queda na sua influencia sobre o mundo, em plena crise econômica... E, sobretudo, neste 11 de setembro, nenhuma televisão ou jornal impresso mostrará o que os EUA fizeram no Chile em 11 de setembro de 1973.

Em 1973 os EUA patrocinavam mais um Golpe de Estado na América Latina, desta vez num país que  passava pela experiencia mais interessante e complexa da esquerda sul-americana, iniciada com a vitória de Salvador Allende para a Presidência da República pela a Unidade Popular (uma aliança entre o Partido Socialista e o Partido Comunista chilenos). Em seu programa de governo, defendia a nacionalização dos setores estratégicos da economia chilena, além de inúmeras outras medidas progressistas e estruturais que, se concretizadas de fato, teriam mudado completamente o Chile.

A nacionalização envolvia os setores abocanhados pelas empresas imperialistas, principalmente norte-americanas. O boicotes aos planos do governo eram feitos interna e externamente. A burguesia se levantou, organizando uma sabotagem geral ao Estado, paralisando a produção de alguns setores e a circulação de boa parte das mercadorias. Os EUA impuseram vários embargos econômicos para pressionar Allende a mudar de rumo.

As respostas a estas ações burguesas vieram da classe operária chilena (e não do governo), que passou a ocupar inúmeras fábricas e a organizar os chamados "Cordões Industriais", uma espécie de conselhos operários que tinham a função de organizar as manifestações, mas também a produção e sua distribuição. Com isso, colocavam de pé um embrião de duplo poder frente ao impotente governo "socialistas". Estava instaurada uma situação de revolução e contra-revolução no Chile.

Como todo processo agudo de luta de classes, a situação seria definida ou a favor dos trabalhadores ou contra eles. Não havia mais perspectivas de conciliações ou convergências. O dramático neste processo, é que a Frente Popular, como toda clássica frente popular, limitou-se a confiar nas instituições do regime burguês e a impedir que a classe operária impusesse uma resposta pelas suas próprias forças. Enquanto uma vanguarda operária pedia armas para Allende, em manifestações públicas por todo país, o governo, com seu ministro da Defesa Augusto Pinochet, permitia que o exercito vistoriasse as fábricas e os bairros operários a procura de armas, que nunca existiram. Já estava em curso a preparação do golpe.

O Golpe de Estado de 11 de setembro de 1973 foi  o mais sangrento de todos os golpes ocorridos na América Latina. Neste dia, o Estadio Nacional do Chile transformou-se numa local de detenção, tortura e assassinato. Segundo relatos, o rio que atravessa a capital Santiago ficou tingido de vermelho. Era o sangue dos operários mortes pelos fascistas.

Mataram o sonho de toda uma geração que escolheu mudar o seu destino rumo a uma sociedade melhor.

Por isso que neste 11 de setembro, lembrarei dos mortes daquele Chile de 1973. Lembrar e continuar lembrando é uma forma de resistência, pois a ordem social que proporcionou aquele golpe terrorista ainda continua viva, pronta para impedir qualquer nova tentativa de revolução.

Recomendo este vídeo do Ken Loach:

Um poema de Brecht para o pós-greve!

Ontem, enquanto voltava da assembléia dos trabalhadores do Centro Paula Souza que decidiu pela suspensão da greve, lembrei-me deste poema de Bertolt Brecht (1898-1956):


Enquanto você estiver vivo, nunca diga: jamais!

O regime vigente não é seguro. Não é imutável.

Quando os opressores falarem, os oprimidos também falarão.

Quem se atreve a dizer: jamais?

De quem é a culpa se a opressão presiste? De nós.

Quem a destruirá? Somos nós.

Você está abatido? Levanta-te!

Você pensa que está perdido? Ao combate!

Você se considera um desgraçado? É o momento de marchar!

Os vencidos de hoje serão os vencedores de amanhã.

E o "jamais" se transforma em: hoje!

(B. Brecht)

Reunião de Professores pela Base

A corrente de Professores Pela Base (Ler-qi e independentes) - Campinas chama para a discussão:


Mobilizações e organização d@s profossora(e)s na luta contra a precarização da educação e do trabalho. Que educação nós queremos?

Nas ultimas décadas os governos estadual e federal vem atacando a educação e precarizando o trabalho dos educadores. Este ano, depois do ensino público ter sido tema de polarização da eleição para governador no ano passado, o governo Alckimin anuncia sua suposta política de valorização salarial para os professores. Entretanto, além de parcelar o reajuste em quatro anos para os professores do estado, os valores não alcançam o valor digno de sobrevivência, e ainda sofreremos com o aumento da inflação que está por vir. Esta é uma estratégia do governo do estado para desmobilizar as categorias concedendo pequenos reajustes que são de nossos direito, e manter a precarização antravés da divisão em subcategorias, retiradas de direitos, imposição de currículos, jornadas de trabalho extenuantes, avalições por mérito e formações precárias. Mas na última semana os professores se levantaram contra a precarização e questionaram o projeto educacional imposto pelos governos. As ETE´s e FATEC´s entraram em greve, os servidores municipais de Campinas também entraram em greve, sendo os professores a categoria mais presente, além disso, 12 estados tiveram as atividades docentes paralizadas e os professores do estado do Maranhão protagonizam uma greve que já perdura mais de 70 dias. Além disso, temos acompanhado mobilizações convulsivas da classe trabalhadora pelos quatro cantos do país, que se colocam na linha de frente contra a precarização e condições de trabalho de semi-escravidão, comos os operários da construção civil das obras do PAC, em Jiráu, Suápe, Santo Antônio, e a mais recente greve de trabalhadora(e)s terceirizad@s da empresa União, que colocaram a USP de ponta cabeça escancarando o caráter de classe da universidade e seu elitismo quando a reitoria permite dentro de um espaço de educação e produção de conhecimento formas de trabalho precário como a terceirização. Em meio à todas essas mobilizações que também ocorrem as eleições da Apeoesp, maior sindicato da Am. Latina, e achamos que este é um momento importante de aprofudarmos no debate sobre a auto-organização dos professores e um programa que golpeie a precarização do trabalho e se coloque em defesa da educação pública e de qualidade.

Nós, professores da corrente Pela Base Campinas, fazemos um convite aos professores da rede estadual de SP, das ETEC´s e FATEC´s, e da rede municipal de Campinas, a debatermos profundamente os ataques dos governos, a precarização do trabalho, por qual educação queremos lutar e como nos organizar.


Dia 21/05 (sáb.), as 15h,
na Casa de Cultura e Política Hermínio Sacchetta
Av. Anchieta, 51, centro de Campinas.



Conheça o nosso blog: http://professorespelabase.blogspot.com/

A praça virou sala de aula

Hoje, segunda-feira, 16 de maio, a greve nas ETECs Conselheiro Antônio Prado e Bento Quirino seguiu o curso iniciado na semana passada. As duas escolas permaneceram sem aulas, imperando a deliberação da nossa categoria: greve! Infelizmente, alguns colegas professores insistiram em seguir furando-a. Os motivos são vários e sempre pessoais (alguns compreensíveis). Mas todos nós corremos o risco de perdas. Porém, ainda acredito que outros virão para o nosso lado (como aconteceu hoje), quando compreenderem que este é um movimento diferente dos anos anteriores, que está ganhando força a cada dia e que dependerá da unidade entre nós para ser vitorioso.

Independente das divisões, a greve se manteve na ETECAP e no Bentão. E os estudantes, melhores organizados que nós professores, saíram às ruas. Ocuparam a avenida Orozimbo Maia e marcharam em direção ao centro da cidade. No meio do caminho se uniram com os estudantes da ETECAP, que desta vez resolveram vir de ônibus. Continuaram marchando até o Largo do Rosário, praça de antigas lutas e manifestações, carregada da história dos negros, no seio do centro campineiro (nela ficava uma Igreja frequentada pelos negros aforriados; suspeita-se que serviu de local para organização de insurretos negros; mas foi derruba após construirem a nova Catedral; porém, essa é uma história para outro post). Já na praça, os 400 estudantes, junto com seus professores e funcionários tecnico-administrativos, abriram um grande círculo humano.

Na praça das antigas lutas fizemos nossa aula pública e aberta para a população. Fomos observados por centenas de pessoas que ali passavam correndo, e inúmeras vezes fomos saudados com seus olhares ou com uma palavra amistosa. Compreendiam aquelas pessoas, que ali estavam jovens e trabalhadores querendo mostrar que nosso movimento tem um objetivo central: lutar por uma melhora na qualidade da educação! Por isso, mesmo em greve, apesar de paralisarmos as aulas, continuamos com aquilo que é primordial em nossas instituições de ensino: a reflexão crítica.

Que constraste com a realidade das salas de aula? Fechadas, abafadas, hostis! Contraste maior foi pensar que, enquanto estávamos ali, em meio ao sol da manhã, alguns de nossos colegas insistiam em amedrontar seus alunos dando-lhes uma prova ou faltas. Pior eram aqueles que seguiam sozinhos para suas salas de aulas vazias. Onde se aprendeu mais nesta manhã? Nas salas de aulas dos que insistem em romper a greve? Ou naquela manifestação política e pedagógica?

Terminamos este singelo ato com uma aula pública sobre a precarização do trabalho. Precarização do trabalho dos professores e tecnico-administrativos. Precarização das futuras profissões daqueles alunos ali sentados. Precarização de nosso futuro! Por isso que nossa luta não tem sua razão apenas no imediato (no aumento salarial), mas em algo mais estratégico: o futuro! Sigamos em frente, companheiros!

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O que saiu na mídia sobre o ato no Largo do Rosário:

Com esta eles não contavam: palhaços inteligentes e conectados

O governo e a superintendencia, com ajuda dos diretores e, infelizmente, alguns professores, tentam descaracterizar nossa greve usando-se da confusão e da contra-informação. Dizem que a greve está pequena e que poucas unidades aderiram a ela. Entretanto, eles cometeram um grande erro ao não entenderem ou menosprezarem o fenômeno que aconteceu no twitter na noite de quinta-feira passada (12/05). Estudantes da ETECAP fizeram um twitaço com a palavra #circopaulasouza e em poucos minutos ela ocupava o primeiro lugar do Twitter do Brasil. No dia seguinte, esta palavra estava estampada em vários cartazes estudantis no ato de São Paulo.

O que nossos oponentes não entenderam ainda é que a internet está sendo usada enquanto instrumento a favor de nossa greve. O governo emite informações erradas para a imprensa (já cansei de dizer que eles mentem ao anunciar que temos uma jornada de trabalho de 40 horas semanais), mas nós encontramos colegas, professores, funcionários ou estudantes, divulgando a luta de suas unidades nos blogs, no Twitter e nas comunidades do Orkut. O picadeiro pode estar armado, mas os palhaços são inteligentes e conectados.

Vou neste post listar os blogs e as comunidades que interessam a nossa mobilização:

Blog do Sindicato (SINTEPS): http://greve-ceeteps-2011.blogspot.com/

Blog dos Alunos da FATEC de Bauru: http://alunosfatecbtu.wordpress.com/

Seguirei postando outros sítios. Quem conhecer algum, por favor, envie no "Comentários".

#centropalhasouza - Desconstruindo as mentiras - 1

#centropalhasouza - Desconstruindo as mentiras - 1

Numa greve como a dos servidores (professores e funcionários tecnico-administrativos) do Centro Paula Souza, a disputa da opinião pública torna-se fundamental. Ela não paralisa nenhuma produção do capital, como é o caso de uma greve no setor industrial, que causa prejuízo direto ao patrão, forçando-o a negociar desde o início com os grevistas para que a mais-valia volte a ser produzida. Nossa greve paralisa o serviço público, atingindo direta ou indiretamente a população que usufrui dele. Portanto, torna-se crucial na nossa mobilização o convencimento da população da justeza de nossas causas.

Não queremos neste artigo descontruir o discurso contrário a greve nos serviços públicos - deixamos para um próximo artigo. Muitos compreendem facilmente que quem vem paralisando o serviço público, com a precarização das estruturas e do trabalho, com as privatizações, são os diversos governos estaduais, municipais e federais. Portanto, a precarização do serviço público (em última instância, a perda do seu sentido público) é uma política consciente de Estado. E cabe a nós demonstrar isso.

O Centro Paula Souza ficou conhecido nacionalmente enquanto uma instituição de ensino médio, técnico e tecnológico de "excelência". Quem não se lembra das propagandas eleitorais do PSDB nas ultimas eleições para o governo estadual e federal? O que teme o governador Alckimin, em sua plena crise partidária e de governo (não nos esqueçamos que o PSDB saiu das eleições dividido e agora seu aliado na capital resolveu criar um novo partido, agariando algumas velhas e novas figuras bizarras para o seu lado), é que a greve dos professores e funcioários do Centro escancare as verdadeiras condições de trabalho desta autarquia. Por isso mesmo, nesta ultima quinta-feira, 12/05, o governador e a Laura Lagná (a nossa autocrática da superintendencia) anunciaram para a imprensa (e não para a categoria ou o sindicato, nosso legítimo representante) um aumento salarial de 11% como parte de uma política de valorização salarial.

O que pretendem com este anúncio: 1) desmobilizar nossa greve, tentando enganar nossa categoria que este aumento basta para cobrir nossas perdas destes ultimos anos; 2) convencer a população que o governo está preocupado com a educação e que os "intransigentes", aqueles que "estão contra a educação de qualidade", que "só querem fazer política contra o governo" (e inúmeros outros argumentos desqualificadores) são os grevistas. Uma pessoa comum, sentada em seu sofá vendo o jornal da noite pensaria: porque uma greve se já receberam o reajuste? 3) esconder as verdadeiras condições de trabalho do Centro Paula Souza.

Mas vejamos a verdade: 1) 11% não cobrem nem mesmo as perdas que tivemos referente a inflação destes ultimos anos, em torno de 82% para os professores e 97 para os funcionários. 2) se o governo estivesse preocupado com uma política de valorização salarial, teria dado este aumento/reajuste há muitos anos atrás. Não estamos diante de um novo governo, que estaria revertendo uma política salarial nefasta de um governo ou governos anteriores. Estamos diante do mesmo governo, do mesmo partido, e da mesma pessoa! 3) o governo tenta nos confundir com seus índices, calculando quanto seria nosso salário numa jornada de 40 horas semanais. Outra mentira, pois nosso contrato não é em torno de uma jornada de trabalho (como acontece aos professores da Secretaria de Educação), mas sobre hora-aula. A maioria não chega a passar de 10 hora-aulas por semana e essa condição de trabalho é outra faceta da precarização, pois exime o Estado de um contrato baseado na estabilidade do servidor público (professor) e de uma jornada que não deveria ser constituída apenas por aulas, mas também preparação destas, estudos, monitorias e pesquisa.

Por isso os estudantes estão certo. Eles acham que somos palhaços, que vamos baixar a cabeça e voltar para o picadeiro? Vamos Usar todas as ferramentas virtuais e reais para divulgar nossa luta!#circopalhasouza neles!

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Para comprovar as informações que listei logo acima, veja a matéria do site do Centro Paula Souza sobre o assunto: http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/Noticias/2011/maio/12_governo-anuncia-reajuste-de-11-para-servidores-do-centro-paula-souza.asp

Os desafios da greve

Os desafios da greve no Centro Paula Souza

A greve no Centro Paula Souza teve início nesta sexta-feira, 13 de maio. Em São Paulo, na sede da Superintendencia, fez-se um importante ato com aproximadamente 500 pessoas, dentre professores, tecnico-administrativos e estudantes das ETECs e FATECs. O ato, que foi um dos maiores desde a fundação do Sindicato (o que indica que entramos na greve com muito fôlego para lutar), poderia ter sido ainda maior se não fosse a distância entre as cidades (o Centro é formado por 247 unidades espalhadas pela capital, litoral e interior) e pelo "ônibus" de Campinas que deixou na mão 40 pessoas (na ultima hora descobrimos que não o teríamos mais). Mas tudo bem, mesmo assim três carros foram lotados representando a ETECAP e o Bento Quirino.

O importante é que neste ato estavam presentes mais de 70 unidades, através de seus representantes, todos dispostos a militar pela greve! Serão estes os responsáveis por manter e ampliar a greve. O sentimento de raiva e indignação da categoria, principalmente depois que o governador Alckimin anunciou um pífio reajuste de 11%, muito abaixo das perdas que tivemos nestes ultimos anos (estamos revindicando 82,735% para os docentes (reajuste + recomposição) e 97,558% (reajuste + recomposição) para os funcionários), está se revertendo em energia para resistir a todas as pressões adversas a nossa mobilização. E estas são muitas!

Hoje, o principal empecilho para o desenvolvimento pleno de nossa greve está no interior de nossa própria categoria. Está no medo por parte de alguns companheiros, pois receiam  perder os seus "benefícios". Está no assédio moral que muitos recebem das direções e coordenações. Está no individualismo. E, principalmente, na falta de esperança de que a greve poderá ser vitoriosa. Um ceticismo que se consolidou nestes ultimos anos em vários setores de trabalhadores fruto da ideologia neoliberal, que exarcebou o individualismo, mas também atacou os intrumentos organizativos (como os sindicatos) e de luta da classe trabalhadora (como as greves, as manifestações de rua, a militancia em si).

O resultado disso é a hegemonia de um pensamento estreito, contingencial, momentaneo, imediato, localista, corporativo... uma mente estreita, com uma visão curta. Não se pensa na greve enquanto um catalisador de inúmeras novas possibilidades (organizativas, pedagógicas e políticas), mas enquanto um instrumento com objetivos pragmáticos, de preferencia que não incomode muito.

Alguns tentam inventar a roda da história, chamam a greve de instrumento arcaico e dizem ter a solução. Mas na verdade, suas críticas aos nossos instrumentos de luta são tão velhas quanto os próprios instrumentos. Esbravejam como se fossem velhos sábios contra os novos empolgados pela greve; mas se esquecem que estes novos estudam a história de luta de nossa classe. E este história nos mostra que nenhuma conquista foi obtida sem luta! E a luta requer assumir riscos e ter coragem!

Contra todo este pensamento típico da condição pós-moderna, resta-nos o debate (o confronto de ideias, a disputa pela verdade, a comparação com as vitórias do presente e do passado) e a própria luta. Não se pode afirmar que isso nos levará a uma vitória no final do processo, pois nele há inúmeras determinates em jogo. Mas se pode afirmar que sem estas lutas (teórica, política e prática), seremos com certeza derrotados!

Para maiores informações sobre o ato do dia 13/05, ver: http://www.sinteps.org.br/news0261.html

RELATO SOBRE A GREVE

RELATO DOS ALUNOS DA FATEC DE BOTUCATU SOBRE O INÍCIO DA GREVE


Ontem 13/05/2011, foram realizadas duas Assembléias na FATEC de Botucatu. A primeira as 10:00 horas da manhã, com participação de professores, funcionários e alunos (os mesmos manifestaram apoio total a causa) mas o clima era de dúvida, pois não sabiamos quantas unidades das fatecs e etecs estavam realmente paradas. Além disso, muita pressão vinha do lado do diretor da faculdade e de alguns coordenadores de curso, que levavam informações disponibilizadas pelo centro paula souza, dizendo que o movimento de greve era praticamente inexistente, mas claramente percebido entre os participantes como tentativa óbvia de manobra política para confundir e tentar dispersar qualquer ação de professores e funcionários em direção a greve.

Os coordenadores que também são professores se manifestaram contrários a greve, alegando que possuem cargo de confiança e podem perder seus empregos por isso. Alguns funcionários também possuem tais cargos de confiança e também foram contra.

Mesmo assim a maior parte dos presentes foi a favor a greve, mas como no periodo da tarde iria ser realizado um manifesto em frente a FATEC São Paulo decidimos por aguardar o fim da manifestação para tomar uma atitude definitiva.

Ficou decidido que até as 17:30 (hora de nova assembléia) a FATEC Botucatu estaria em ESTADO DE GREVE, e ficou claro (registrado em ata e com várias testemunhas) que se 50% + 1 alunos ficassem para fora da sala nenhum aluno seria prejudicado, e todos teriam direito a reposição dessas aulas perdidas.

Sendo assim, após a reunião, no período de aula vespertino (13:00 ás 18:30) os alunos assinaram uma moção de apoio e se negaram a entrar em sala. Deixamos claro que ninguém foi obrigado, todos aderiram de livre e espontanea vontade.

Um coordenador (que possui cargo de confiança e se manifestou contra a greve) afrontou os alunos que não entravam na sala e principalmente os alunos que estavam colhendo as assinaturas, mas nós alunos não nos intimidamos e expomos a situação de que estava claro que o papel deste coordenador era acabar com a resistência pra defender seu cargo com medo que uma greve leve seus superiores a penalizar a unidade.

OS ALUNOS DO PERIODO DA TARDE NÃO ENTRARAM NA AULA POR VONTADE PRÓPRIA.

Então, as 17:30 na Assembléia Geral, após a manifestação pública em

São Paulo, e após contato com o sindicato, ficou decidido que os professores e funcionários da FATEC de Botucatu passaram do ESTADO DE GREVE para definitivamente entrar em GREVE.

No período noturno (19:00 ás 23:00) todos os professores entraram em sala para explicar a causa aos alunos, o que durou aproximadamente meia hora, e lógo em seguida todos os alunos foram embora. Aproveitamos para colher mais assinaturas.

Preciso alertar que todos os diretores de unidades em greve estão fornecendo informações FALSAS para a mídia para confundir e tentar acabar com o movimento.

Quem puder ajudar a divulgar estas informações por favor ajude, espalhe e esclareça: A FATEC BOTUCATU ESTA EM GREVE E APOIA TODAS AS UNIDADES QUE ADERIRAM AO MOVIMENTO.

Estamos procurando alunos de outras unidades para também nos unir e nos organizar nessa manifestação de apoio a nossos professores e funcionários.

Aceitamos todo tipo de apoio.

Atenciosamente,

Alunos da FATEC de Botucatu.

Lançamento de livro na Unicamp

Comentários ao artigo da Carta Capital sobre o Centro

No post anterior publiquei um artigo da revista Carta Capital sobre o Centro Paula Souza. Neste quero enumerar algumas questões importantes que não foram abordadas pelo jornalista Rodrigo Martins. Para isso, reproduzo literalmente o "comentário" que fiz ao final do artigo no site da Carta Capital:
Olá, sou professor de duas ETECs de Campinas e também gostaria de fazer coro com os colegas sobre a importância deste artigo. Depois de tantos anos de propaganda mentirosa por parte do PSDB sobre o Centro Paula Souza, seu instrumento eleitoral, finalmente uma matéria que apontasse para uma discussão séria. Mas, após os elogios, seguirei o caminho de Miranda, pontuando alguns limites desta matéria (pois assim acredito que aprofundaremos na reflexão):
1. Tenho total acordo com a crítica de Miranda. O Centro Paula Souza não é composto apenas de professores, mas também de funcionários tecnico-administrativo. Diria mais, também é composto de funcionários terceirizados, que realizam em cada unidade de trabalho a manutenção, a limpeza, a segurança, etc tão necessária para o funcionamento desta instituição. E a terceirização segue sendo um grande problema para qualquer categoria, pois além de precarizar o trabalho (dando um salario infinitamente menor que o de um funcionário efetivo que realiza a mesma tarefa), nos divide entre efetivos (ou indeterminados) e terceirizados.
2. O artigo não leva em consideração que o Centro Paula Souza é uma autarquia do estado de SP que funciona de forma completamente antidemocrática. Seus cargos de direção são ocupados sem que haja critério algum na sua seleção (apenas o apadrinhamento), muito menos eleição. Discute-se tanto a meritocracia, a avaliação dos professores e funcionário, mas pergunto: quem avalia a superintendente Laura Laganá (que não teve coragem de responder as perguntas desta reportagem)? Os professores e funcionários passaram num concurso público, concorrido, para ocuparem o cargo que ocupam hoje. E aqueles que estão hoje na Superintendencia foram aprovados em que processo?
3. o artigo também não associou dois fatos que ocorreram simultaneamente. Nestes ultimos anos não recebemos nenhum aumento salarial. E também neste período o Centro teve a sua maior ampliação de vagas e de unidades da história (com várias unidades fictícias – as extensões). Conclusão: a ampliação do Centro ocorreu sob a base do arrocho salarial dos professores! Objetivo: garantir a manutenção do PSDB no poder do estado de SP.
Por enquanto, acho que estes são os pontos fundamentais que faltaram no artigo. Mas, como eu disse, ele tem o seu mérito por ter sido o primeiro a questionar a “inquestionável” política do governo de SP para as escolas e faculdades técnicas. Valeu pelo artigo!
Nos próximos dias seguirei postando artigos e comentários sobre o Centro Paula Souza, pois estamos em momento de reflexão e de luta. Em várias unidades já aprovamos greve por tempo indeterminado a partir do dia 13/05.

Interessante matéria de Carta Capital sobre Centro Paula Souza

A “meritocracia” do ensino paulista

Escrito por: Rodrigo Martins



Sem reajuste salarial desde 2005 e descontentes com os critérios usados para o pagamento da chamada “bonificação por resultados”, professores das escolas técnicas (Etecs) e faculdades de tecnologia (Fatecs) do estado de São Paulo ameaçam entrar em greve a partir de maio. De acordo com Silvia Elena de Lima, secretária-geral do Sinteps, o sindicato da categoria, a proposta tem sido debatida em assembleias regionais nas mais de 200 unidades da rede. Caso seja aprovada, a paralisação começaria em 13 de maio.

Nossa última greve, em 2004, durou 80 dias. Foi graças a ela que conseguimos reajuste no ano seguinte”, avalia. “De lá para cá, o governo tem usado a bonificação como desculpa para não mexer nos salários. Só que os critérios desse bônus são confusos e punem o professor por aspectos que não dependem dele.”

Entre 2000 e 2006, o governo paulista oferecia o chamado “bônus mérito” para estimular a atividade docente. O pagamento premiava, na verdade, professores assíduos, com mais tempo de casa e bem avaliados pelos gestores das escolas. A partir de 2007, o sistema foi substituído pela bonificação por resultados, que passou a agregar critérios de produtividade, como a aprovação dos alunos e a evasão escolar. Além disso, criou-se o Sistema de Avaliação Institucional, no qual alunos, professores e funcionários respondem a um extenso questionário para avaliar a qualidade de ensino e as condições de infraestrutura das unidades.

O governo tem todo o interesse de que o número de formandos seja o maior possível, porque a repetência gera mais gastos para o sistema”, afirma Antonio Pereira Afonso, diretor interino da Etec Getúlio Vargas, na zona sul de São Paulo. “Por trás dessa política de bonificação, há, porém, uma estratégia de ‘forçação de barra’, de aprovar aluno a qualquer custo, mesmo que ele não tenha desempenho satisfatório. Além disso, a evasão escolar e o déficit de aprendizagem não dependem apenas do docente. Normalmente estão associados a outros fatores externos à escola, como problemas familiares ou necessidade de trabalhar.”

Em 2011, os professores da Etec Getúlio Vargas tiveram um bônus de 2,4 salários, índice muito superior ao oferecido nos últimos dois anos, quando os docentes receberam menos de um salário a título de bonificação. O que mudou? “De fato, podem ter -contribuído os mutirões feitos por professores na tentativa de recuperar alunos irrecuperáveis. Mas, na prática, isso também se deve ao acaso. Menos alunos desistiram dos cursos”, avalia Afonso.

Doralice de Souza Balan, diretora da Fatec de Bragança Paulista, uma das oito faculdades de tecnologia que não receberão bônus em 2011, critica a falta de critérios claros no pagamento do benefício. “Desde fevereiro, requisitamos informações ao Centro Paula Souza (órgão estatal responsável pela administração das escolas técnicas e Fatecs) para saber exatamente a meta que precisávamos cumprir, mas ainda não recebemos resposta”, afirma. “Estamos no limbo, sem saber no que erramos, se é que erramos. Um dos pontos avaliados é a infraestrutura da escola, mas isso é de responsabilidade exclusiva do governo. Como a unidade é nova, compartilhamos o prédio de uma escola municipal até o nosso ficar pronto. É evidente que há insatisfação com as instalações inadequadas, mas quem resolveu expandir a rede antes de oferecer todas as condições não foram os professores.”

Do quadro de 22 docentes da Fatec São Sebastião, no litoral norte, três abandonaram a instituição no último ano para lecionar em escolas privadas ou universidades federais. “O plano de carreira deles é mais vantajoso e os salários, melhores”, explica Balan.

O coro dos descontentes é engrossado por Silvana dos Santos de Marchi, diretora acadêmica da Fatec São Sebastião, criada em 2009. “Dividimos espaço com uma escola técnica. Faltam laboratórios, biblioteca, os banheiros estão superlotados. Mas essa é uma situação excepcional, até o prédio da faculdade ficar pronto”, lamenta. “O que deveria incentivar o professor está se tornando um fator de desestímulo. É injusto o docente não receber bônus por causa da infraestrutura, porque houve pouca aprovação ou muitos alunos desistiram do curso. Isso é normal em qualquer faculdade.”

A gestora também critica a falta de comunicação da administração central com as unidades de ensino. “O Centro Paula Souza divulgou as metas de cada escola ou faculdade um dia antes de o governo estadual publicar, no Diário Oficial, os índices de bonificação para cada instituição. É uma aberração. Quando é traçado um objetivo, o razoável é que todos saibam o que é e tenham um ano para tentar alcançá-lo.”

Diversos professores ouvidos por CartaCapital criticaram ainda o baixo valor do vale-refeição (4 reais por dia) e dos descontos da bonificação por faltas justificáveis, como licenças médicas e a chamada “licença-prêmio”, na qual o profissional é recompensado por não faltar nenhuma vez durante cinco anos. “No ano passado, tive de ficar afastado da escola por quatro meses em razão de uma cirurgia no joelho. E, neste ano, só pude receber dois terços da bonificação”, afirma Afonso, da Etec Getúlio Vargas, que lecionava disciplinas de eletroeletrônica antes de assumir a direção da escola.

Procurada por CartaCapital, a superintendente do Centro Paula Souza, Laura Laganá, alegou problemas na agenda ao recusar o pedido de entrevista. Por meio de nota, a assessoria de imprensa da instituição disse que “está em elaboração um novo Plano de Cargos e Salários para valorizar o salário dos professores”. As alterações de valores dependem, no entanto, de previsão orçamentária e aprovação na Assembleia Legislativa. Além disso, a nota informa que os parlamentares aprovaram, em 2008, um novo plano de carreira com reajuste médio de 49% no valor da hora-aula paga aos professores.

Especialista em avaliação, Luiz Carlos de Freitas, professor de Educação da Unicamp, contesta a própria existência da bonificação na educação pública. “Os reformadores empresariais acreditam que a educação é uma atividade como qualquer outra, passível de ser administrada pelos critérios da iniciativa privada. Ocorre que, no mercado, há ganhadores e perdedores, e os ganhadores não têm de se preocupar com os perdedores”, afirma. “No sistema de bônus, os testes ganham relevância extraordinária e acabam por corromper o processo social que tentam monitorar. Recentemente, Beverly Hall, superintendente do sistema educacional de Atlanta, na Geórgia (EUA), foi demitida após uma investigação que identificou fraude na avaliação de 58 escolas públicas. Em Nova York, John Klein deixou o cargo de superintendente, em junho de 2010, quando se descobriu que as altas notas que os alunos tiravam nas escolas estavam infladas. A escola não é uma pequena empresa.”

Jakob Von Gunten

JAKOB VON GUNTEN: um diário Robert Walser

"Na verdade, nós, discípulos ou pupilos, temos muito pouco que fazer, quase não nos dão tarefa nenhuma. Aprendemos de cor as regras que aqui vigem. Ou lemos o livro O que pretende a Escola Benjamenta para rapazes. Kraus, além disso, estuda francês por conta própria, porque línguas estrangeiras ou matérias semelhantes não integram nosso currículo. Temos uma única sala, que se repete sem cessar: "Como deve se comportar um rapaz". No fundo, nossa aula gira dessa única questão. Conhecimentos, não nos transmitem. Como já disse, faltam professores, isto é, senhores educadores e professores estão ou dormindo ou mortos; ou parecem estar mortos, ou petrificados - tanto faz, o fato é que não nos ensinam coisa nenhuma. Em lugar dos professores, que, por alguma razão singular, de fato parecem mortos ou cochilam, ensina-nos e nos governa uma jovem dama, a srta. Lisa Benjamenta, irmã do senhor diretor do instituto (...)" - Jakob Von Gunten: um diário de Robert Walser.

Grande ato contra os 47 anos do golpe reúne mais de 250 em São Paulo

“SIMBOLICAMENTE, COMEÇOU A HORA DE NÃO ESQUECER”


Grande ato contra os 47 anos do golpe reúne mais de 250 em São Paulo


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Fonte: http://www.ler-qi.org/spip.php?article2865

Na última sexta-feira, 1º de abril, o auditório da sede da APEOESP estava lotado. Com a presença de mais de 250 pessoas, realizou-se um comovente ato organizado pela LER-QI que teve como objetivo fundar uma nova tradição na esquerda, para colocar na ordem do dia a luta contra o golpe militar de 1964, contra a impunidade, pela abertura dos arquivos da ditadura e julgamento e punição de todos os torturadores e envolvidos, civis e militares, nos crimes da ditadura.

Com coordenação de Márcio Bárbio, professor da rede estadual e militante da LER-QI, a mesa foi composta pelo sociólogo e professor aposentado da USP Francisco (Chico) de Oliveira, Criméia de Almeida, sobrevivente da guerrilha do Araguaia e presa política durante a ditadura militar; Claudionor Brandão, demitido político da USP, diretor do Sintusp e militante da LER-QI e Gilson Dantas, médico, sociólogo, preso político durante a ditadura e militante da LER-QI.


Márcio Bárbio abriu o ato saudando a presença de toda a juventude e de todos os trabalhadores ali presentes, ressaltando tratar-se de um dia importante para dar passos adiante na necessária luta contra a impunidade, além de pedir uma salva de palmas em homenagem às lutas dos operários da construção civil que ocorrem nas obras do PAC que foi reprimida e teve a morte de três operários. Explicou aos presentes que foi convidado oficialmente junto à direção do PSTU do Rio de Janeiro que enviasse um representante dos 13 presos políticos do ato contra Obama que foi reprimido pela polícia do governador Cabral, para que pudéssemos aproveitar essa atividade e dar passos numa campanha nacional pela retirada de todos os processos que pesam sobre esses companheiros. Infelizmente não pudemos contar com nenhum companheiro visto que apesar de terem sido liberados da prisão estão impedidos de sair da cidade, ou seja, estão sitiados pelo governo Cabral e a justiça burguesa.

Tomaram a palavra para saudar o ato e expor suas opiniões o jornalista e escritor Celso Lungaretti, ex-preso político militante de direitos humanos; Miltão, do Movimento Negro Unificado; e Érico, da Liga Comunista. Dentre os presentes foram saudados o Professor Antônio Rago, da PUC-SP e da Fundação Santo André; a companheira Zezé, do Núcleo de Consciência Negra da USP, uma delegação de trabalhadores e trabalhadoras da USP e os diretores do Sintusp Marcelo Pablito, Diana Assunção e André Pansarini. O professor emérito João Adolfo Hansen, da USP, enviou desde a Califórnia uma saudação ao ato. Foi lida a saudação da Apropuc (Associação de Professores da PUC-SP) enviada pela professora Maria Beatriz Abramides, presidente da entidade. O ato também foi saudado por Heloísa Greco, do Instituto Helena Greco, de Belo Horizonte, Minas Gerais. Da Argentina, recebemos um vídeo com as combativas saudações de Elia Espen, das Mães da Praça de Maio, linha Fundadra, e de Victoria Moyano, filha de desaparecidos, integrante do Ceprodh e militante do PTS (Partido dos Trabalhadores Socialistas).

Criméia Almeida iniciou as falas da mesa, aplaudida de pé pelo auditório, dizendo:“Parabenizo a promoção deste ato, e gostaria de pedir a vocês que continuassem a nossa luta, que é a luta pelo resgate da memória das vítimas desse país”. Também disse que “Se queremos liberdade, se queremos direitos, nós temos que se unir nessa luta pela abertura dos arquivos da ditadura”. Em seguida, o professor Chico de Oliveira afirmou que “Há 47 anos nós esquecemos a ditadura. A maior vitória da ditadura é este esquecimento. Este ato é muito importante porque ele está representando e dizendo que os derrotados não esquecerão. Quando os derrotados não esquecem, a coisa começa a girar. A derrota começa a mudar de lado. Este ato tem essa importância, que é sair do esquecimento, sair da sombra”. O professor encerrou sua fala dizendo: “Este é um ato simples, e o nosso público embora agradevelmente numeroso para um ato desse precisa ser muito mais, mas ele diz mais do que os que estão aqui. Ele diz que simbolicamente, começou a hora de não esquecer. Minha saudação aos companheiros da Liga pelo valor de sair da inércia e propor esse debate à sociedade brasileira. É disso que se trata se quisermos um dia poder com autonomia de classe contemplar o horizonte do socialismo”. Ambos expressaram seus pontos de vista sobre toda a temática do ato, que em breve estará na íntegra em nosso site. O auditório lotado, tendo à frente a juventude da LER-QI com uma importante delegação de estudantes e jovens trabalhadores de Franca, Marília, Rio Claro, Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Santo André respondeu combativamente: “Não esquecemos a ditadura, assassinatos e tortura!”.

Claudionor Brandão, ressaltou a ligação entre os tempos sombrios da ditadura e os resquícios desta forma ditatorial que sobrevivem até hoje, seja nos massacres à população pobre, seja na repressão policial às greves, nas ocupações militares nas favelas, ou na recente prisão de 13 manifestantes durante um ato contra a vinda de Barack Obama ao Brasil. Também denunciou a onda repressiva nas universidades estaduais paulistas, tendo ele como um dos principais perseguidos com sua demissão política pelo governo José Serra em 2008. Rafael Borges, pela juventude da LER-QI, chamou uma salva de palmas ao nosso camarada Polo Denaday, militante do PTS e jovem advogado do sindicato dos ceramistas de Neuquen e de direitos humanos que faleceu no último mês, e em seguida fez um entusiasmado chamado a todos os jovens que estavam naquele momento lutando contra a impunidade da ditadura passassem também a fazer parte de uma juventude revolucionária que luta pelos direitos democráticos, pela aliança operário-estudantil, contra o individualismo e a resignação da juventude, por uma verdadeira perspectiva revolucionária. Foi seguido pelos cantos combativos da juventude, que dizia "Pra acabar com a impunidade e punir torturador, abertura dos arquivos do regime repressor. U-NI-DA-DE, Unidade operário-estudantil, resgatando a memória nesse primeiro de abril".

Encerrando o ato falou Gilson Dantas, militante trotskista desde os anos 1960, num momento de auge do ato contra o golpe militar. Começou dizendo: “O que vou falar eu não li em livros de história. Nós que passamos por esse corredor polonês que foi a ditadura brasileira, falamos e sentimos ao mesmo tempo. Por isso vou me basear na história de um operário que viveu a ditadura e morreu nela, ele vai ser uma espécie de lembrete pregado no coração de cada um, porém escrito a sangue. É o operário Olavo Hansen, químico, que morreu em 1970.” Gilson resgatou a história de Olavo Hansen, militante trotskista na luta contra a ditadura, pela organização dos trabalhadores, para demonstrar que também na luta contra a ditadura havia distintas estratégias. “A estratégia mais brilhante que apareceu nesse país, era a estratégia proletária, organizando a classe trabalhadora, os aliados pobres, os camponeses, todos os oprimidos, negros, organizando um bloco com a classe operária como caudilho para colocar a ordem abaixo”.



Para explicar a história de Hansen, Gilson demonstrou como depois de assassinado pela ditadura seu ideal seguia vivo. “A primeira morte de Olavo Hansen foi física, morreu lutando e sonhando. Eu fui preso distribuindo panfletos contra a morte de Olavo Hansen. Quando a classe operária levanta a cabeça nas greves que Lula vai liderar, eis que Olavo Hansen se põe em movimento. Aí novamente ele morre, desta vez simbolicamente. Porque a classe se levanta, mostra potencial, uma transição pra outra coisa, com a sua cara, que não fosse costurada com a elite militar, buscando derrubar a ditadura com métodos proletários, mas nesse momento eis que costura-se um acordo por cima pra fazer uma transição pactuada onde o torturador vai ser igualado ao torturado, através da lei da anistia.”

O ato encerra-se com Gilson Dantas dizendo: “Este sistema policial não foi destruído, ainda que se avance na democracia formal. Eu encerro dizendo que é importante este ato amplo, mas vai ter ainda mais cor e brilho na medida que conseguirmos organizar nos locais de trabalho, em fábricas, na aliança estudantil e operária, um movimento que tenha o poder de fazer tremer esta maquina policial e este estado terrorista que está de pé.”

Marcio Barbio encerrou o ato chamando todos os presentes a se colocarem de pé para gritarem juntos: Companheiros e companherias presos, torturados, mortos e desaparecidos, presente! Este ato, infelizmente, foi o único organizado pela esquerda, mas desde a mesa até o plenário se expressou o propósito de que seja o início de um movimento nacional contra a impunidade, pela abertura dos arquivos da ditadura, apuração, julgamento e castigo para todos os torturadores, mandantes, financiadores e apoiadores dos crimes da ditadura. A LER-QI e sua juventude se colocam nesta perspectiva para ser parte de um grande movimento para cumprir essa tarefa histórica. Por que não esquecemos, seguimos combatendo a ditadura!


LEIA TAMBÉM: Olavo, Eremias, Juarez e os outros mártires nos legaram uma missão (Artigo de Celso Lungaretti sobre o ato contra o golpe militar de 1964)

SAUDAÇÕES AO ATO

Heloisa Greco (Bizoca) do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania – Belo Horizonte, Minas Gerais

No quadragésimo sétimo aniversário do golpe militar não há como não repetir o óbvio: o Estado brasileiro continua detendo giganteso arsenal para o exercício da violência, acumulado em processo histórico de longa duração. Temos no prontuário mais de trezentos e cinqüenta anos de escravidão e mais de quinhentos anos de opressão aos povos originários, hoje em fase final de extermínio. Tivemos ainda vinte e um anos de ditadura militar sangrenta, que veio para consolidar o terrorismo de Estado. O aparelho repressivo ubíquo e tentacular então montado segue operando sob a égide da violência explícita: o Estado Penal vigente é o sucedâneo do Estado de Segurança nacional dele sendo tributário. É este o terrível legado da ditadura militar, a qual não fabricou, mas institucionalizou a tortura transformando-a em política de Estado. Institucionalizou também a cultura do sigilo, a estratégia do esquecimento, a mentira organizada e a destruição continuada do espaço público. Tal legado não foi sequer equacionado, como mostram as seguintes evidências: a permanência da tortura enquanto instituição consolidada; a guerra generalizada contra os pobres; a interdição do dissenso e a criminalização dos movimentos sociais; a questão dos mortos e desaparecidos políticos; a impunidade – e, mesmo, a inimputabilidade - dos torturadores e assassinos de presos políticos e daqueles que cometem os mesmos crimes nos dias de hoje; a proibição do acesso aos arquivos da repressão. Ainda não conquistamos o direito à verdade, ao passado, à história e à memória enquanto dimensão básica de cidadania, o que passa necessariamente pela construção de uma Comissão de Verdade e Justiça independente e popular. Estas evidências constituem exemplo expressivo da sobrevivência da ditadura militar no pessimamente chamado Estado democrático de Direito. Esta situação de barbárie é potencializada pelo racismo sistêmico, em pleno vigor nas esferas militar, policial, judiciária e carcerária, exatamente aquelas que compõem a também mal chamada Segurança Púbica. A manifestação escabrosa desta situação é a generalização da guerra contra os negros e os pobres, o que leva à poliítica de encarceramento em massa e ao extermínio sistemático da população jovem e negra - trata-se de genocídio sistêmico, chamemos as coisas pelo próprio nome. Concluo saudando a iniciativa das companheiras e companheiros da LER-QI e reiterando que para nós, do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania o combate a esta situação de barbárie é necessária e ontologicamente uma luta contra-hegemônica. Entendemos que a luta pelos direitos humanos só pode ser travada na perspectiva classista da construção de mecanismos de contrapoder, contradiscurso e contramemória. A sua essência é o princípio da radicalidade. Como nos versos do nosso grande Carlos Drummond de Andrade: Do lado esquerdo carrego todos os meus mortos, Por isso caminho um pouco de banda. Saudações libertárias, um abraço fraterno para todas e todos, Heloisa Greco/ Bizoca (p/ Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania / IHG). Belo Horizonte, 1 de abril de 2011

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Maria Beatriz Abramides, presidente da APROPUC


A APROPUC-Associação dos Professores da PUC-SP vem saudar a iniciativa da LER-QI na realização deste importante debate, bem como a tod@s que estão presentes, debatedores e participantes deste ATO CONTRA O GOLPE MILITAR DE de 1964 e que repudia os 47 anos de impunidade contra os crimes da ditadura neste país. Nós militantes, trabalhadores, estudantes devemos continuar combatendo a ditadura o que significa lutar pelo fim do pacto da anistia de 1979, pelo fim dos pactos institucionais que "em nome da verdade" só a escondem. Lutar pelo fim da impunidade pressupõe a exigência de que todos os documentos do período da ditadura militar sejam abertos e os torturadores sejam denunciados e punidos. Neste momento prestemos uma homenagem a tod@s os lutadores que foram mortos pela ditadura militar e aos que sobreviveram e continuam aqui na luta pelo direito à memória e a verdade e por uma sociedade socialista, emancipada. Professora Bia Abramides, pela APROPUC.